«O MEU CRISTO PARTIDO DE CASA EM CASA»
– um invulgar êxito editorial, uma
extraordinária companhia antes de adormecer
«Até
que um dia… − e aqui começa propriamente o segundo episódio de "O Meu Cristo
Partido" − aconteceu o inesperado. Se bem que, tratando-se de Cristo, tudo se
possa esperar. Ele guia-se por dois padrões diferentes.
«Eu
tinha estado ausente durante toda a tarde e regressava a casa cansado e
aborrecido, depois de me ter esquivado a dois pedidos insistentes para lhes
emprestar o Cristo. Tinha sido uma cena desagradável e violenta. Eu regressava
com mau sabor de boca. E, pela primeira vez, comecei a duvidar da legitimidade
da minha atitude e a suspeitar que me estava a deixar levar pela teimosia duma
arbitrária decisão inicial.
«Seria
um mero capricho?
«Estava
disposto a reexaminar o problema. Até mesmo a mudar de opinião, se o novo exame
assim o exigisse. Mas amanhã. Esta tarde, não tinha serenidade para isso.
−
Bem! Vou perguntá-lo a Cristo. Ele que resolva! – disse de mim para mim, para
acabar de me tranquilizar.
«E
entrei em casa.
«Dois
minutos depois, estava no meu escritório. Da porta, dirigi o meu olhar para o
culpado de toda aquela tensão que tanto me angustiava: o Cristo.
«Fiquei
estupefacto.
«O
lugar que a imagem costumava ocupar estava vazio. Nem queria acreditar.
Parecia-me uma alucinação, provocada pelo desgosto daqueles dias. Abeirei-me da
parede. Era verdade. O meu Cristo partido tinha desaparecido.
«Sobre
o damasco vermelho do fundo, só restava a marca do seu corpo – sem cruz e sem
braço direito – recortada num tom mais vivo, que a luz do sol tinha respeitado.
«Não
fui capaz de reagir.
«Ignoro
o tempo que ali passei imóvel, em pé, de olhos cravados naquela silhueta
desenhada no fundo vazio e desbotado do pano. Como se o damasco estivesse a
sangrar por aquele vermelho mais vivo, qual ferida nele deixada pela imagem de
Cristo.
«O
choque apanhou-me tão desprevenido que fiquei sem capacidade de reacção,
simplesmente aniquilado.
«Até
que, ao mexer a cabeça, dei pela presença branca de uma carta à beira da
lamparina que ardia sem interrupção junto do Cristo e que continuava acesa,
alheia ao sucedido.
«O
sobrescrito estava em branco e aberto. Continha um papel com quatro linhas
escritas à mão numa letra clara e firme:
"Levo o seu Cristo porque preciso dele. Não
lho pedi porque sei que é inútil e eu preciso dele. Não fique preocupado. Terei
muito cuidado com ele, pois gosto dele pelo menos tanto como o senhor. Fique
descansado. Devolver-lho-ei".
«A
letra parecia espontânea e sem disfarces. […]
«Eu
estava furioso. Tinham-me pisado no ponto mais sensível: o meu amor-próprio. E
a minha heróica atitude de inquebrantável recusa a emprestar a imagem de Cristo
jazia ridiculamente por terra.
«A
essas horas, como estariam a rir, à minha custa, os que soubessem do sucedido!»
[…]
−
Cristo organiza o Seu escritório
− A bagagem de
Cristo
− Manobra de Cristo
num «Rolls-Royce»
− A lista negra de
Cristo
− Cristo visita uma
Confraria
− etc.
(A aventura continua… em mim… em ti…
Dorme bem!)
«Mi Cristo roto de Casa en
Casa», Ramón Cué, jesuíta, Santiago de
Compostela.
«O meu Cristo partido de casa
em casa», R. Cué sj, Editorial Perpétuo Socorro,
Rua Visconde das Devesas, 630, Vila Nova de Gaia, 20ª edição. ISBN 972-563-184-6
(à venda na Livraria Paulinas, Rua de Cedofeita – Porto)