teologia para leigos

9 de setembro de 2014

EUCARISTIA E DOMINGO [J.CAMPS]

«A pastoral numa linha missionária exige o abandono deste cómodo critério pastoral: "fez-se sempre assim". Convido todos a serem ousados e criativos nesta tarefa de repensar os objectivos, as estruturas, o estilo e os métodos evangelizadores das respectivas comunidades.», Papa Francisco, Evangelii Gaudium, n. 33


CELEBRAÇÕES ALTERNATIVAS PARA O DOMINGO




A renovação teológica e litúrgica do ritual eucarístico operada nestas últimas décadas, infelizmente não foi acompanhada de uma paralela recolocação do lugar da celebração da Eucaristia no conjunto das actividades da comunidade cristã. É verdade que, nesse período, a distribuição e frequência das missas evoluíram no espaço e no tempo, mas isso aconteceu de forma espontânea, nem sempre coerente e, por vezes, pouco racional. A multiplicação das celebrações eucarísticas (vespertinas, antecipadas para as vigílias, em grupo e em pequenas comunidades, etc.) varreu e reduziu a praticamente nada um conjunto heteróclito de cultos, devoções e actos piedosos que configuravam a nossa religiosidade popular. Será isto uma inevitabilidade?

Estes breves apontamentos limitam-se ao domingo, dia próprio da assembleia eucarística, porém ocupado por ela de modo exclusivo, pelo menos na maior parte dos lugares. Pastores e fiéis interrogam-se se a eucaristia deve ser efectivamente a única forma de celebrar o domingo, se a eucaristia é apropriada para todo o tipo de grupos e assembleias e se o próprio domingo – instituição tradicional e social – tem ou não identidade e personalidade próprias que lhe permita aconselhar formas de celebração não limitadas à eucaristia. Estas preocupações não se solucionam com respostas de matemática teológica do tipo «a Eucaristia é o sinal máximo, o acto supremo e fundamental da comunidade, etc.». Esta valorização − teologicamente justa − do grande sacramento é precisamente o que pouco a pouco fez da Eucaristia o prato único e polivalente, substituto de qualquer outro tipo de celebração. Por outro lado, a eucaristia tornou-se a bandeja na qual inevitavelmente nos são servidos todos os restantes sacramentos (penitência, baptismo, confirmação, unção dos enfermos, ordenações ministeriais) e todo o tipo de aniversários, reuniões, homenagens e outros actos de menor estatuto.

Nestes apontamentos procuram-se respostas de ordem prática: aquelas que permitam evitar a banalização da celebração eucarística profusamente repetida e sempre igual a si mesma. O faro pastoral (e o próprio cansaço dos fiéis) exigem que se renove e se amplie o campo de possibilidades, que seja possível atender aos diversos graus e níveis de fé, que permita enriquecer o património dos sinais celebrativos da comunidade e ampliar os registos pastorais a fim de manter a riqueza e a vitalidade do domingo.


I.           Algumas observações prévias

Existem grupos e assembleias cujo nível de fé – pelo menos em média – é inferior ao exigido para uma Eucaristia autêntica. No entanto (…)

Por último, talvez seja útil referir que, se é verdade que os grupos devem celebrar ao domingo, não é necessário que o façam todos os domingos do ano. O ritmo semanal é, em muitos casos, excessivo. Melhor será escolher alguns domingos do ano (ligados aos grandes tempos litúrgicos ou às actividades do próprio grupo) e libertar os outros domingos. O importante é que ambas as realidades – domingo e celebração – apareçam unidas como que necessitando-se mutuamente, mas eliminando deliberadamente o lado negativo da obrigatoriedade extrínseca e coactiva. Assim, situar as celebrações sempre ao domingo, mas não em todos os domingos, pode representar uma pedagogia implícita, quer do carácter livre e gratuito da assembleia dominical, quer da afinidade interna entre domingo e reunião de baptizados. (…)


Josep Camps, sacerdote e professor de liturgia