DESAFIOS AOS CRISTÃOS DO SÉCULO XXI
INTRODUÇÃO
O discurso da opção pelos pobres e pelos excluídos
é rebatido, ainda hoje, com insistência e com certa veemência, mas isso não
quer dizer que a Igreja se encontre, de facto, no mundo dos pobres e dos
excluídos[1].
Enquanto a Igreja prega e elabora documentos[2]
a favor dos pobres e dos excluídos, a classe dominante deita contas aos
serviços que oferece em prol da sua inocência e da sua bondade ética,
procurando a legitimidade do seu sistema. Portanto, se a Igreja quiser ter
alguma eficácia e alguma seriedade na sua opção pelos excluídos terá que fazer muito
mais do que apenas denunciar e condenar o sistema neoliberal em vigor,
causador das situações reais de dependência, espoliação, pobreza, miséria e,
consequentemente, de exclusão. Se o discurso da Igreja se tornou vazio e a
opção pelos pobres uma retórica, é urgente que a igreja comece a
oferecer, no concreto, alternativas às vítimas. Para isso, a Igreja deverá
exigir que o seu clero – educado e formado no mundo dos incluídos – abandone
a cultura arcaica e se inculture no mundo dos excluídos. Nada do que for
implantado sobreviverá se não estiver bem integrado na cultura dos excluídos. Terá a
Igreja visão, ânimo e despojamento para tal?
De facto, este é o grande desafio para a
Igreja. Saberá ela e será ela capaz de se fazer presente, de maneira eficaz, no
mundo dos excluídos? Não chega oferecer paliativos como até agora fez, palavras
de consolo, fazer de conta - através do discurso - que está do lado do pobre. A Igreja tem
que estar junto: agir junto, aprender junto, produzir junto, sofrer
junto, conquistar junto, erguer-se junto, fazer caminho junto…
A IGREJA E O MUNDO DOS
EXCLUÍDOS
O mundo dos excluídos veio para ficar. Ele
é produzido pelo sistema económico actual, que vai gerando cada vez mais
exclusão. Uma parte da população tem capacidade para entrar no mundo novo da
economia, outra parte não. As exigências são cada vez maiores, de modo que a
distância cultural aumenta entre os que têm e os que não têm condições de vida
digna. Quem nasce no mundo dos excluídos já nasce excluído e nunca poderá
recuperar a distância que o separa de quem nasceu numa família incluída. Somente uma ínfima minoria de excluídos[3],
ajudada por muita sorte, consegue recuperar – facto que não tem
repercussão, nem muda nada, no conjunto do sistema.
O actual sistema económico domina,
de modo absoluto, o mundo todo. Reina, praticamente sem
contestação, entre todos os que detêm o poder. Está a crescer sem parar,
confiante em si mesmo, sem nenhuma dúvida. Os que conduzem o processo não têm
dúvida nenhuma. Estão seguros de si mesmos e dispõem de quase todos os recursos
que actualmente existem no mundo. Dispõem de praticamente todos os cérebros
importantes na sociedade. Tudo e todos trabalham para consolidá-lo. Somente o
contestam alguns intelectuais sem poder.
Este modelo de economia está tão firme que
está feito para durar pelo menos um século. A famosa «Terceira
Via», lançada por Tony Blair, tem vindo a ser aceite hoje por quase
todas as esquerdas do mundo, o que significa que a esquerda considera facto
irreversível a actual evolução da economia (Cf. Anthony Giddens, «The Third Way. The
Renewal of Social Democracy», Polity Press, Cambridge, 1998).
No momento não há outra alternativa com
força política. A oposição vai ter de cumprir o seu papel de oposição, mas está
impedida de realizar o seu programa de governo. Estamos ainda na fase inicial da exclusão.
O que vem por aí tende a ser ainda pior. Isso não depende de um
governo, regime político ou constituição de Estado – pois nenhum Estado pode
impedir o inevitável que é a pressão de um sistema compacto e dotado de todas
as forças materiais e culturais.
