teologia para leigos

6 de agosto de 2013

«E AS MULHERES, PAPA FRANCISCO?»

«É mais fácil fazer poemas à Virgem…»



‘A instituição dos Doze, por parte de Jesus, pretende ser um gesto simbólico […]. Deduzir daqui que só os homens podem ser sacerdotes […] revela um desconhecimento surpreendente do significado dos textos bíblicos […].’ (Xavier Alegre)

É como se Jesus, ao escolher apenas judeus-homens para Apóstolos, estivesse a querer dizer que só judeus-homens poderiam vir a aceder ao sacerdócio, estando, portanto, o sacerdócio proibido a não judeus (como por exemplo a Jorge Bergoglio) e a mulheres… claro!






[…] «Papa Francisco, por favor, informe-se no Google sobre alguns aspectos da teologia feminista, pelo menos no mundo católico. Talvez seu possível interesse possa abrir a outros caminhos para perceberem o pluralismo de género na produção teológica!

«Quanto a dizer, talvez em forma de consolo, que a Virgem Maria é maior do que os apóstolos é, mais uma vez, uma expressão da teologia masculina do consolo abstracto. Ama-se a Virgem distante e próxima da intimidade pessoal, mas não se escutam os clamores de mulheres de carne e osso. É mais fácil fazer poemas à Virgem e ajoelhar-se diante de sua imagem do que estar atentos ao que se passa com as mulheres nos muitos rincões de nosso mundo.

«Entretanto, se os homens querem afirmar a excelência da Virgem Maria terão que lutar para que os direitos das mulheres sejam respeitados através da extirpação das muitas formas de violência contra elas. Terão, inclusive, que estar atentos às instituições religiosas e aos conteúdos teológicos e morais veiculados que podem não apenas reforçar, mas gerar outras formas de violência contra as mulheres.

«Temo que muitos fiéis e pastoralistas necessitados da figura do bom papa, do pai espiritual, do papa que ama a todos se rendam à simpática e amorosa figura de Francisco e reforcem um novo clericalismo masculino e uma nova forma de adulação do papado. O papa Ratzinger nos levou a uma crítica do clericalismo e da instituição papado através de suas posturas rígidas. Mas, agora com Francisco, parece que voltam nossos fantasmas do passado, agora adocicados com a singela e forte figura de um papa capaz de renunciar ao luxo dos palácios e aos privilégios de sua condição. Um papa que parece introduzir um novo rosto público a essa instituição que fez história e nem sempre uma bela história no passado. O momento exige prudência e uma crítica alerta, não para desautorizar o papa, mas para ajudá-lo a ser cada vez mais connosco, Igreja, uma Igreja plural e respeitosa de seus muitos rostos.

«Meu segundo breve comentário é em relação à necessidade de identificar a maioria dos grupos de jovens presentes na Jornada e aclamando calorosamente o papa.

«Em que Evangelho e em que teologia estão sendo formados? De onde vêm eles? O que buscam?

«Não tenho respostas claras. Apenas suspeitas e intuições em relação à presença marcante de uma tendência mais carismática conservadora e mais celebrativa na linha Gospel. Manifestações de paixão pelo papa, de intenso e repentino amor que leva às lágrimas, a querer tocá-lo, a viver milagres repentinos, a dançar e agitar o corpo têm sido comuns também nos movimentos neopentecostais nas suas muitas manifestações. Sem querer fazer sociologia da religião, creio que sabemos que esses movimentos buscam uma estabilidade social para além das transformações políticas em vista do direito e da justiça para todos os cidadãos e cidadãs. Creio que correspondem, sem dúvida, ao momento actual que estamos vivendo e respondem a algumas necessidades imediatas do povo.






«Entretanto, há outro rosto do cristianismo que quase não pode se manifestar na Jornada. O cristianismo que ainda inspira a luta dos movimentos sociais por moradia, pela terra, pelos direitos LGBT, pelos direitos das mulheres, das crianças, dos idosos etc. O cristianismo das comunidades de base (CEBs), das iniciativas inspiradas pela Teologia da Libertação e pela teologia feminista da libertação. Estes, embora presentes, foram quase sufocados pela força daquilo que a imprensa queria fortalecer e, por conseguinte, era de seu interesse. Isso tudo nos convida ao pensamento.

«Não faz uma semana que o papa viajou e já os jornais e as redes de televisão pouco falam dele. E o que acontece nas comunidades católicas depois dessa apoteose? Como vamos continuar nossas jornadas quotidianas?

«Para além da visita do Papa e de uma possível nova forma do papado de Francisco, estamos sendo convidadas/os a pensar a vida, a pensar os rumos actuais de nossa história e a resgatar o que há de mais forte e precioso na tradição ética libertária dos Evangelhos. Não basta dizer que Jesus nos ama. É preciso que descubramos como nós nos amamos e o que estamos fazendo para crescer na construção de relações mais justas e solidárias.»


Ivone Gebara, teóloga





O MODELO DE IGREJA DE BENTO XVI E AS MULHERES


«Todas as religiões tinham as suas sacerdotisas, e o mais surpreendente foi o facto de não as haver na Igreja de Jesus Cristo, o que, por sua vez, está em continuidade com a fé de Israel.

