teologia para leigos

6 de abril de 2013

A VONTADE DE DEUS? [JON SOBRINO]

O seguimento de Jesus
como discernimento cristão

«Procurai primeiro o Reino de Deus e a sua justiça,
e tudo o mais se vos dará por acréscimo»
(Mt 6:33; Lc 12:31)

 
 
O Cristianismo não é uma ética...



Entendemos por discernimento cristão a busca da vontade de Deus, não apenas para ser entendida, mas para ser realizada. Entendemos, portanto, o discernimento, não só de um modo pontual, mas como processo, durante o qual a vontade de Deus realizada testa a vontade de Deus pensada. (..)

O que esta postura significa é a superação de uma compreensão simplesmente ética do cristianismo (com base em fazer o bem e em evitar o mal), mas avançar numa via seriamente teológica do que quer dizer o agir cristão. (…)

Mas, se nos demorarmos um pouco mais no título, o título deste artigo não será tão evidente assim, caso nele se insinue uma imitação mecânica do processo de Jesus, pois, para além de isso não ser possível, significaria o negar da necessidade do nosso discernimento, hoje. Este é o momento para apelar ao Espírito de Jesus, no qual devemos nunca parar de discernir. A única coisa que se deve procurar definir com rigor é se esse Espírito é, de veras, o de Jesus, e não pressupormos que ele já existe institucionalizado nas estruturas eclesiais ou que ele viva espontâneo nas diversas versões pentecostalistas ou carismáticas. Tudo terá que ser confrontado a partir de Jesus e nunca declarado a priori como propriedade de uma instituição ou como dom outorgado a determinados grupos. Se colocarmos o problema do discernimento cristão na tensão entre a história de Jesus e a história desencadeada pelo seu Espírito, então, não será possível oferecer receitas fáceis, nem mesmo a partir de Jesus. Aquilo que, com este trabalho, procuramos oferecer é a estrutura do discernimento de Jesus, a qual deve ser re-inventada / re-criada ao longo da história, na linha do Espírito de Jesus. Isto não se conseguirá senão a partir da realidade [histórica], e nunca a partir duma conceptualização trinitária. (…)

Jon Sobrino, sj (1982)
[pp. 11]