Anunciar o fim da exclusão
é irresponsabilidade, porque, com isso, deixa-se que as pessoas fiquem à
espera, na ilusão, atrasando-se a tomada de decisões. É irresponsabilidade
pensar que o problema está a ser resolvido e que algumas boas pregações podem mudar
a evolução actual do mundo. Naturalmente, todos os governantes dizem, com as lágrimas nos olhos,
que estão preocupados com a exclusão e a pobreza. Falam assim para
se enganarem a si mesmos – pensando que têm bom coração – e ao povo. Na hora de
agir acabam por reforçar o sistema, fortalecendo-o. Nada farão para mudar o actual sistema.
Também não será um governo que há-de vir, no futuro, que irá mudar esse rumo. A
intensidade do movimento poderá variar um pouco, mas o movimento em plena
expansão não será mudado.
1.
Os excluídos vivem
Os excluídos não desaparecerão por serem
excluídos. Conseguem sobreviver, encontrando brechas no sistema e nos meios de
subsistência. Recolhem
as migalhas que caem da mesa dos poderosos. Como os poderosos são
muito ricos, as migalhas podem alimentar muita gente. Os excluídos vão formando
um mundo próprio, separado, com a sua cultura própria e relações sociais
próprias. Pouco a pouco, constituem um mundo inteiriço, coerente, completo –
como na favela
da Rocinha, no Rio de Janeiro.
Vivem de uma economia informal ou, às
vezes, conseguem emprego aleatório em empresa de construção ou em serviço
precário. Recolhem o que a sociedade lhes concede, sobretudo, a televisão, que
abre para o resto do mundo, porém, sem criar comunicação com esse mundo. Criam uma
cultura, um estilo de vida em casa, uma maneira de comer e beber, de festejar,
de se relacionar com os vizinhos. Seu mundo é um mundo pequeno, mas
que permite viver. Nesse mundo há tempos de alegria e de tristeza, tempos de
medo e de ilusão.
A cultura do mundo dos
excluídos não é muito conhecida, porque não consegue
interessar aos sociólogos. Estes ainda estão muito dependentes das teorias do
passado. Uns são marxistas e olham tudo em função da luta de classes, como nos
tempos da sociedade industrial, sem ver que na actualidade somente uma minoria
participa do mundo industrial – os operários das indústrias já pertencem ao
mundo dos incluídos, embora numa posição modesta. Outros dependem da sociologia
norte-americana, e enxergam tudo com base no sistema positivista da passagem da
cultura pré-moderna para a cultura moderna – não descobriram que há duas
culturas modernas: a dos incluídos e a dos excluídos.
A cultura dos excluídos está presente nas
cidades. É feita de fragmentos da cultura
rural desintegrada e de fragmentos da
cultura dominante mais ou menos assimilados, porque o mundo dos excluídos
não está totalmente isolado – vive ao lado do outro, ainda que com uma
intercomunicação muito superficial. Os novos pobres reinterpretam, na sua cultura,
a exibição da cultura dominante.
No primeiro mundo, os excluídos constituem
1/3 da população e no terceiro mundo 2/3. Claro que estes números são
aproximados. Em cada país a situação é particular, podendo a fronteira entre
excluídos e incluídos não estar tão clara, assim. Há uma parte da população que está entre os excluídos e os incluídos,
participando parcialmente das duas categorias. No entanto, globalmente, existe
uma separação radical entre os dois pólos e essas duas partes da população.
2. A Igreja continua a
repetir o discurso da opção pelos pobres e excluídos
Continua a fazer-se o discurso da opção
pelos pobres e excluídos, mas, no entanto, esse discurso está cada vez mais
longe da realidade. Caso nos demos ao trabalho de examinar o comportamento
real, nota-se com toda a evidência que a Igreja está a fazer a opção pelos
incluídos, perdendo o contacto com os excluídos. Elaborando sempre o mesmo
discurso, a Igreja nem se apercebe que se está a distanciar cada vez mais dos
excluídos. O
discurso serve para esconder a realidade e tranquilizar a consciência.
