Podem
os cristãos (Papas, Cardeais, Patriarcas, Arcebispos, Bispos, Cónegos, Presbíteros,
Diáconos, Leigas e Leigos) ter pronunciamentos políticos e partidários públicos?
Não podem: DEVEM!
O
único que um cristão não pode é tomar o poder através de métodos violentos…
Patriarca de Lisboa_D. Manuel Clemente |
Depois da Entrevista
do Patriarca de Lisboa à RTP_1 (09:VII:2013, jornalista Fátima Campos Ferreira),
duas afirmações, deveras importantes, retive. A primeira é esta: «a Igreja sabe
bem separar os campos» [da política e da
religião]. A segunda afirmação é esta: «nas Assembleias dominicais sem padre,
o leigo pode presidir à Eucaristia».
Quanto à primeira,
é desnecessário recordar o tsunami em que se tornou a 1ª Missa do Patriarca, no
Mosteiro dos Jerónimos, na tarde do passado dia 07:VII:2013 (AQUI, AQUI, AQUI,
AQUI, AQUI, AQUI), a qual, para muitos de nós, trouxe à memória actos litúrgicos do tempo
da ditadura, em que a Hierarquia católica portuguesa, por omissão e silêncio
(leia-se, jogo de cintura nas
palavras, nas cerimónias públicas e em documentos oficiais), “convivia” com toda a naturalidade com as mais representativas
forças opressoras do povo português. Ao
contrário daquilo que o Concílio Vaticano II aconselha (GS 73d), o Patriarca
ainda não foi capaz de valorizar a «macro-caridade» (a caridade política e a
denúncia do pecado estrutural) com o
mesmo índice com que valoriza a «micro-caridade»
(a caridade inter-pessoal e o assistencialismo), o que o torna refém (e, por
não denunciá-la, cúmplice) da situação de pecado estrutural em que TODOS os governantes portugueses
se encontram, hoje em dia (à data da sua 1ª Missa). É de todos
conhecida a leitura política que faz da realidade nacional (cf. caso Isabel
Jonet, comentários à greve dos professores, etc.), a qual é adequadamente
caracterizada pela célebre expressão do teólogo suíço L. Ragaz. Referindo-se a
este tipo de cristãos, que produz este tipo de relação entre fé e política, Ragaz
diz que são «boas enfermeiras, mas maus médicos»… Ou seja, mostram suficiente
sensibilidade e dedicação para com os problemas assistenciais, mas escassa ou
nula sensibilidade para com os problemas estruturais,
os quais, frequentemente, são a causa do sofrimento que apressadamente procuram
aliviar. Na verdade, é difícil querer conciliar o pré-Concílio (cf.
«ESQUEMA da Constituição Dogmática da Igreja»,
liminarmente rejeitado pela Assembleia conciliar, que definia a Igreja como uma
sociedade-perfeita ao lado do Estado laico, e contratualizando com o mesmo Estado,
a quem compete eliminar obstáculos e facilitar o trabalho da Igreja; ou seja,
confundindo o místico com o jurídico e o jurídico com a comunhão), com o
pós-Concílio (cf. 1º-2º cap. da LG; que define a Igreja, antes de
tudo, como Mistério, como Sacramento e como Povo de Deus, ou seja, como
comunhão perfeita à imagem da que existe entre o Pai, o Filho e o Espírito
Santo, com a Missão de «pregar o advento do reino de Deus», como está dito em
LG I-5). Quanto à
separação dos campos fé e política, o mesmo se pode dizer da interpretação
pueril que dá do «Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus» (Mt
22:15-22; Mc 12:13-17; cf. W. Carter, «Mateo y los margenes», J. A. Pagola - CLICAR AQUI - ou
Ulrich Luz, «El
Evangelio según San Mateo»). Quanto a isto, nada do que foi dito pelo Patriarca deve merecer espanto: tudo bate certo com um certo modelo de Igreja que ainda não foi desta que acertou o passo com «a liberdade dos filhos de Deus» (S. Paulo) nem com a «autonomia das realidades temporais».
Quanto à segunda
ideia retida, não tenho dúvidas que ela poderá ter passado despercebida ao
auditório comum, tanto mais que fora proferida – como, aliás, é hábito em D.
Manuel Clemente – muito a correr e sempre embrulhada numa molhada de tópicos,
por vezes, chamados depressa à colação argumentativa, o que estonteia quem o ouve
e transmite a ilusão de que estamos perante um génio. Trata-se duma afirmação que ou é
muito grave ou é ambígua (o que não admira em D. Manuel Clemente) ou foi um lapsus linguæ. Esperemos que alguém (um
teólogo, um pastoralista, eu sei lá) tenha a coragem de a questionar
oficialmente (digo isto, tendo em atenção o
que por aí vai em matéria de “Assembleias Dominicais na Ausência de Padre”…).
Ω
Para confronto e
alargamento destes dois tópicos (a Igreja e a política partidária; a presidência da Eucaristia por leigas/os), deixo em baixo quatro links, que demonstram que não só é possível como indispensável que
TODOS os cristãos se assumam como cidadãos de corpo inteiro por onde quer que
se passeiem: como seres sexuados e amorosos, como seres políticos, seres que
têm vícios, que tomam partido (que eu
saiba, os eclesiásticos quando votam escolhem partidos…), como seres
religiosos, como Filhos muito amados por Deus, como templos do Espírito de Jesus.
Citando o Patriarca de Lisboa, «Deus dessacralizou o mundo e entregou-o a nós»,
ou seja, tudo o que está no mundo deve ser de
todos, por todos e para todos.
1ª Missa do Patriarca, nos Jerónimos |
Podem os cristãos
(Papas, Cardeais, Patriarcas, Arcebispos, Bispos, Cónegos, Presbíteros,
Diáconos, Leigas e Leigos) ter pronunciamentos políticos e partidários públicos? Não podem: DEVEM!
O único que um cristão não pode é tomar o
poder através de métodos violentos. Quanto à afirmação política pública, não há
que ter medo… nem papas na língua! É tão simples: basta «seguir Jesus»… e ter Fé!
Fé no evangelho de Jesus. O Evangelho de Jesus (Lc 4:16-30), nada mais do que o
Evangelho de Jesus (e a respectiva Cruz…, claro! - «o
discípulo não é mais que o Mestre»).
LINKS:
DILMA E AS TRAMÓIAS DA DIREITA
ROMA e a «Teologia da Libertação»
ENCICLICA «LUMEN FIDEI»
LEIGOS E MINISTÉRIOS SACERDOTAIS
ANEXO: padre Anselmo Borges na RTP, acerca do novo Patriarca de Lisboa.
http://www.youtube.com/watch? v=fjQ52ijJriY&feature=em- share_video_user
http://www.youtube.com/watch?