A IMORTALIDADE
– «SENSIBILIDADES CRUZADAS», Fundação Francisco Manuel dos Santos [FFMS]
... para filosofar e carpir mágoas! |
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Ω
Que é feito d’A HISTORICIZAÇÃO DA FÉ, padre Tolentino?
A «imortalidade»
bíblica radica na “partilha universal do pão” (Mc 6:41-44; Mc 7:24-30), ou
seja, na construção duma Fraternidade Radical e Universal a partir dos pobres,
a partir dos ‘esfolados vivos’ do sistema, dos marginalizados, dos esmagados e
excluídos (Lc 10:25) – ou seja, a partir dos «herdeiros do Reino
de Deus» (Tg 2:5). Só o AMOR TOTAL E RADICAL – revolucionário!
– NOS SALVA DA
MORTE, nos confere “imortalidade”, nos entrega nos braços do Pai.
Tudo isto é cristalino
como água. Tudo isto é perfeitamente perceptível: a crentes (de qualquer
religião), a agnósticos e a ateus (Mc 15:39). Como consequência, a ressurreição
de Jesus é isso: amor tão extremo e “até ao extremo” (da doação; Jo 13:1), que,
para Deus, nunca poderia ficar a apodrecer para sempre na cova, qual imortalidade de cadáver (e não, simplesmente,
«sentir a sua máxima plenitude até ao fundo de si mesmos»
sem explicar como é isso possível neste mundo cão, neo-liberal e mortífero ferrenhamente
defendido por alguns católicos, que venderam a alma ao Diabo, a Mamon… Já agora, convém recordar - com a bênção da Igreja católica Oficial - o escândalo que foi os ministros Paulo Portas e Pedro Mota Soares a comungarem na 1ª Missa do Patriarca de Lisboa, nos Jerónimos).
Andas sinceramente
preocupado com a tua Imortalidade? Partilha o teu porta-moedas, a tua casa, o
tempo-livre que não tens e o teu amor desinteressado com os pobres (Mc 10:21-22), e denuncia (v. 21: «com afeição») todos os Joões
Miguéis Tavares deste mundo (e sua ideologia carniceira) … e vais ver que sentirás
que caminhas para a casa de Deus, para a «vida eterna», para a ‘imortalidade’ (cf.
os dois contextos bíblicos desta única pergunta: «que hei-de fazer para possuir a vida
eterna?»; Mc 10:17; Lc 10:25).
Este João Miguel
Tavares não podia sair deste debate sem uma forte denúncia da sua arrogância
neoliberal de extrema-direita (que, nos nossos dias, campeia sobranceiramente por
Portugal). Diante deste “jovem rufião”, o padre Tolentino não se revoltou… e
não denunciou. Será que ele não sente como sua a desgraça que paira do lado de
fora dos salões do Sr. Soares dos Santos? Ele sabe (mas cala) que a Igreja só
será fiel à ressurreição de Jesus se for capaz de denunciar as várias
atrocidades que, p. ex., a firma Jerónimo Martins – que o convidou para ali
estar - comete face à Lei e ao Direito. O silêncio do padre Tolentino é um
contra-testemunho.
Enquanto o país se afunda…
É condenável esta teologia que não
incomoda
o poder e os
usurpadores da vida, ou seja, não incomoda (contra a Imortalidade) os fazedores
de Morte, os negadores da Esperança e os
adulteradores da Caridade. Precisamente, aqueles que, no fundo,
dizem que a vida não é para todos, mas APENAS para os que têm dinheiro para a comprar
(veja-se o exemplo dado da hemodiálise;
como é possível ouvir e calar tamanha monstruosidade sob salva de palmas?).
Aqueles que «sentem êxtases ao luar» (F. Pessoa) … e ânsias de imortalidade… e nutrem
simpatia pela Igreja católica (desde que não seja atrevida ou inconveniente)
adoram este tipo de ‘colocação’ da fé cristã: mais um elemento cultural e
espiritual (interessante), que convive (bem) com outros e vive bem entre outros
elementos culturais… igualmente simpáticos.