Com efeito, hoje em dia [2011] a
força da Igreja está concentrada à volta de dois pólos: os «movimentos»
e as paróquias.
O primeiro pólo é constituído pelos
«movimentos». Os «movimentos» estão a crescer cada vez mais, e constituem
actualmente o sector mais vivo, mais dinâmico e florescente na Igreja. Tomando
a dianteira, está o movimento Renovação Carismática[4],
vindo depois o ECC[5],
os Focolare[6],
os Neocatecumenais[7],
Schönstatt[8]
e outros menos numerosos.
Os «movimentos» estão implantados no mundo dos incluídos.
Todo o seu modo de ser revela a sua perfeita adaptação à cultura dos incluídos.
Estão bem inculturados e, por isso, fazem sucesso e crescem sem cessar. Apesar
de não estarem integrados nas
estruturas oficiais da Igreja, a sua influência vai crescendo. Não
têm o poder na Igreja, mas têm o conhecimento do mundo, a ciência das
comunicações e tudo o que o clero não tem. Por isso, de facto, a sua influência
é maior do que a dos sacerdotes na Igreja. Os sacerdotes são, cada vez mais,
espectadores do que acontece na Igreja ou auxiliares dos «movimentos». A sua
cultura arcaica não lhes permite competir, salvo raras excepções.
Por serem emanação da cultura dominante, os
«movimentos» não têm comunicação com o mundo dos excluídos, ainda que no seu
discurso multipliquem as profissões de boa vontade. Não há comunicação com esse
mundo, nem a linguagem é a mesma. Não é uma questão de boa ou má vontade, mas
simplesmente uma questão de necessidade sociológica.
Deixo, como tarefa para o século XXI, o
surgimento de missionários nos «movimentos» para que desçam até ao mundo dos
excluídos, afastando-se da sua cultura de origem para irem ao encontro da
cultura dos excluídos. É mais difícil ser-se missionário no mundo dos excluídos
do próprio país e da própria cidade do que ser missionário em África
ou na Ásia, porque a resistência psicológica é maior. É mais fácil reconhecer a
diferença da cultura indiana ou chinesa do que a diferença da cultura dos
excluídos na própria cidade. O cidadão de uma classe superior pensa que sabe e
pode tudo na sua própria cidade, mas, na realidade, nunca pôs o pé no mundo dos excluídos.
Como «movimentos» organizados e totalidades
sociais, os «movimentos» nada podem fazer pelo mundo dos excluídos. Porém, do
meio deles, pode e deve sair uma messe de vocações missionárias. Como
sociedades organizadas têm mentalidade universal. Estão convencidos de que
representam todas as classes sociais e de que são imagem da própria sociedade
urbana ou nacional. Não percebem os limites da sua consciência.
Somente os excluídos podem dizer-lhes que pertencem a um mundo limitado;
somente os excluídos são capazes de os ajudar a comunicar com o seu mundo
excludente. Somente o contacto presencial com os excluídos lhes pode fazer
abrir os olhos e a mente.
O segundo pólo forte da Igreja
católica, no qual se concentra a quase totalidade do clero, é a paróquia
urbana. Aí se concentra 80% da população. No mundo urbano, as paróquias reúnem as pessoas do mundo dos
incluídos. A cultura paroquial adapta-se melhor a eles. O próprio
vigário foi educado na cultura do mundo dos incluídos, sentindo-se mais à
vontade aí. Como as actividades paroquiais são numerosas, conseguem ocupar o
tempo todo dos melhores vigários. Não sobra tempo para saltar os muros e ir ver
o que está a acontecer no “outro país” que fica dentro do território paroquial.
