teologia para leigos

9 de agosto de 2013

A FÉ COMO CULTURA [FFMS]

A IMORTALIDADE
– «SENSIBILIDADES CRUZADAS», Fundação Francisco Manuel dos Santos [FFMS]


... para filosofar e carpir mágoas!



ASSISTA AO VÍDEO:














Que é feito d’A HISTORICIZAÇÃO DA FÉ, padre Tolentino?

A «imortalidade» bíblica radica na “partilha universal do pão” (Mc 6:41-44; Mc 7:24-30), ou seja, na construção duma Fraternidade Radical e Universal a partir dos pobres, a partir dos ‘esfolados vivos’ do sistema, dos marginalizados, dos esmagados e excluídos (Lc 10:25) – ou seja, a partir dos «herdeiros do Reino de Deus» (Tg 2:5). Só o AMOR TOTAL E RADICALrevolucionário!NOS SALVA DA MORTE, nos confere “imortalidade”, nos entrega nos braços do Pai.

Tudo isto é cristalino como água. Tudo isto é perfeitamente perceptível: a crentes (de qualquer religião), a agnósticos e a ateus (Mc 15:39). Como consequência, a ressurreição de Jesus é isso: amor tão extremo e “até ao extremo” (da doação; Jo 13:1), que, para Deus, nunca poderia ficar a apodrecer para sempre na cova, qual imortalidade de cadáver (e não, simplesmente, «sentir a sua máxima plenitude até ao fundo de si mesmos» sem explicar como é isso possível neste mundo cão, neo-liberal e mortífero ferrenhamente defendido por alguns católicos, que venderam a alma ao Diabo, a Mamon… Já agora, convém recordar - com a bênção da Igreja católica Oficial - o escândalo que foi os ministros Paulo Portas e Pedro Mota Soares a comungarem na 1ª Missa do Patriarca de Lisboa, nos Jerónimos).

Andas sinceramente preocupado com a tua Imortalidade? Partilha o teu porta-moedas, a tua casa, o tempo-livre que não tens e o teu amor desinteressado com os pobres (Mc 10:21-22), e denuncia (v. 21: «com afeição») todos os Joões Miguéis Tavares deste mundo (e sua ideologia carniceira) … e vais ver que sentirás que caminhas para a casa de Deus, para a «vida eterna», para a ‘imortalidade’ (cf. os dois contextos bíblicos desta única pergunta: «que hei-de fazer para possuir a vida eterna?»; Mc 10:17; Lc 10:25).

Este João Miguel Tavares não podia sair deste debate sem uma forte denúncia da sua arrogância neoliberal de extrema-direita (que, nos nossos dias, campeia sobranceiramente por Portugal). Diante deste “jovem rufião”, o padre Tolentino não se revoltou… e não denunciou. Será que ele não sente como sua a desgraça que paira do lado de fora dos salões do Sr. Soares dos Santos? Ele sabe (mas cala) que a Igreja só será fiel à ressurreição de Jesus se for capaz de denunciar as várias atrocidades que, p. ex., a firma Jerónimo Martins – que o convidou para ali estar - comete face à Lei e ao Direito. O silêncio do padre Tolentino é um contra-testemunho.



Enquanto o país se afunda…




É condenável esta teologia que não incomoda o poder e os usurpadores da vida, ou seja, não incomoda (contra a Imortalidade) os fazedores de Morte, os negadores da Esperança e os adulteradores da Caridade. Precisamente, aqueles que, no fundo, dizem que a vida não é para todos, mas APENAS para os que têm dinheiro para a comprar (veja-se o exemplo dado da hemodiálise; como é possível ouvir e calar tamanha monstruosidade sob salva de palmas?). Aqueles que «sentem êxtases ao luar» (F. Pessoa) … e ânsias de imortalidade… e nutrem simpatia pela Igreja católica (desde que não seja atrevida ou inconveniente) adoram este tipo de ‘colocação’ da fé cristã: mais um elemento cultural e espiritual (interessante), que convive (bem) com outros e vive bem entre outros elementos culturais… igualmente simpáticos.

