teologia para leigos

16 de maio de 2012

ABDICAR OU DESOBEDECER?

As escolhas da Grécia





Os gregos votaram contra a austeridade que lhes foi imposta. Mas, ao que tudo indica, não votaram pela saída da zona euro. Será possível satisfazer a vontade dos gregos?

É, se admitirmos que há uma alternativa à saída e à submissão, a desobediência. Albert Hirschman pode ser uma inspiração. Mas não me parece que, após novas eleições, as esquerdas da Grécia tenham inteligência e maturidade política para, com base nesta alternativa, constituir um governo de coligação. No entanto, é esse o caminho defendido pelo economista Jacques Généreux, do Parti de Gauche, nesta entrevista de que traduzo um excerto:

Regards.fr: É preciso sair agora do euro?
Jacques Généreux: Tudo o que digo não parece possível no quadro europeu e um número importante de pessoas sérias defende a saída do euro. Há outras vias para além do nacionalismo, frequentemente neo-fascista, ou da abdicação frente ao neoliberalismo. Nós desejamos manter-nos no quadro europeu a partir do qual vieram contributos importantes em termos de ambiente, de segurança, de desenvolvimento económico, de progresso social, de bens públicos. Somos internacionalistas e portanto pelo reforço da cooperação entre os povos. Há uma via para fazer mudar as coisas na União Europeia: a subversão a partir de dentro. Permanecemos dentro e desobedecemos de maneira muito educada e diplomática: prevenimos os outros governos que, em conformidade com o mandato do povo francês, nós não vamos respeitar um certo número de tratados e de directivas europeias.

Arriscamo-nos a medidas de retaliação? Não, existem muitas condições para entrar na União Europeia mas nenhuma para dela ser excluído. Se um único país decide retomar em parte o controlo do seu banco central, se proíbe alguns produtos financeiros, e se retoma o controlo parcial dos movimentos de capitais, em síntese, se decide proteger-se da especulação, isso muda tudo para a França e para a Europa. Os países vizinhos verão que, sem sair do euro, sem drama, podemos proceder de outra forma para resolver a crise. Os gregos, os portugueses, os irlandeses deixarão de aceitar a austeridade e despedirão os actuais governos. A partir desse momento teremos uma revolução através do voto que desembocará numa verdadeira renegociação dos tratados europeus e das directivas.

Jorge Bateira, economista
Ladrões de Bicicletas, blog
05:V:2012