Este discurso
teológico – a Fé como elemento em diálogo cultural e não como grito contracultural (grito bíblico de
protesto, clamor que chega até aos Céus; Gn 4:10; Ex 3:9) – acaba sempre numa
teia doutrinária que termina – qual palratório de «papagaios»; v. 18 − por ser anulada
e engolida pelo palavreado burguês, tal como aconteceu outrora com S. Paulo em
Atenas. (Act 17:16-19)
É triste uma Igreja que se coloca lado-a-lado
e não uma Igreja que − qual o seu fundador − enfrenta e afronta (Mt 5:20)! No século XXI, uma
espiritualidade pessoal, que se constrói dispensando-se dos materiais sociais e
da crítica aos sistemas económicos e ideológicos que fabricam des-esperança e morte
é, no mínimo, ineficaz.[1]
É olhada, com certeza, pelo mundo com simpatia, mas auto-exclui-se do projecto
de Deus anunciado nas bem-aventuranças (Lc 6:22-23). É uma teologia que apenas afaga
o mundo: não o abana, não o deixa perturbado (Mt 2:3), não faz pensar nem dá que
fazer. É como o sal que se estragou… (Mt 5:13).
O Pai ressuscitou
Jesus («imortalizou-O») precisamente por Ele ter sido assassinado em virtude de
ser o Seu mais fiel espelho (ícone) histórico, ou seja, em
virtude de ter sido ao mesmo tempo profeta histórico contracultural e irmão
universal da paz e do perdão.
A burguesia capitalista e o Sumo-de-Fé! |
Conversa do Papa Francisco com milhares de
jovens argentinos na Catedral Metropolitana do Rio
de Janeiro, a 25 de Julho de 2013 (JMJ).
«Que Deus se tenha feito como um de nós é um
escândalo. A Cruz continua a ser um escândalo. Mas, a partir da Encarnação de
Jesus, a Cruz é o único caminho para a Salvação. Por
favor, não liquefaçam a Fé em Jesus. Existem refrigerantes de maçã,
de laranja, mas, por favor, não tomem ‘sumo de Fé’! A
Fé serve-se inteira.»
«Jesus foi quem me amou [primeiro] e morreu por mim. Façam o
bem. Cuidem dos que estão nos extremos da população [jovens excluídos sem trabalho e velhos
abandonados]. E não se deixem excluir.»
«E não façam sumo da Fé em Jesus! Se não sabeis
que fazer, lede Mateus 25 e as Bem-aventuranças (Mt 5; Lc 6:20). Não precisam de mais nada. Não se esqueçam: incomodem,
cuidem dos dois extremos da história do povo e não façam “sumo de Fé”.»
FONTE:
Ω
«Demasiadas
vezes a fé em Deus foi, incompreensivelmente, apresentada como estranha (ou até contrária)
à tarefa da
construção da história. Reagindo a isso, a Modernidade pretendeu construir
a história, não apenas à margem de, mas contra Deus. Até que os homens puderam
constatar que dessa empresa não resultou mais liberdade e mais fraternidade,
mas apenas mais
tecnologia e insuportáveis
desigualdades. Eis, porque, de repente, os homens proclamaram «o
fim da história» quando esta ainda estava por construir.» [G.
Faus]
Entretanto, …
«Jesus pregou as Bem-aventuranças a partir de uma situação
bem concreta: a daquele que, «sendo rico, se fez pobre por nós»; a daquele que «se humilhou tomando a forma de servo…» E
não as pregou no mesmo sentido a todos: para os ricos, tinham que soar como chicotadas que S. Lucas recolheu quando escreveu: «Ai de vós,
ricos, porque já tendes vossa consolação!» Para os pobres tinha que ser aquela confortadora
palavra de esperança que o próprio Lucas recolheu naquela cena inaugural de
Nazaré: «Fui enviado para dar uma notícia aos pobres». [Lc 4:18b]» (…)
«Sem demagogia, é preciso admitir que acontecem,
inevitavelmente, duas maneiras de crer em Deus, duas concepções de Deus: para os
auto-satisfeitos, espera-se que Deus seja o sustentáculo do status quo: um Deus que ratifica o
passado no presente – mesmo que seja um passado de injustiça – e o torna
permanente, estável e duradouro. É o Deus da estabilidade, da ordem estabelecida. Para os desvalidos,
Deus não pode ser apresentado como o sustentáculo de um status quo, pois fá-lo mais como promessa e garantia absoluta de um
futuro novo e melhor. Deus não é só
um confirmador do passado no presente, mas é antes de tudo um criador de futuro. (…) Deus é um Deus de esperança, e o que se espera d'Ele
não é o que se encontra já predeterminado e já contido no passado, mas o novo,
que pode ser criado no futuro. A partir da experiência do mal e da injustiça não
se pode crer num Deus conservador: só se
pode crer num Deus renovador e –
não tenhamos medo das palavras – revolucionário. Este foi, exactamente, o Deus de Israel e o Deus de
Jesus.» [Josep Vives]
[1] J. I. González Faus. «Convertir el
cristianismo en una doctrina teórica», in «HEREJÍAS DEL CATOLICISMO
ACTUAL», Trotta, 2013.