A própria estrutura paroquial favorece essa evolução. Ora, na cidade, a visibilidade
das igrejas e capelas paroquiais não é muito grande. Uma família pode morar a
100 metros da capela e ignorar a sua presença, assim como os fiéis católicos
ignoram as igrejas pentecostais que estão na mesma rua.
3. E as CEBs, não são elas a
presença da Igreja no mundo dos excluídos e do mundo dos excluídos na Igreja?
Em primeiro lugar, as CEBs
[Comunidades Eclesiais de Base] já não têm, na Igreja, a importância que já
tiveram. Basta lembrar que, no documento Ecclesiæ in America, nem sequer são
mencionadas. Na dinâmica das dioceses, o seu espaço é muito limitado.
Em segundo lugar, uma grande parte
das CEBs está situada nas comunidades rurais afastadas das igrejas matriciais.
Este mundo rural tem cada vez menos peso no conjunto do país. Mesmo que tenham
surgido os assentamentos[9],
a presença da Igreja católica é mínima neles. No mundo urbano, as CEBs não se
multiplicaram, apesar do imenso crescimento do mundo dos excluídos.
São como ilhas
num mar imenso. Além disso, muitas foram integradas no sistema
paroquial, reproduzindo o sistema da paróquia e funcionando como órgão de
transmissão da pastoral paroquial. Dedicam muito tempo à preparação dos
sacramentos e às celebrações de estilo mais ou menos tradicional. Estamos
fartos de conhecer essa realidade e do que se passou com as CEBs.
Em terceiro lugar, as próprias
comunidades são agentes de promoção social. Quem participa tem mais hipóteses
de ascensão social, porque vai adquirindo capacidades que habilitam para entrar
no mundo dos incluídos.
A participação nas CEBs confere um
desenvolvimento humano que prepara para saber actuar no mundo superior, ainda
que em posições modestas. Acontece a mesma coisa com os sindicatos, os partidos
políticos populares ou os movimentos populares. Os dirigentes
saem do mundo dos excluídos porque já se capacitaram e entram em comunicação
com o mundo dos incluídos[10].
Ainda há uma parte das CEBs que são a
Igreja no mundo dos excluídos. Mas essa parte quase não conta na Igreja actual
– não conta na vida das dioceses, das paróquias e «movimentos». Por outro lado,
a existência delas não representa uma presença significativa da Igreja
católica. Quantos sacerdotes e religiosas se dedicam a esse mundo? Qual é a
parte dos recursos financeiros da Igreja dedicada à missão no mundo dos
excluídos? Insignificante.
O desafio é a presença da Igreja no mundo
dos excluídos. Não
basta condenar o sistema neoliberal em vigor, e dizer que aumenta o
número dos excluídos. É necessário condenar, mas não basta – porque nada vai mudar
por mais que se condene. A influência da Igreja na sociedade é mínima – para
não dizer inexistente. O que se espera
da Igreja é que legitime o sistema e dê alguns remédios de consolo às vítimas.
Se ela se dedicar a isso terá um lugar privilegiado. Se não fizer isso será
marginalizada.
Também não basta anunciar a utopia de uma nova sociedade ou de
uma civilização do amor. A utopia é necessária para manter a
esperança e a espera de outro mundo. Porém, não basta, porque o anúncio do
evangelho é anúncio do Reino de Deus no mundo presente. Trata-se da presença de
Deus e da acção a partir do Reino neste mundo que existe no concreto: anunciar o futuro é
muito cómodo e pouco exigente. Pode-se estar no mundo dos incluídos
e esperar a mudança da sociedade: pelo menos, teremos que esperar um século. O
consolo do futuro, não basta. As ideologias socialistas prometeram um mundo futuro que
nunca chegou. O que nos preocupa – objecto da evangelização – é o
mundo presente tal como ele está. Que dizer e que fazer face a este
mundo de agora?
