O CONTRIBUTO DA ÉTICA ARISTOTÉLICA
PARA A ÉTICA CRISTÃ DOS TEMPOS
MODERNOS
(…) «Grande parte da filosofia política da Modernidade
assumiu como missão sustentar a legitimidade das regras do jogo, as quais
protegem a liberdade e a igualdade de oportunidades para todos, só que, agora,
constatamos que há que levar o diálogo ético para lá dum simples acordo acerca de
regras e procedimentos. Dito de outro modo, temos de falar também dos
conteúdos do bem comum, o qual não pode ser entendido apenas como propriedade
material. A asserção que diz «o dinheiro não faz felicidade» aplica-se também
ao âmbito social. A verdadeira felicidade da qual falam, quer Aristóteles, quer
os seus intérpretes judeus, muçulmanos e cristãos na Idade Média consiste em
partilhar um projecto social e não em produzir mais e mais e em que cada um
consuma, a seu bel-prazer, o que conseguiu adquirir. O individualismo da nossa cultura tem
causas estruturais e tem de ser analisado também do ponto de vista político.
«Não queremos nem podemos permitir que o Estado
imponha coercivamente um modelo de felicidade obrigatório para todo o planeta,
mas isso não impede que os cidadãos possam fazer do espaço público um espaço de
diálogo onde exponham, conversem e discutam as suas convicções acerca do que é,
para eles, uma «vida boa».
«Analistas de sensibilidades diversas diagnosticaram
uma crise de solidariedade nas nossas sociedades. Um filósofo tão comprometido
com a tradição da secularização ilustrada como é Jürgen Habermas defendeu
recentemente que «também é do interesse do próprio Estado constitucional tratar
com respeito e cuidado de todas as fontes culturais [especialmente a religião] donde se alimenta a consciência normativa
da solidariedade dos cidadãos»[1].
Numa sociedade verdadeiramente plural e solidária, não basta tolerarmo-nos mutuamente:
temos de dialogar sobre a finalidade, os propósitos, quer da nossa vida
pessoal, quer da nossa vida social. Perguntas como "Que sentido dou à minha vida?" ou "Qual é a minha ideia de sociedade feliz?" devem regressar ao
fórum público, e aí, então, os cristãos — com a máxima humildade, sem
arrogância verbal alguma, e sem a mínima intenção de impor o que quer que seja
a ninguém — temos meia dúzia de coisas a propor. (…)»
Alberto de Mingo Kaminouchi, redentorista