teologia para leigos

22 de julho de 2014

SACRAMENTOS & ÉTICA [TAMAYO]

ÉTICA e CULTO






Culto e existência cristã

A dissociação entre ética e sacramentos não é conatural nem à ética nem aos sacramentos. Por isso, mesmo que tal dissociação seja real, ela é superável. Donde, não seja necessário renunciar a nenhuma das duas dimensões da experiência religiosa. Uma religião sem culto seria pouco expressiva e seria carente de dinamismo. Uma religião sem referência ética cairia no formalismo. Ética e sacramentos são dois momentos necessários à experiência religiosa, também à religião cristã. Ética e sacramentos encontram-se em permanente tensão, remetendo-se um aos outros e vice-versa. Contudo, a referência entre si não é de mera complacência mútua, mas de correcção e vigilância.

A memória cultual do Êxodo tem que estar em sintonia com uma experiência de libertação histórica, se não, fica-se apenas por uma ritualidade vazia. A memória sacramental da morte e ressurreição de Cristo requer, além da sua celebração festiva, a sua verificação na prática. A experiência sacramental tem de articular o culto com a vida, conformando uma unidade diferenciada com base nas seguintes características, ou semelhante a elas:

− estar solidamente enraizada na interioridade da pessoa;

− viver o encontro pessoal com Deus;

celebrar comunitariamente e de forma visível o mistério da salvação;

− ser subversiva diante da injustiça;

− mostrar-se solidária com o sofrimento alheio;

− e defender a vida dos pobres.


Nos sacramentos, atitude interior e prática exterior têm que se corresponder. As loas verbais tornam-se vazias quando o coração está longe de Deus (Is 29:13, citado por Mc 7:6-7; Mt 15:8-9). O amor a Deus é retórica quando não vai acompanhado do amor ao próximo.


OBJECTIVOS DESTE TRABALHO DE GRUPO


1.   Analisar os dois pólos das diferentes religiões: sacerdócio e profetismo;
2.   Mostrar o carácter ético e histórico da religião judaico-cristã e situar o culto de tal religião não na perspectiva da natureza, mas no horizonte da história;
3.   Considerar o culto como memorial histórico-profético, reabilitando, assim, a sua memória subversiva;
4.   Aprofundar a crítica severa dos profetas à religião e às suas principais manifestações: lugares sagrados (templos), tempos sagrados (festividades), acções sagradas (sacrifícios), pessoas sagradas (sacerdotes);
5.   Descobrir a originalidade da experiência religiosa de Jesus, centrada na relação filial com Deus;
6.   Descobrir, por conseguinte, a originalidade do culto cristão, que se caracteriza pelo perdão, pela misericórdia e pela mesa partilhada com os pobres, tudo isto inseparável da ética.


Juan José Tamayo-Acosta
«Hacia la comunidad – 3. Los sacramentos, liturgia del prójimo», Trotta 22003.


[pp. 19]