«A formulação de João Paulo II é muito importante: a Igreja não tem “absolutamente a faculdade de conferir a ordenação sacerdotal às mulheres, e […] esta sentença deve ser considerada como definitiva por todos os fiéis da Igreja”. Não é o mesmo que dizer que não gostamos; o que se diz é que não podemos. O Senhor deu à Igreja uma configuração com os Doze – e, na sua sucessão, com os bispos e os presbíteros e os padres. Essa configuração da Igreja não foi feita por nós, mas sim constituída por Ele. Segui-lo é um acto de obediência na situação actual. Mas é exactamente isso que é importante que a Igreja demonstre: nós não somos um regime despótico. Não podemos fazer o que queremos. Há uma vontade do Senhor em relação a nós à qual nos mantemos fiéis, mesmo quando isso se revela difícil e trabalhoso nesta cultura e nesta civilização.»


Bento XVI, ‘Luz do Mundo’, Lucerna, Nov. 12010, p. 146.


«O carácter teológico da narração - Mc 14:17-21 - não diz como aconteceram realmente as coisas, mas aponta para o contexto, no seu todo, do destino de Jesus. Portanto, a narração é histórica, mas num sentido mais profundo [Lohmeyer]. Para Marcos é importante que os Doze sejam chamados a constituir-se como testemunhas dos padecimentos de Jesus...»; «A presença dos Doze não se refere apenas à refeição, mas a tudo o que daí em diante irá acontecer, até à dissolução desse círculo (Mc 14:50)». «Os Doze representam a comunidade» [cf. J. Gnilka, «El Evangelio Según San Marcos-II», Sígueme 2005, 5ª Edç., p. 279.277 + Nota roda-pé nº 86, p. 277].


CONTRAPÕE HEINER GEISSLER

«As mulheres tinham uma posição muito específica dentro do sistema patriarcal judaico: a mulher era responsável pelo funcionamento da casa e pela comida, devendo obedecer incondicionalmente ao pai, o senhor da família. Além disso, também era obrigada a lavar a cara, as mãos e os pés ao seu marido, como se ele não fosse capaz de o fazer por si próprio: pelos vistos, os homens judeus eram todos pequenos reis-sóis, como Luís XIV, que nem sequer se podia vestir sozinho. Por conseguinte, só o chefe de família rezava a oração à refeição, como sabemos dos Evangelhos. Partia o pão e distribuía-o. Mas quem tinha cozido o pão era a mulher. […]

«Naquele tempo, a mulher não era considerada um ser humano pleno e a sua igualdade em relação aos homens não era aceite. Flávio Josefo escreveu: “A mulher é inferior ao homem em todos os aspectos”. […]

«Estavam ali, a observar de longe, muitas mulheres que tinham seguido Jesus desde a Galileia e o serviram. Entre elas, estavam Maria de Magdala, Maria, mãe de Tiago e de José, e a mãe dos filhos de Zebedeu.» (Mt 27:55-56) […] O comportamento das mulheres nesta fase [tenebrosa, desde a prisão à injusta crucifixão de Jesus] constitui a continuação directa e consequente da sua pertença ao círculo íntimo de Jesus. Por isso, não é fácil entender por que razão, ao longo da história da Igreja, foram tiradas às mulheres as posições que tiveram manifestamente durante a vida de Jesus, isto é, uma amizade e uma pertença ao seu círculo, em pé de igualdade.» […]

«As mulheres são brutalmente discriminadas em todo o mundo. (…) A situação no cristianismo não foi muito melhor do que no islão durante muitos séculos. (..) Alberto Magno (dominicano, séc. XIII, chegou a ser bispo de Ratisbona; é Doutor da Igreja desde 1931), que dá o nome ao comboio intercidades ICE 820 de Nuremberga para Colónia, chegou a afirmar que a mulher seria um homem falhado, possuindo uma natureza defeituosa e imperfeita em comparação com o homem. Aquilo que Agostinho escreveu sobre as mulheres é tão vergonhoso que lhe devia ser retirado o título de doutor da Igreja. (…) A história da mulher no cristianismo consiste num conglomerado de erros filosóficos e teológicos, de disparates, abusos de poder e estupidez dos homens, de absurdos e perversões, de exclusão e estigmatização, mas também de adoração e condenação, de mitos e superstições, de veneração, idealização e demonização.

«O facto de as religiões utilizarem Deus abusivamente para justificar esta discriminação é uma das maiores blasfémias da história das religiões. Jesus era um amigo e defensor das mulheres, como já vimos. Mas os moralistas falsificaram o seu ensinamento filantrópico transformando-o em algo grotesco, graças à sua teologia dominada pela obsessão pelo pecado. É óbvio que as igrejas ultrapassaram a fase da Inquisição e da queima das bruxas. Mas a Igreja Católica mantém até hoje que os padres não podem casar e que as mulheres não podem ser padres. O culto a Maria, desenvolvido na Igreja Católica, não constitui uma prova contrária, antes pelo contrário: ele é o álibi para a má consciência da teologia moral – um culto em que a sexualidade reprimida é sublimada através de uma veneração um tanto piedosa.»

Heiner Geissler, «O que diria Jesus hoje?», Casa das Letras 12005, 93.94.98.103-105.






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