ÉTICA e CULTO
Culto
e existência cristã
A
dissociação entre ética e sacramentos não
é conatural nem à ética nem aos sacramentos. Por isso, mesmo que tal
dissociação seja real, ela é superável. Donde, não seja necessário renunciar a
nenhuma das duas dimensões da experiência religiosa. Uma religião sem culto
seria pouco expressiva e seria carente de dinamismo. Uma religião sem
referência ética cairia no formalismo. Ética e sacramentos são dois momentos
necessários à experiência religiosa, também à religião cristã. Ética e
sacramentos encontram-se em permanente tensão, remetendo-se um aos
outros e vice-versa. Contudo, a referência entre si não é de mera complacência mútua,
mas de correcção
e vigilância.
A
memória cultual do Êxodo tem que estar em sintonia com uma experiência de
libertação histórica, se não, fica-se apenas por uma ritualidade vazia. A memória
sacramental da morte e ressurreição de Cristo requer, além da sua celebração
festiva, a sua verificação
na prática. A experiência sacramental tem de articular o culto com a
vida, conformando uma unidade diferenciada com base nas seguintes
características, ou semelhante a elas:
−
estar solidamente enraizada na interioridade da pessoa;
−
viver o encontro
pessoal com Deus;
−
celebrar
comunitariamente e de forma visível o mistério da salvação;
−
ser subversiva
diante da injustiça;
−
mostrar-se solidária
com o sofrimento alheio;
−
e defender
a vida dos pobres.
Nos
sacramentos, atitude
interior e prática exterior têm que se corresponder. As loas verbais
tornam-se vazias quando o coração está longe de Deus (Is 29:13, citado por Mc
7:6-7; Mt 15:8-9). O amor a Deus é retórica quando não vai acompanhado do amor
ao próximo.
OBJECTIVOS DESTE
TRABALHO DE GRUPO
1.
Analisar
os dois
pólos das diferentes religiões: sacerdócio e profetismo;
2.
Mostrar
o carácter ético e histórico da religião
judaico-cristã e situar o culto de tal religião não na perspectiva da natureza,
mas no horizonte da história;
3.
Considerar
o culto como memorial histórico-profético,
reabilitando, assim, a sua memória
subversiva;
4.
Aprofundar
a crítica severa dos profetas à religião e
às suas principais manifestações: lugares sagrados (templos), tempos sagrados
(festividades), acções sagradas (sacrifícios), pessoas sagradas (sacerdotes);
5.
Descobrir
a originalidade da experiência religiosa de Jesus,
centrada na relação filial com Deus;
6.
Descobrir,
por conseguinte, a originalidade do culto cristão,
que se caracteriza pelo perdão, pela misericórdia e pela mesa partilhada com os
pobres, tudo isto inseparável da ética.
Juan José Tamayo-Acosta
«Hacia la comunidad – 3. Los sacramentos,
liturgia del prójimo»,
Trotta 22003.
[pp. 19]