teologia para leigos

16 de maio de 2012

A REALIDADE É QUE ESTÁ ERRADA...

entregues à bicharada...

 


A realidade é que falha, não a teoria


Taxa de Desemprego[vermelho], Subsd. de Desemprego[azul] e RSI[verde]



De acordo com um estudo recente do Observatório das Desigualdades, é cada vez maior a percentagem de desempregados que não beneficia de nenhum tipo de subsídio de desemprego. De facto, em apenas dois anos, o número de desempregados com acesso a esta prestação diminuiu de 64% para 54%, o que significa que quase metade não dispõe hoje de qualquer apoio.

No mesmo período, o número de beneficiários do Rendimento Social de Inserção [RSI] foi reduzido cerca de 20% (430 mil para 340 mil), em resultado das restrições sucessivas que foram sendo introduzidas nesta prestação.

Tudo isto enquanto o desemprego galopou para níveis históricos (de 10,6% em Março de 2010 para os 14,0% registados em Dezembro de 2011) e se apertou vigorosamente a tripla tenaz da austeridade (aumento de impostos, corte nos salários e contracção do Estado social).

O objectivo político desta estratégia é claro: constituir um volumoso exército de mão-de-obra completamente desprotegida, capaz de pressionar eficazmente o mercado de trabalho e assim comprimir os salários, aumentando por essa via os níveis de produtividade e competitividade da economia portuguesa.

É este o modelo em que Vítor Gaspar e Santos Pereira religiosamente acreditam e é com ele que o governo espera relançar a economia e ultrapassar a crise. Não lhes ocorre, evidentemente, que a procura e o consumo interno são factores cruciais e que deles depende, de forma decisiva, a sobrevivência de um tecido empresarial que é composto essencialmente por pequenas e médias empresas e que se vai esboroando às mãos da via austeritária, gerando um desemprego cada vez maior e a consequente perda de receitas fiscais e aumento de despesas (que comprometem, em última instância, o próprio cumprimento do memorando assinado com a troika).[1]

Mas a estratégia de empobrecimento subjacente a esta doutrina constitui, além do mais, um fracasso anunciado: não só Portugal tem já dos mais (clicar aqui) baixos salários da União Europeia como não seremos, duradouramente, capazes de competir com as economias emergentes (nem com a compressão salarial a que estão a ser igualmente sujeitos países mais próximos). Nada que trave, porém, as convicções dos ministros da Economia e Finanças, que nos garantiram – respectivamente – que 2012 (clicar aqui) «marcaria o fim da crise», depois do famoso (clicar aqui) «ponto de viragem», que deveria ter ocorrido há cerca de quatro meses atrás.

Nuno Serra
Ladrões de Bicicletas, 10:V:2012




[1] A surpresa de Vítor Gaspar e do Secretário de Estado do Orçamento, Luís Morais Sarmento, perante o (clicar AQUI)  «inesperado» comportamento do (clicar AQUI) desemprego, só se explica pela incapacidade que revelam em questionar a doutrina que os cega. Tal como também só desse modo é possível entender que continuem a insistir na tecla da «rigidez» do mercado de trabalho, por mais pressionada que esta já tenha sido.