teologia para leigos

17 de julho de 2014

O RITUAL CRISTÃO [TAMAYO]

Culto «em espírito e em verdade»






O cristianismo histórico não é alheio aos ritos; os ritos constituem uma das suas mais notórias manifestações. Mas, terá sido sempre assim? Desde os começos que os cristãos e as cristãs celebravam ritos, ainda que não como continuidade dos ritos judaicos ou como prolongamento da ritualidade pagã da época, mas com traços muito peculiares. É o caso do baptismo e da eucaristia. (…)

Uma questão inevitável, quando tratamos da eficácia dos sacramentos, é o ex opere operato. Com esta expressão pretende-se indicar que os sacramentos conferem a Graça em razão da obra realizada ou operada. Assim o reconhece o concílio de Trento e assim continua a ser definido como doutrina católica ainda hoje. Foi esta ideia que deu azo a que se relacionasse, frequentemente, a eficácia sacramental com a eficácia dos rituais mágicos e levou a associar os sacramentos à magia[1].

O sacerdote associa-se a um mago. Uma das funções a ele cometida é a correcta execução das acções sacramentais. É, precisamente, da pessoa do sacerdote e da correcta execução dos ritos que se faz depender a consecução dos resultados esperados[2].

Melhor do que mil explicações, um exemplo. Para que a acção ritual-eucarística seja eficaz deve ser realizada por um varão ordenado sacerdote. Se uma mulher ou um varão não ordenado sacerdote realiza impecavelmente todas as cerimónias da eucaristia e pronuncia com plena convicção e devoção as palavras da consagração eucarística «isto é o meu corpo», «este é o meu sangue», a acção ritual carece de efeito.

A centralidade do celebrante nos sacramentos foi defendida no século III por S. Cipriano, que era partidário da repetição do baptismo, caso ele fosse administrado por ministros que tivessem abraçado a heresia.

Porém, esta concepção foi minoritária e não conseguiu impor-se posteriormente. A posição que conseguiu converter-se em posição oficial foi a de Santo Agostinho, que relativizava a importância do sacerdote e centrava a sua atenção na obra de Cristo e na aceitação de tal obra por parte da pessoa crente.

Hoje, coloca-se o acento no protagonismo da comunidade cristã. O ministro «só tem sentido na medida em que actue ao serviço da comunidade eclesial», diz J.-M. Tillard. É a comunidade «quem, através da mediação do ministro, celebra o sacramento». Mais: «a intenção do ministro está como que comandada e trespassada pela intenção da assembleia»[3].

Juan José Tamayo-Acosta

Teólogo e Filósofo, diplomado em Ciências Sociais, secretário geral da “Asociación de Teólogos «Juan XXIII»”, membro da Associação Europeia de Teólogos, professor do Instituto Universitário de Teologia e da Escola Bíblica, professor convidado do Mount Saint Mary College (Los Angeles).


[pp. 6]




Excommunication of Dr Martha Heizer





religião-pessoas consagradas-lugares sagrados-objectos consagrados-sacrifícios religiosos-sacerdotes-poder-bodes expiatórios-puro-impuro-permitido-proibido- etc etc etc

 

Ordenação de "bispas" na Igreja Anglicana

cria obstáculos ao ecumenismo

- dizem bispos católicos


Mulheres passarão a poder ser bispas na Igreja Anglicana


Posible cisma en la Iglesia Anglicana


Lei canónica acolhe anglicanos em Roma

Anglicanos regressam à Igreja católica – I Parte

Anglicanos regressam à Igreja católica – II Parte



«CONVÉM QUE HAJA HERESIAS»
[S. Paulo]


«Convém que haja heresias» - Isto o afirmava Paulo aos coríntios (1 Cor 11:19), convencido de que as divisões podem enriquecer e acrisolar os espíritos robustos. (...)

A expressão, na Carta de Paulo, começa por querer dizer "diversidade de opiniões", e Paulo louva essa diversidade, reconhecendo que as opiniões são diversas porque são «parciais». Porém, parciais não no sentido de injustas, mas de fragmentares ou não-totais; «parciais» não por oposição a «imparciais», mas opostas a «totais»: «parcialidade» seria uma boa tradução da palavra grega airesis, da qual derivou a nossa palavra «heresia».

