teologia para leigos

4 de julho de 2015

ESTADO PROVIDÊNCIA contra MERO ASSISTENCIALISMO

«Fingindo enlevados ler na Natureza o cânone da vossa lei, aspirais a algo bem diferente, vós, espantosos comediantes e auto-intrujões! O vosso orgulho quer impor e fazer penetrar na própria Natureza a vossa moral […]. Apesar de todo o vosso amor pela verdade, constrangei-vos, com uma perseverança que chega a hipnotizar-vos, a ver a Natureza por um falso prisma […].

F. Nietzsche, «Para além do bem e do mal», Guimarães Editores, 7ª edç., p. 21.


Jesus adverte os seus discípulos:
«Atenção! Guardai-vos do fermento dos fariseus e do fermento de Herodes!» (Mc 8,15)



[…] Por isso, entre o Estado Providência (Social) para todos, universal e solidário, e o mero assistencialismo não há uma posição intermédia. O primeiro apenas pode ser sustentável enquanto preservar uma condição digna e aceitável para todos; o segundo, pelo contrário, para não ser insustentável, só poderá ser miserabilista.

Os portugueses sabem quanto perderiam sem o Estado Providência (Social) para todos, ou mesmo se ficassem limitados a um Estado Providência (Social) de amparo. Sabem, sobretudo, porque conhecem bem as maneiras como a população em geral dele beneficiou nas últimas décadas. E sabem porque pouca democracia lhes sobrará se não lhes valer este Estado Providência (Social). A continuidade deste Estado Providência (Social) implica a própria continuidade do regime de Portugal.

Este é o quadro geral grave que suscitou e conduziu à Conferência Vencer a Crise com o Estado Social e com a Democracia, organizada pelo Congresso Democrático das Alternativas a 11 de Maio de 2013, no Fórum Lisboa, e que contou com a participação de mais de meio milhar de pessoas inscritas, além de organizações políticas, sociais e sindicais. A conferência debateu e aprovou uma resolução (…) cujas conclusões apontam no sentido de uma denúncia cabal do desmantelamento do Estado Providência (Social) em curso, reiterando-se a carência, a exequibilidade e a vontade informada de um projeto de sociedade assente no Estado Providência (Social):


"Portugal e os portugueses carecem de um Estado social fundado num contrato social estável, robusto e com futuro, devidamente consagrado na Constituição da República Portuguesa, expressão mais forte do nosso projeto de sociedade.

"Em torno dos valores do Estado social há lugar para uma ampla convergência. O atual quadro de incerteza e degradação económica, social e política, reforça a necessidade de uma conjugação de vontades, que assegure a estabilidade, o financiamento e o futuro das funções sociais do Estado, tornando-o menos dependente de políticas orçamentais de conjuntura, de interesses particulares e derivas ideológicas passageiras."


[…] A economia do Estado Providência (Social) não pode ser pensada, nem discutida, somente a partir do binómio despesas/receitas. O Estado Providência (Social) e as respectivas funções têm um valor económico e social acrescido que ultrapassa a mera visão contabilística. Mais do que isso, o Estado Providência (Social) deve ser encarado não como uma mera despesa (ou gordura), mas antes como um investimento que, além de garantir um conjunto de direitos e de níveis básicos de provisão, representa um meio imprescindível para o desenvolvimento económico e humano das sociedades a longo prazo. O Estado Social não é gordura, é músculo!


André Barata e Renato Miguel do Carmo

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