«A pastoral numa
linha missionária exige o abandono deste cómodo critério pastoral: "fez-se sempre assim".
Convido
todos a serem ousados e criativos nesta tarefa de repensar os
objectivos, as estruturas, o estilo e os métodos evangelizadores das respectivas
comunidades.», Papa Francisco, Evangelii
Gaudium, n. 33
CELEBRAÇÕES ALTERNATIVAS PARA O DOMINGO
A renovação
teológica e litúrgica do ritual eucarístico operada nestas últimas décadas,
infelizmente não foi acompanhada de uma paralela recolocação do lugar da
celebração da Eucaristia no conjunto das actividades da comunidade cristã. É
verdade que, nesse período, a distribuição e frequência das missas
evoluíram no espaço e no tempo, mas isso aconteceu de forma espontânea, nem
sempre coerente e, por vezes, pouco racional. A
multiplicação das celebrações eucarísticas (vespertinas, antecipadas
para as vigílias, em grupo e em pequenas comunidades, etc.) varreu e reduziu a
praticamente nada um conjunto heteróclito de cultos, devoções e actos piedosos
que configuravam a nossa religiosidade popular. Será isto uma inevitabilidade?
Estes breves apontamentos
limitam-se ao domingo,
dia próprio da assembleia eucarística, porém ocupado por ela de modo exclusivo,
pelo menos na maior parte dos lugares. Pastores e fiéis interrogam-se se a eucaristia deve ser
efectivamente a única forma de celebrar o domingo, se a eucaristia é
apropriada para todo o tipo de grupos e assembleias e se o próprio domingo –
instituição tradicional e social – tem ou não identidade e personalidade
próprias que lhe permita aconselhar formas de celebração não limitadas à
eucaristia. Estas preocupações não se solucionam com respostas de matemática teológica
do tipo «a Eucaristia é o sinal máximo, o acto supremo e fundamental da
comunidade, etc.». Esta valorização − teologicamente justa − do grande
sacramento é precisamente o que pouco a pouco fez da Eucaristia o prato único e
polivalente, substituto de qualquer outro tipo de celebração. Por
outro lado, a eucaristia tornou-se a bandeja na qual inevitavelmente nos são
servidos todos os restantes sacramentos (penitência, baptismo, confirmação, unção
dos enfermos, ordenações ministeriais) e todo o tipo de aniversários, reuniões,
homenagens e outros actos de menor estatuto.
Nestes apontamentos
procuram-se respostas de ordem prática: aquelas que permitam evitar a banalização da celebração eucarística profusamente repetida e sempre igual a si mesma.
O faro pastoral (e o próprio cansaço dos fiéis) exigem que se renove e se amplie
o campo de possibilidades, que seja possível atender aos diversos graus e
níveis de fé, que permita enriquecer o património dos sinais celebrativos da
comunidade e ampliar os registos pastorais a fim de manter a riqueza e a
vitalidade do domingo.
I.
Algumas
observações prévias
Existem grupos e assembleias cujo nível de fé
– pelo menos em média – é inferior ao exigido para uma Eucaristia autêntica. No
entanto (…)
Por último, talvez
seja útil referir que, se é verdade que os grupos devem celebrar ao domingo,
não é necessário que o façam todos os domingos do ano. O ritmo semanal é, em muitos casos, excessivo.
Melhor será
escolher alguns domingos do ano (ligados aos grandes tempos
litúrgicos ou às actividades do próprio grupo) e libertar os outros domingos. O
importante é que ambas as realidades – domingo
e celebração – apareçam unidas como
que necessitando-se mutuamente, mas eliminando deliberadamente o lado negativo
da obrigatoriedade
extrínseca e coactiva. Assim, situar as celebrações sempre ao domingo, mas não
em todos os domingos, pode representar uma pedagogia implícita, quer do
carácter livre e gratuito da assembleia dominical, quer da afinidade interna
entre domingo e reunião de baptizados. (…)
Josep
Camps,
sacerdote e professor de liturgia