Em primeiro lugar, para poder agir, é
preciso estar presente. Já dissemos que todo o grupo de Igreja tende a subir
socialmente e, ao mesmo tempo, tende a se separar do mundo dos excluídos: acaba
por se tornar num grupo que está em vias de se integrar. Assim aconteceu com os
monges antigos. Assim foi com as primeiras comunidades cristãs e com todas as
fundações religiosas, ao longo dos tempos. Começaram com uma presença no mundo
dos pobres e, um século depois, passaram a fazer parte do mundo dos ricos.
Assim acontece com as CEBs. Começa-se pelos
excluídos e, pouco a pouco, vão-se diferenciando e subindo socialmente. É
preciso recomeçar. É improvável que uma comunidade que começou no meio dos
pobres e se emancipou – tornando-se incluída – volte às origens – retornando
aos excluídos.
Da evolução actual das CEBs alguns tiraram a conclusão
que elas já
tiveram o seu tempo, e estão a ser substituídas por outras formas de
pastoral. Muitos acham que já não respondem às situações novas e que estão a
desaparecer. Acontece que essa história evolutiva das CEBs não significa que
elas estejam superadas. Quer dizer que, como todas as instituições da Igreja,
elas devem passar pelo que tradicionalmente se chama reforma.
Na Igreja, o que quer dizer reforma?
[…]
José Comblin
Sacerdote e doutor em teologia pela Universidade de Lovaina.
Leccionou no Equador, no Chile e no Brasil.
Faleceu a 27 de Março de 2011.
[1]
José Maria Vigil diz que se deve
defender a opção pela justiça e não a
«opção preferencial pelos pobres»: «Deus opta pela justiça,
não preferencialmente, mas sim alternativa e excludentemente». «A Opção pelos Pobres é opção pelos
“injustiçados”». «A opção
de Deus pela justiça fundamenta-se no seu próprio ser: Deus não pode ser de outra maneira, não
poderia não fazer essa opção sem contradizer-se e sem negar o seu próprio ser. Deus é, “por natureza”, opção pela justiça,
e essa opção não é gratuita (mas, sim, axiologicamente
inevitável), nem contingente (mas sim necessária),
nem arbitrária (mas sim fundada per se no próprio ser de Deus), nem
“preferencial” (mas sim alternativa,
exclusiva e excludente». Cf. doc.
em castelhano ou em português [NdE]:
[2]
Vivemos num mundo em que «as palavras já estão gastas» (Eugénio
de Andrade) e significam precisamente o seu contrário, um mundo de mentira
operado pelo disfarce. Hitler possuía uma biblioteca pessoal de 16.000 volumes
(T. W. Ryback); os seus discursos anti-semitas eram, à época, cientificamente
fundados! Em última análise, qual é o critério último, definitivo para ajuizar
e julgar da santidade da nossa existência? Produzir Conferências com muitas
citações eruditas, Colóquios com muitos nomes sonantes? Creio que não serão as
profissões de fé ou os discursos: será – para sempre – o «JUÍZO DEFINITIVO» de Mateus
25,31-46, onde, em cerca de 16 versículos, se podem contar cerca de 20 “acções”
ou “omissões”… práxicas.
[NdE]
[3]
É o caso de alguns Joões Paulos, por
aí… Uma imensa minoria, de facto.
[5] ECC – ENCONTRO DE CASAIS COM CRISTO:
[9] «A
realidade dos assentamentos rurais»:
[10]
Cf o escândalo monstruoso do «caso Petrobras» (Brasil) e suas conexões com
os membros do Partido dos Trabalhadores, Lula e Dilma, ou as facilidades dadas
pelo presidente Lula para a instalação de gigantes hidroeléctricas (ex.: Belo
Monte) com a consequente expulsão dos indígenas de suas terras (denunciado pela
Irmã Ignez Wenzel e pelo bispo Erwin Kräutler ). [NdE]