OS POBRES E A LIBERTAÇÃO DOS HOMENS
A
acção e a reflexão no hoje e aqui da História dos homens dificilmente poderão
desinteressar-se da temática das páginas que se seguem. Queiramo-lo ou não, as
vítimas da sociedade industrial, sejam elas trabalhadores de países
desenvolvidos ou povos do Terceiro Mundo, reivindicam cada vez mais, e
desempenham já um papel fundamental na transformação do mundo.
Como
é evidente, não é a primeira vez que tal acontece na nossa História humana. A
aventura desse povo milenário — que fundamentalmente conhecemos pela Bíblia —
está profundamente marcada por esta problemática. Ora essa aventura, dada a
influência inegável do cristianismo, marca profundamente os homens e a
humanidade que hoje somos.
Tentar
compreendê-la seriamente pode ser para o não crente um simples exercício de
informação histórica, certamente interessante mas não fundamental. Porém, para
o cristão, a aventura desse povo é determinante. Nela se revela o Deus em que
acredita e o povo de Deus a que hoje quer pertencer.
Opções
e circunstâncias da vida colocaram André Rebré, autor do texto que a seguir se
publica, numa situação ímpar para interrogar a Bíblia sobre esse assunto. Padre
francês, companheiro de reflexão e acção de muitos militantes operários desse
país que é a França, ele foi igualmente, até há pouco tempo, Superior Geral dos
«Filhos da Caridade»[1],
Instituto religioso ao serviço do Evangelho no meio da classe operária
internacional. Sendo assim, as interrogações subjacentes à sua reflexão da
Bíblia muito devem não só aos trabalhadores de países industrializados (França,
Canadá, Espanha, Portugal), mas também ao povo do Terceiro Mundo (Brasil, Costa
do Marfim), e até a trabalhadores de países socialistas (Cuba).
A
Bíblia que André Rebré interroga não é o repositório de histórias maravilhosas
e esquisitas, nem o lugar da Revelação de um Deus ausente da História dos
homens.
Essa visão da Bíblia para a qual, infelizmente, talvez tenhamos sido
predispostos, está longe de poder dar conta da verdade profunda que ela contém.
Utilizando instrumentos apropriados, que de passagem nos vai indicando, o
professor de exegese do Instituto S. Paulo faz reviver para nós esse povo da
Bíblia que na sua caminhada histórica encontra um Deus próximo e exigente.
No
texto que agora se publica, e que é inédito em livro, é o povo do Antigo
Testamento, ou mais exactamente os pobres desse povo, que são colocados diante
de nós. Acontece que André Rebré já concluiu um estudo semelhante sobre o Novo
Testamento (…) com o título «A Mensagem
Libertadora de Jesus Cristo»[2].
Não
é fácil traduzir obras deste género para um público o mais vasto possível.
Certas expressões técnicas, inacessíveis ao iniciado, foram sacrificadas. O
aparelho crítico foi sistematicamente remetido para as páginas finais. Espera
assim o tradutor-adaptador, a quem o autor correu o risco de dar carta-branca,
ter contribuído para que o texto fosse mais acessível a todos aqueles que gostariam
de o conhecer sem que, por isso, deixe de ter interesse para os mais
familiarizados com a ciência bíblica.
Pe.
Rodrigo Mendes, «Filhos da Caridade» (Portugal)
E.D.O.C./1 – Edições
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