Esta parcialidade, e a consequente diversidade de opiniões, pode ser boa, porque, se nos confrontarmos com ela, ela nos enriquece, e porque nos ajuda a compreender que todos somos parciais e que ninguém abarca a totalidade, por mais que julguemos o contrário. Neste sentido, a pluralidade é dura, por vezes muito dura, porém é uma grande fonte de enriquecimento: pelo quanto nos traz de novo e pelo que nos obriga a ser. Nesse sentido, (…) convém que haja pluralidade no cristianismo. [J. I. González Faus, «Herejías del catolicismo actual», Introdução]

Talvez por isso comecemos, agora, a compreender por que é que H. Mühlen definiu o Espírito Santo como «experiência social de Deus». Tal como na vida trinitária de Deus, é do Espírito (que une ao Pai e ao Logos) que faz com que o Deus-uno (e único) seja experienciado a si mesmo como pluripessoal (digamo-lo assim, apesar de todas as imperfeições inerentes ao nosso linguajar), assim também nos seres humanos – imagens de Deus – o Espírito possibilita a experiência de plena unidade de ânimos (un-animidade). Para a Igreja dos começos, a plena unanimidade (por exemplo, nas eleições episcopais) era um sinal indiscutível da presença do Espírito: semelhante ao espírito de Yahvé como quando se agitava sobre as águas do caos e activava a palavra criadora de Deus (Gn 1:2).

Porém, acontece que essa experiência social brota daquilo que é a realidade mais intimamente definidora, brota do mais personalizador e da fonte mais radical da liberdade do indivíduo. Mais: qualquer tipo de confusão entre unidade e uniformidade é contrário ao espírito de Jesus. Se atrás aludimos ao perigo de um «espírito sem Deus» – em pessoas que abandonaram a fé e continuam à procura – agora poderemos dar a volta à expressão e falar de um «Deus sem Espírito» em muitos católicos de agora. Esses não entenderam que baptizarem-se (e assinalarem-se) «em nome do Pai, do Filho e do Espírito» quer dizer que nos persignamos «em nome do Deus da Vida, da Solidariedade e da Liberdade máximas».

Assim, devemos concluir que a existência cristã é enormemente dialéctica precisamente porque Deus é Uno e Trino. [J. I. González Faus, «Herejías del catolicismo actual», p.122-123]











[1] José Lisboa Moreira de Oliveira, diz:
«Gilberto Dupas, citando Debord, em seu livro «Ética e poder na sociedade da informação» (São Paulo: Unesp, 2011) responde de maneira magistral: - o espectáculo é "o herdeiro da grande fraqueza do projecto filosófico ocidental". De fato, "como a filosofia jamais conseguiu superar a teologia, o espectáculo é a reconstrução material da fantasia religiosa, a realização técnica do exílio, a cisão consumada do interior do homem. O espectáculo funciona ‘quase como uma forma de reconstrução material da ilusão religiosa. Ela já não remete para o céu, mas abriga dentro de si sua recusa absoluta, seu paraíso ilusório'" (p. 52). Aplicando à Igreja e à liturgia o que disse Dupas, podemos afirmar que o espectáculo faz da Igreja um circo. Quando certos padres, e "presbiretes", viram palhaços, "cuspidores de fogo na Igreja", transformam celebrações litúrgicas em shows. Buscam, na verdade, minutos de glória fugaz para si, tratam a assembleia dos fiéis como uma massa de dementes e desvirtuam o espírito do Vaticano II. Com isso causam a alienação do fiel, o qual vira um mero espectador, levando-o a não mais participar plena e activamente das celebrações e nem compreender e assumir a própria existência: a ser apenas um repetidor mecânico dos gestos de um padre animador de programa de auditório. Com isso o padre pop star não "remete as pessoas para o céu", mas as empurra para um "paraíso ilusório" revestido de pura fantasia.»
[2] Confira Albert Vanhoy, acerca das funções sacerdotais em Jesus Cristo [NdE]:
[3] J.-M. Tillard, «A propósito de la intención del ministro y del sujeto de los sacramentos»: Concilium 31 (1968) 127-128.