Sacramentos
I
- As dificuldades superficiais
A
experiência dos últimos 30 anos mostra-nos que, nos países de tradição cristã,
enquanto se intensificam as tradições relacionadas com a religiosidade popular,
as práticas
sacramentais diminuem. Existem muitos cristãos, sobretudo jovens,
que sentem resistência e até rejeitam a celebração de qualquer sacramento. É
por isso que, dia após dia, há menos fiéis nas missas, menos casais que se
preocupem em levar os seus filhos ao baptismo, menos pessoas que se confessam,
menos que se casam na Igreja e menos que se ordenam presbíteros. Porque é que
isto acontece?
[…]
II
- O problema de fundo
Os
sacramentos justificam-se e explicam-se a partir de cima ou a partir de baixo? Dizer que
os sacramentos se justificam a partir de cima é o mesmo que dizer o seguinte:
existem sacramentos, porque Deus assim o quis, porque Cristo os instituiu e
porque a Igreja (que representa Cristo) tem autoridade para mandar – e manda –
e porque, se os cristãos se querem salvar, devem aceitar os sacramentos e
colocá-los em prática, a fim de receberem por esse meio a Graça santificante.
Dizer que
os sacramentos se justificam a partir de baixo é o mesmo que dizer o seguinte:
existem sacramentos, porque nós, seres humanos, expressamos as nossas
experiências fundamentais mediante gestos simbólicos, e Deus (que respeita a condição humana até às
últimas consequências) intervém e actua na vida
das pessoas através das experiências que essas mesmas pessoas fazem.
Importa ter sempre em conta que as experiências humanas se expressam mediante
símbolos e, quando são experiências colectivas, também mediante ritos.
A diferença
determinante que existe entre a primeira e a segunda explicação consiste nisto:
quando o sacramento se justifica “a partir de cima” a mediação através da qual
Deus intervém é o rito, ou seja, o «gesto sagrado»
ao qual se atribuiu efeito imediato – de alguma forma, efeito
automático – que santifica o crente, desde que o crente não coloque obstáculos
a isso (óbice). A isso, em teologia, chama-se a eficácia ex opere operato. Na segunda explicação, quando o
sacramento se justifica a partir de baixo, a mediação através da qual Deus
intervém é a experiência humana que o
indivíduo – ou a comunidade –, que celebra o sacramento, faz. Importa não
esquecer que as experiências fundamentais da vida
expressam-se mediante símbolos que
precisam, quando colectivos, de comum acordo e, nesse sentido, ritualizam-se.
O que está em
jogo é o seguinte: se o sacramento é desenvolvido segundo a primeira explicação
(“a partir de cima”) leva inevitavelmente ao ritualismo e, daí, à magia,
o que apenas serve para enganar a pessoa. Mas, se o sacramento é desenvolvido na
linha da segunda explicação (“a partir de baixo”), em primeiro lugar, essa é a
única conceptualização coerente com aquilo que é a vida humana e coerente com a
experiência das pessoas; e, em segundo lugar, é coerente com o que o Novo
Testamento nos ensina acerca da vida dos cristãos. Não se trata de pôr em
dúvida, menos ainda de negar, a intervenção de Deus – mediante a sua Graça
divina – nos sacramentos. O problema consiste nisto: Deus comunica-se ao ser
humano mediante o rito ou mediante a experiência humana que se expressa ritualmente?
III
– De acordo com a vida
A vida de
uma pessoa não muda nem melhora consoante a eficácia que sobre ela possam ter
determinadas cerimónias, que, ao cabo e ao resto, acabam por ser rituais
mágicos. A vida de uma pessoa muda e melhora quando essa pessoa vive experiências muito profundas, as quais lhe
modificam os afectos e os sentimentos (a sua sensibilidade) e, portanto,
modifica também a sua maneira de pensar, os seus critérios, os valores que ela
aprecia ou que ela despreza, enfim, modifica todo o seu comportamento. É
costume dizer-se que a vida não muda “por artes mágicas”, nem mesmo quando a
essa magia damos nomes divinos ou quando falamos de «sinais sagrados», de
«eficácia sacramental» ou de «instituição divina».
Existe
magia num gesto humano (seja ele qual for) quando a esse gesto se atribui eficácia
automática, ou seja, quando imaginamos que, realizado o gesto (a que
se chama «signo», «rito» ou algo parecido), pela virtude divina que
presumivelmente esse gesto tem, aquele que o põe em prática de imediato se
transforma, se torna melhor, muda de vida ou consegue o efeito benéfico a que
aspira. Naturalmente, os que pensam dessa maneira colocam (…)
José
M. Castillo
Os sacramentos:
- cerimonial religioso e social?
«NOTÍCIAS AO MINUTO» - D. JANUÁRIO TORGAL FERREIRA
http://www.noticiasaominuto.com/pais/160855/catolicos-deste-governo-nao-deviam-comungar#.UuRFjLSp2po
«RDP – NOTÍCIAS»
- D. JANUÁRIO TORGAL FERREIRA
A OPINIÃO DO PATRIARCA DE LISBOA
Na entrevista concedida a Paulo
Magalhães, o
Patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, a 6 de Fevereiro de 2014
(TVI_24, «Política Mesmo») disse que não chegaria tão longe [referindo-se às afirmações de D. Januário
Torgal Ferreira]: “Do ponto de vista do mistério sacramental… Não,
não diria tanto”.
[Foi nesta entrevista, mas este
excerto de vídeo não inclui a afirmação; http://www.tvi24.iol.pt/503/sociedade/d-manuel-clemente-patriarca-de-lisboa-politica-mesmo-coadocao-pai-mae/1535735-4071.html]
Questão
para debate.
«Cristo faz-se presente na celebração sacramental da
Igreja, mas a comunicação real com Cristo, a experiência da graça, só acontece
quando o homem se abre, a partir da fé, à comunicação de Deus. Isto
obriga a que os
sacramentos não devam ser dados indiscriminadamente, como às vezes
ocorre na praxis pastoral hoje em dia. Quando, por parte
dos cristãos, não acontecem as disposições requeridas (seja por
falta de fé, seja por se encontrarem em condições éticas e
morais que não correspondam à identificação com Cristo, ou
porque falta o uso da razão e da maturidade necessárias para captar,
compreender e assimilar o significado dos sacramentos), os sacramentos não devem ser administrados. Não é
suficiente referir a eficácia do sacramento para o administrar
indiscriminadamente. A praxis duma administração massiva dos sacramentos está,
em parte, determinada por uma concepção mágica,
objectivante e coisificada que descura o seu carácter relacional e interpessoal (…).» [Juan A. Estrada, sj, Granada_Espanha]