teologia para leigos

9 de janeiro de 2014

SACRAMENTOS [CASTILLO]

Sacramentos





I - As dificuldades superficiais

A experiência dos últimos 30 anos mostra-nos que, nos países de tradição cristã, enquanto se intensificam as tradições relacionadas com a religiosidade popular, as práticas sacramentais diminuem. Existem muitos cristãos, sobretudo jovens, que sentem resistência e até rejeitam a celebração de qualquer sacramento. É por isso que, dia após dia, há menos fiéis nas missas, menos casais que se preocupem em levar os seus filhos ao baptismo, menos pessoas que se confessam, menos que se casam na Igreja e menos que se ordenam presbíteros. Porque é que isto acontece?

[…]


II - O problema de fundo

Os sacramentos justificam-se e explicam-se a partir de cima ou a partir de baixo? Dizer que os sacramentos se justificam a partir de cima é o mesmo que dizer o seguinte: existem sacramentos, porque Deus assim o quis, porque Cristo os instituiu e porque a Igreja (que representa Cristo) tem autoridade para mandar – e manda – e porque, se os cristãos se querem salvar, devem aceitar os sacramentos e colocá-los em prática, a fim de receberem por esse meio a Graça santificante.

Dizer que os sacramentos se justificam a partir de baixo é o mesmo que dizer o seguinte: existem sacramentos, porque nós, seres humanos, expressamos as nossas experiências fundamentais mediante gestos simbólicos, e Deus (que respeita a condição humana até às últimas consequências) intervém e actua na vida das pessoas através das experiências que essas mesmas pessoas fazem. Importa ter sempre em conta que as experiências humanas se expressam mediante símbolos e, quando são experiências colectivas, também mediante ritos.

A diferença determinante que existe entre a primeira e a segunda explicação consiste nisto: quando o sacramento se justifica “a partir de cima” a mediação através da qual Deus intervém é o rito, ou seja, o «gesto sagrado» ao qual se atribuiu efeito imediato – de alguma forma, efeito automático – que santifica o crente, desde que o crente não coloque obstáculos a isso (óbice). A isso, em teologia, chama-se a eficácia ex opere operato. Na segunda explicação, quando o sacramento se justifica a partir de baixo, a mediação através da qual Deus intervém é a experiência humana que o indivíduo – ou a comunidade –, que celebra o sacramento, faz. Importa não esquecer que as experiências fundamentais da vida expressam-se mediante símbolos que precisam, quando colectivos, de comum acordo e, nesse sentido, ritualizam-se.

O que está em jogo é o seguinte: se o sacramento é desenvolvido segundo a primeira explicação (“a partir de cima”) leva inevitavelmente ao ritualismo e, daí, à magia, o que apenas serve para enganar a pessoa. Mas, se o sacramento é desenvolvido na linha da segunda explicação (“a partir de baixo”), em primeiro lugar, essa é a única conceptualização coerente com aquilo que é a vida humana e coerente com a experiência das pessoas; e, em segundo lugar, é coerente com o que o Novo Testamento nos ensina acerca da vida dos cristãos. Não se trata de pôr em dúvida, menos ainda de negar, a intervenção de Deus – mediante a sua Graça divina – nos sacramentos. O problema consiste nisto: Deus comunica-se ao ser humano mediante o rito ou mediante a experiência humana que se expressa ritualmente?


III – De acordo com a vida

A vida de uma pessoa não muda nem melhora consoante a eficácia que sobre ela possam ter determinadas cerimónias, que, ao cabo e ao resto, acabam por ser rituais mágicos. A vida de uma pessoa muda e melhora quando essa pessoa vive experiências muito profundas, as quais lhe modificam os afectos e os sentimentos (a sua sensibilidade) e, portanto, modifica também a sua maneira de pensar, os seus critérios, os valores que ela aprecia ou que ela despreza, enfim, modifica todo o seu comportamento. É costume dizer-se que a vida não muda “por artes mágicas”, nem mesmo quando a essa magia damos nomes divinos ou quando falamos de «sinais sagrados», de «eficácia sacramental» ou de «instituição divina».

Existe magia num gesto humano (seja ele qual for) quando a esse gesto se atribui eficácia automática, ou seja, quando imaginamos que, realizado o gesto (a que se chama «signo», «rito» ou algo parecido), pela virtude divina que presumivelmente esse gesto tem, aquele que o põe em prática de imediato se transforma, se torna melhor, muda de vida ou consegue o efeito benéfico a que aspira. Naturalmente, os que pensam dessa maneira colocam (…)

José M. Castillo





Os sacramentos:
- cerimonial religioso e social?





«NOTÍCIAS AO MINUTO» - D. JANUÁRIO TORGAL FERREIRA


«RDP – NOTÍCIAS» - D. JANUÁRIO TORGAL FERREIRA





A OPINIÃO DO PATRIARCA DE LISBOA

Na entrevista concedida a Paulo Magalhães, o Patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, a 6 de Fevereiro de 2014 (TVI_24, «Política Mesmo») disse que não chegaria tão longe [referindo-se às afirmações de D. Januário Torgal Ferreira]: Do ponto de vista do mistério sacramental… Não, não diria tanto.



Questão para debate.

«Cristo faz-se presente na celebração sacramental da Igreja, mas a comunicação real com Cristo, a experiência da graça, só acontece quando o homem se abre, a partir da fé, à comunicação de Deus. Isto obriga a que os sacramentos não devam ser dados indiscriminadamente, como às vezes ocorre na praxis pastoral hoje em dia. Quando, por parte dos cristãos, não acontecem as disposições requeridas (seja por falta de fé, seja por se encontrarem em condições éticas e morais que não correspondam à identificação com Cristo, ou porque falta o uso da razão e da maturidade necessárias para captar, compreender e assimilar o significado dos sacramentos), os sacramentos não devem ser administrados. Não é suficiente referir a eficácia do sacramento para o administrar indiscriminadamente. A praxis duma administração massiva dos sacramentos está, em parte, determinada por uma concepção mágica, objectivante e coisificada que descura o seu carácter relacional e interpessoal (…).» [Juan A. Estrada, sj, Granada_Espanha]