“E, no entanto,
nunca aqui estive”
O poeta Foix, que cuida que chegará aos cem anos e que já vai
a caminho deles com os seus gloriosos noventa e três, dizia um dia ao seu amigo
Espinàs: «Tenho vontade de mandar colocar uma lápide na minha sepultura que
diga “E, no entanto, nunca aqui estive”».
Na verdade, nunca estaremos numa sepultura. Um ser humano
nunca entrará numa sepultura: sempre estará na vida, quer antes, quer depois da
morte.
O romantismo passou da poesia e dos enamorados para o
para-choques dos camiões TIR: «Sigo o luar».
«O coração é um recipiente muito pequeno e, no entanto,
dentro dele encontramos todas as coisas.» (S. Macário do Egipto)
A vida humana não pode caber numa sepultura…
A vida humana é como o mistério do Natal: todos os anos é
sempre o mesmo mistério, no entanto, caldeado pelas mais díspares
circunstâncias… É por isso que o Natal nunca se repete, tal como as vidas
humanas: o Natal e a vida humana apenas atraem e desafiam a nossa vontade de
mandar (Mateus 2, 3 ou a postura do Vaticano sobre o «caso» Eluana Englaro).
Deveríamos saber conjugar o verbo “liberdade minimamente
mesquinha”… a fim de sermos dignos de existir e de deixar os outros simplesmente existir. Até porque somos todos apenas filhos, «irmãos» (ninguém é pai/dono do projecto
de vida de ninguém; Mateus 23; sobretudo v. 8) e porque só existe vida humana dentro da existência. As
palavras “vida” e “morte” são conceitos tão abstractos e fantasiosos que …
nunca sobreviveriam fora da existência de cada um de nós.
Tudo a postos, hoje, no Parlamento, para a discussão potencialmente mais fraturante da legislatura. Mas ainda faltam semanas para a votação final global. A despenalização vai ser aprovada - falta saber em que condições concretas.
DN, 20-02-2020
RESULTADO DA VOTAÇÃO
NO PARLAMENTO
RTP-NOTÍCIAS
21-02-2020