O JESUS QUE ANUNCIAMOS
E SEGUIMOS
Ao falar de Jesus −
aquele que anunciamos – será preciso fazer primeiro uma breve reflexão sobre as
imagens de Jesus que existem na sociedade mexicana. Descobriremos, então, que
há imagens diferentes dependentes de pessoas diferentes, e que essas imagens
não são independentes do lugar que essas pessoas ocupam na sociedade mexicana;
bem pelo contrário, essas imagens estão em relação com inúmeros factores, tais
como, o estilo de vida, o tipo de trabalho que têm, as relações pessoais e
sociais que estabelecem e também o lugar que ocupam por exemplo, neste momento,
na "Aliança para a Produção" propugnada pelo Presidente da República.
Em segundo lugar,
assinalarei os caminhos que percorreram, que nós e muitos cristãos percorremos
ao longo da nossa experiência em que procuramos redescobrir e reencontrar, aqui
e agora, Jesus de Nazaré como Filho de Deus, como o Senhor da História, mas
particularmente como o primeiro dos crentes, como o irmão mais velho que fez o
seu caminho até chegar ao seu Pai, a Deus. Ao longo desse caminho veremos que
todos nós fomos convidados a rasgar a nossa própria imagem de Jesus como via de
acesso inevitável e necessária para encontrar o Jesus que os Evangelhos nos
transmitem e que a Igreja foi redescobrindo dentro das situações históricas
novas em que se vê envolta.
Como ponto
fundamental desta experiência de Jesus gostaria de reflectir sobre aquilo que
ainda temos de andar para conhecer mais autêntica e operativamente Jesus.
Muitas vezes pensamos que já conhecemos Jesus, que já sabemos quem foi ele, o
que fez, e que, por isso, é fácil explicá-lo com ideias, com frases muito
bonitas, com reflexões profundas. Ora, acontece que muitos de vocês, muitos cristãos
de hoje, quer na América Latina, quer noutras partes do mundo, acabaram por se
encontrar com um outro Jesus, diferente daquele em que acreditavam, sempre que
se meteram a fazer as mesmas obras que Jesus fez, sempre que se esforçaram por
anunciar a Boa Nova numa sociedade que não a deseja, em que isso lhe dá dores
de cabeça e que, só de ouvir essa palavra, fica cheia de medo, sociedade que
nem sequer quer ver como essa palavra se transforma em vida e gera vida para os
despojados de vida, ou seja, para as classes crucificadas desta nossa terra.
Por fim, quero ir
um pouco mais longe. Quero falar-vos e levar-vos a conhecer, mais uma vez, o
Jesus que anunciamos, o Jesus que durante anos procurei seguir e que estou
seguro que, para vós e para o mundo em que vivemos, é capaz de despertar
esperança e, sobretudo, desencadear uma nova história para os pobres e
explorados desta terra. [Continua]
Dom
Sergio Méndez Arceo,
bispo de Cuernavaca, México