Este discurso teológico – a Fé como elemento em diálogo cultural e não como grito contracultural (grito bíblico de protesto, clamor que chega até aos Céus; Gn 4:10; Ex 3:9) – acaba sempre numa teia doutrinária que termina – qual palratório de «papagaios»; v. 18 − por ser anulada e engolida pelo palavreado burguês, tal como aconteceu outrora com S. Paulo em Atenas. (Act 17:16-19)

É triste uma Igreja que se coloca lado-a-lado e não uma Igreja que − qual o seu fundador −  enfrenta e afronta (Mt 5:20)! No século XXI, uma espiritualidade pessoal, que se constrói dispensando-se dos materiais sociais e da crítica aos sistemas económicos e ideológicos que fabricam des-esperança e morte é, no mínimo, ineficaz.[1] É olhada, com certeza, pelo mundo com simpatia, mas auto-exclui-se do projecto de Deus anunciado nas bem-aventuranças (Lc 6:22-23). É uma teologia que apenas afaga o mundo: não o abana, não o deixa perturbado (Mt 2:3), não faz pensar nem dá que fazer. É como o sal que se estragou… (Mt 5:13).

O Pai ressuscitou Jesus («imortalizou-O») precisamente por Ele ter sido assassinado em virtude de ser o Seu mais fiel espelho (ícone) histórico, ou seja, em virtude de ter sido ao mesmo tempo profeta histórico contracultural e irmão universal da paz e do perdão.




A burguesia capitalista e o Sumo-de-Fé!




Conversa do Papa Francisco com milhares de jovens argentinos na Catedral Metropolitana do Rio de Janeiro, a 25 de Julho de 2013 (JMJ).

«Que Deus se tenha feito como um de nós é um escândalo. A Cruz continua a ser um escândalo. Mas, a partir da Encarnação de Jesus, a Cruz é o único caminho para a Salvação. Por favor, não liquefaçam a Fé em Jesus. Existem refrigerantes de maçã, de laranja, mas, por favor, não tomem ‘sumo de Fé’! A Fé serve-se inteira.»

«Jesus foi quem me amou [primeiro] e morreu por mim. Façam o bem. Cuidem dos que estão nos extremos da população [jovens excluídos sem trabalho e velhos abandonados]. E não se deixem excluir.»

«E não façam sumo da Fé em Jesus! Se não sabeis que fazer, lede Mateus 25 e as Bem-aventuranças (Mt 5; Lc 6:20). Não precisam de mais nada. Não se esqueçam: incomodem, cuidem dos dois extremos da história do povo e não façam “sumo de Fé”.»


FONTE:





«Demasiadas vezes a fé em Deus foi, incompreensivelmente, apresentada como estranha (ou até contrária) à tarefa da construção da história. Reagindo a isso, a Modernidade pretendeu construir a história, não apenas à margem de, mas contra Deus. Até que os homens puderam constatar que dessa empresa não resultou mais liberdade e mais fraternidade, mas apenas mais tecnologia e insuportáveis desigualdades. Eis, porque, de repente, os homens proclamaram «o fim da história» quando esta ainda estava por construir.» [G. Faus]

Entretanto, …

«Jesus pregou as Bem-aventuranças a partir de uma situação bem concreta: a daquele que, «sendo rico, se fez pobre por nós»; a daquele que «se humilhou tomando a forma de servo…» E não as pregou no mesmo sentido a todos: para os ricos, tinham que soar como chicotadas que S. Lucas recolheu quando escreveu: «Ai de vós, ricos, porque já tendes vossa consolação!» Para os pobres tinha que ser aquela confortadora palavra de esperança que o próprio Lucas recolheu naquela cena inaugural de Nazaré: «Fui enviado para dar uma notícia aos pobres». [Lc 4:18b]» (…)

«Sem demagogia, é preciso admitir que acontecem, inevitavelmente, duas maneiras de crer em Deus, duas concepções de Deus: para os auto-satisfeitos, espera-se que Deus seja o sustentáculo do status quo: um Deus que ratifica o passado no presente – mesmo que seja um passado de injustiça – e o torna permanente, estável e duradouro. É o Deus da estabilidade, da ordem estabelecida. Para os desvalidos, Deus não pode ser apresentado como o sustentáculo de um status quo, pois fá-lo mais como promessa e garantia absoluta de um futuro novo e melhor. Deus não é só um confirmador do passado no presente, mas é antes de tudo um criador de futuro. (…) Deus é um Deus de esperança, e o que se espera d'Ele não é o que se encontra já predeterminado e já contido no passado, mas o novo, que pode ser criado no futuro. A partir da experiência do mal e da injustiça não se pode crer num Deus conservador: só se pode crer num Deus renovador e – não tenhamos medo das palavras – revolucionário. Este foi, exactamente, o Deus de Israel e o Deus de Jesus.» [Josep Vives]









[1] J. I. González Faus. «Convertir el cristianismo en una doctrina teórica», in «HEREJÍAS DEL CATOLICISMO ACTUAL», Trotta, 2013.