teologia para leigos

12 de fevereiro de 2014

MATRIMÓNIO - SACRAMENTO

MATRIMÓNIO





Todas as culturas conhecem alguma forma de instituição do matrimónio. Na maioria delas, o homem e a mulher só são considerados plenamente homem e mulher depois de atingir a maturidade com um parceiro. Assim, também muitas religiões consideram o matrimónio como acto sagrado com origem numa divindade ou como a união de almas ou espíritos com o reino do sagrado.

Seja como for, em todas as culturas existem três categorias principais de crenças acerca dos propósitos do matrimónio: a perpetuação da família e da sociedade através da procriação; uma aliança que levará a sociedade à sua integração estabelecendo vínculos de parentesco; e, finalmente, a união da noiva com o seu noivo, aspecto que poderá ser entendido como sistema complexo de intercâmbios entre grupos e/ou indivíduos. Todas estas categorias deverão ser validadas através das crenças religiosas da sociedade, que as coloca em prática.

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V – Pistas para uma teologia do matrimónio

 Da riqueza dos dados da Bíblia e dos documentos da Igreja que acabamos de ver, impõem-se algumas pistas teológicas para a compreensão cristã do matrimónio de hoje:

1.   Embora pensado dentro de um horizonte cultural, o matrimónio cristão tem dentro de si uma novidade radical que é o Evangelho de Jesus. E, apesar de Ele ainda se estar a revestir daquilo que forma a identidade das diferentes culturas, isso faz com que o núcleo da mensagem esteja sempre pujante de valor e de verdade. É preciso saber identificar aquilo que é a roupagem cultural para chegar ao cerne daquilo que é a revelação da vontade criadora e salvífica de Deus quanto ao mistério do amor entre um homem e uma mulher.
2.   A relação entre Jesus Cristo e a comunidade eclesial é o fundamento mesmo do matrimónio, sendo, portanto, o lugar onde se torna visível o diálogo salvífico. Na palpabilidade do matrimónio torna-se visível e real – manifesto – o que existe do mistério inefável entre Jesus Cristo e a sua Igreja. Por isso, vendo o matrimónio a partir do mistério de Jesus Cristo e da Igreja, pode-se acreditar que se é chamado a cumprir todas as exigências do amor cristão de modo a que se seja, no mundo, figura do Reino de Deus.
3.   Segundo a lógica do Evangelho, o matrimónio não existe para si mesmo ou para se comprazer na sua própria excelência afectivo-comunitária. Embora os laços afectivos e relacionais sejam fundamentais para o crescimento dos cônjuges, o matrimónio cristão fracassará quanto à sua vocação se sucumbir à tentação do modelo burguês, fechado em si mesmo, confinado à esfera do privado, instaurando uma dicotomia não sadia entre o privado do lar e a dimensão pública do mundo e da sociedade. Se o matrimónio é figura da Aliança e do Reino, isso é consequência directa do facto de ele existir no mundo e para o mundo. Atento às necessidades e prioridades deste mundo, deve desenvolver a sua identidade e as suas prioridades.
4.   A redescoberta da proposta de Jesus Cristo e do seu Evangelho, naquilo que tem de mais nodal e constitutivo – o amor e o serviço aos outros como motivação e sentido central da vida – é o meio mais eficaz para interagir sobre os matrimónios no sentido de eles procurarem um exercício afectivo e efectivo do seu amor. Amor que, diante das mais variadas situações, poderá tomar diversos nomes: fidelidade, dedicação, solidariedade, partilha, luta pela justiça, testemunho e todas as outras formas inventadas por aquilo que Paulo afirmou ser «um caminho que ultrapassa a todos» (1Cor 12:31) e contra o qual não existe Lei (Gl 5:23).



María Clara L. Bingemer






Na próxima "entrada" explorar-se-á a sexualidade e o cristianismo (sexo, prazer, orgasmo, pornografia, publicidade, sexualidade fora do matrimónio, sentido e finalidade, fetichismo, homotropia e heterotropia, etc.), em suma, a realidade da sexualidade e as suas várias dimensões.