teologia para leigos

24 de novembro de 2015

«O MEU CRISTO PARTIDO DE CASA EM CASA» [R.CUÉ, sj]




«O MEU CRISTO PARTIDO DE CASA EM CASA»

– um invulgar êxito editorial, uma extraordinária companhia antes de adormecer


«Até que um dia… − e aqui começa propriamente o segundo episódio de "O Meu Cristo Partido" − aconteceu o inesperado. Se bem que, tratando-se de Cristo, tudo se possa esperar. Ele guia-se por dois padrões diferentes.

«Eu tinha estado ausente durante toda a tarde e regressava a casa cansado e aborrecido, depois de me ter esquivado a dois pedidos insistentes para lhes emprestar o Cristo. Tinha sido uma cena desagradável e violenta. Eu regressava com mau sabor de boca. E, pela primeira vez, comecei a duvidar da legitimidade da minha atitude e a suspeitar que me estava a deixar levar pela teimosia duma arbitrária decisão inicial.

«Seria um mero capricho?

«Estava disposto a reexaminar o problema. Até mesmo a mudar de opinião, se o novo exame assim o exigisse. Mas amanhã. Esta tarde, não tinha serenidade para isso.

− Bem! Vou perguntá-lo a Cristo. Ele que resolva! – disse de mim para mim, para acabar de me tranquilizar.

«E entrei em casa.

«Dois minutos depois, estava no meu escritório. Da porta, dirigi o meu olhar para o culpado de toda aquela tensão que tanto me angustiava: o Cristo.

«Fiquei estupefacto.

«O lugar que a imagem costumava ocupar estava vazio. Nem queria acreditar. Parecia-me uma alucinação, provocada pelo desgosto daqueles dias. Abeirei-me da parede. Era verdade. O meu Cristo partido tinha desaparecido.

«Sobre o damasco vermelho do fundo, só restava a marca do seu corpo – sem cruz e sem braço direito – recortada num tom mais vivo, que a luz do sol tinha respeitado.

«Não fui capaz de reagir.

«Ignoro o tempo que ali passei imóvel, em pé, de olhos cravados naquela silhueta desenhada no fundo vazio e desbotado do pano. Como se o damasco estivesse a sangrar por aquele vermelho mais vivo, qual ferida nele deixada pela imagem de Cristo.

«O choque apanhou-me tão desprevenido que fiquei sem capacidade de reacção, simplesmente aniquilado.

«Até que, ao mexer a cabeça, dei pela presença branca de uma carta à beira da lamparina que ardia sem interrupção junto do Cristo e que continuava acesa, alheia ao sucedido.

«O sobrescrito estava em branco e aberto. Continha um papel com quatro linhas escritas à mão numa letra clara e firme:

"Levo o seu Cristo porque preciso dele. Não lho pedi porque sei que é inútil e eu preciso dele. Não fique preocupado. Terei muito cuidado com ele, pois gosto dele pelo menos tanto como o senhor. Fique descansado. Devolver-lho-ei".

«A letra parecia espontânea e sem disfarces. […]

«Eu estava furioso. Tinham-me pisado no ponto mais sensível: o meu amor-próprio. E a minha heróica atitude de inquebrantável recusa a emprestar a imagem de Cristo jazia ridiculamente por terra.

«A essas horas, como estariam a rir, à minha custa, os que soubessem do sucedido!»


[…]


Cristo organiza o Seu escritório

− A bagagem de Cristo

− Manobra de Cristo num «Rolls-Royce»

− A lista negra de Cristo

− Cristo visita uma Confraria

− etc.


(A aventura continua… em mim… em ti… Dorme bem!)






«Mi Cristo roto de Casa en Casa», Ramón Cué, jesuíta, Santiago de Compostela.
«O meu Cristo partido de casa em casa», R. Cué sj, Editorial Perpétuo Socorro, Rua Visconde das Devesas, 630, Vila Nova de Gaia, 20ª edição. ISBN 972-563-184-6 (à venda na Livraria Paulinas, Rua de Cedofeita – Porto)