encimado por um deus solar
“A única maneira de manter a ordem, numa casa ou num reino, é ter muitas pessoas que cumprem por si mesmas todas as regras, sem necessitarem de receber recompensas ou castigos. Mas, então qual a razão que as leva por si mesmas a cumprir as regras ditadas pela autoridade sem recompensas nem castigos? A razão é simples: nesses “reinos ordeiros” dos primórdios da humanidade, as pessoas cumpriam as regras porque acreditavam nas regras.
É esse o segredo de toda a ordem que é
bem-sucedida: as pessoas obedecem às regras
porque acreditam nelas.
Mas o que leva as pessoas a acreditar nas
regras? Mais importante e mais extraordinário ainda, pergunta-se: o que é que
as leva - inclusivamente, as pessoas pobres e infelizes, as pessoas escravizadas
e os infelizes Dálites
- a acreditar em regras que as tornam tão infelizes?
A resposta é: as
histórias! Podes pensar que
contar histórias não tem nada de socialmente útil, mas, na verdade, a capacidade para "criar histórias mitológicas" (história das origens) é o maior poder que os
humanos têm. É o nosso superpoder secreto! Ao convencer as pessoas a acreditar nas regras,
um bom contador de histórias pode fazer o trabalho de 100 soldados e com muito
mais eficiência que estes. Naqueles tempos
antigos (e ainda no nosso século XXI…) uma tribo humana ancorada numa boa «história das suas origens» era o que havia de mais poderoso no mundo.
Depois da Revolução Agrícola (Neolítico,
10 000 a.e.c.), os sacerdotes e os chefes usavam as histórias para convencer as pessoas a
trabalhar arduamente, a construir denodadamente templos e a guardar muralhas dia e noite. À medida que as
aldeias cresciam e se transformavam em pequenas cidades, em que as tribos cresciam
e se transformavam em reinos, as histórias também cresciam (criativamente). Pequenas tribos
conseguiam funcionar com pequenas histórias, mas, para
criar um grande Reino, era preciso uma grande história, uma História Grandiosa,
fascinante, irresistível.
Cada
Grande Reino tem a sua própria Grande História e essa grande história, por ser
grandiosa e empolgante, justifica todas as regras do reino.”
Y. N. Harari, “Indomáveis 2” (p. 140: ‘O segredo do poder’)
O CULTO DE YHWH EM JUDÁ
Ao contrário do que ocorreu no Norte
(Israel), a veneração a YHWH em Jerusalém sob a forma de um bovino não está
demonstrada. Na capital do reino de Judá, YHWH surge sobretudo na figura de um
rei sentado no trono, que de algum modo faz lembrar o deus “El”.
É provável que YHWH, ao longo do
tempo, tenha substituído pouco a pouco a divindade solar e se tenha convertido,
não apenas no deus supremo de Jerusalém, mas no deus supremo da totalidade do
território de Judá. É provável que esta evolução se tenha verdadeiramente dado,
tal como sugere uma inscrição de Khirbet Beit Lei, sítio de uma escavação situada a oito quilómetros a
Leste de Lakish. Este grafito estava dentro de um túmulo que foi posto a nu
aquando da construção de uma estrada. A inscrição – difícil de ler pois parece ter sido gravada
às escuras, na ausência de luz ou com muito pouca luz diurna – poderia querer
dizer: «YHWH é o deus de todo o país (de toda a
Terra), as montanhas de Judá pertencem ao deus de Jerusalém». Neste
texto, cuja datação varia entre os séculos VIII e VI, observamos que se
reivindica um território muito mais extenso, um território para um deus que vai
muito para lá do título de «deus de Jerusalém». Isto confirmaria a teoria
segundo a qual, a princípio, YHWH era o deus de
Jerusalém e estava ligado à dinastia davídica. Este vínculo poderia,
portanto, explicar as imagens de realeza de YHWH que, aparentemente, são
dominantes no Sul.
Ano 1 000 aec –
pequenas, dispersas e frágeis realezas tribais de arameus
muito dependentes
dos poços de água (ex. Josué 10, etc.)
1. DIVERSIDADE DE SANTUÁRIOS YHAVISTAS EM JUDÁ
Tal como no Norte, YHWH não foi venerado
apenas num único lugar. Fora de Jerusalém
existiam outros santuários importantes, ainda que alguns deles não sejam
citados directamente na Bíblia hebraica por razões de censura. Mesmo
assim, esta mesma Bíblia hebraica evoca a existência de alguns «bãmôt» − «lugares elevados» − no Norte e, ao que parece, em maior
número no Sul. Estes «bãmôt» surgem sobretudo nos livros de Samuel e nos
livros dos Reis (e em textos paralelos dos livros das Crónicas). Trata-se de ‘santuários
locais’, não controlados pelo rei, na maior parte das vezes construídos
sobre colinas ou lugares elevados. O texto de 2 Reis 23,8 menciona os «bãmôt das portas»,
o que leva a crer que também existiam santuários nas casamatas. Há evidência de que, na maioria das vezes, se trata de santuários a céu
aberto nos quais se encontravam uma ou várias estelas («massebôt») e uma
«ãsêrãh» (uma «árvore» ou «poste sagrado»), tal como o comprova esta
passagem do 1º livro dos Reis 14,23: «Eles edificaram para si ‘lugares
altos’, altares e ‘monumentos à deusa Achera’ sobre todas as ‘altas colinas’ e
debaixo de todas as ‘árvores frondosas’.» Em alguns casos, também havia espaços
cobertos para permitir que se tomassem refeições colectivas[1].
Estes lugares elevados, na sua maioria, eram
santuários yahvistas. Há apenas um texto que critica Salomão por ter
construído «sobre a montanha que está em frente de Jerusalém um ‘lugar elevado’
para Camós, o abominável deus de Moab» (1 Reis 11,7). Que os «bamôt» eram
santuários yahvistas, isso é confirmado pelas observações que fizeram os
próprios redactores dos livros dos Reis, os quais, a propósito de um certo
número de soberanos de Judá considerados bons soberanos, dizem: «De facto, os lugares elevados não
desapareceram; o povo continuava a ir aí para oferecer sacrifícios e perfumes
[incenso]» (2 Reis 15,4 etc.). No entanto, a dois reis − Ezequias e Josias − os redactores reconheceram-lhes a
vontade de destruir esses lugares. A história tem destas ironias: provavelmente
estes lugares elevados eram típicos de Israel, e até de Judá, mas historicamente
estavam condenados a ceder toda a sua existência e respectivo fascínio (efeito
de atracção de adoradores) em favor do templo de Jerusalém.
Outros templos yahvistas do Sul
encontravam-se seguramente em Arad, um santuário com uma ou duas «massebôt»
(as quais representavam YHWH com a sua companheira, a deusa Aserá; cf. “A prostituta sagrada e os
entrelaçamentos transculturais no antigo Crescente Fértil”, por Janaina de Fátima Zdebskyi).
Não é fácil interpretar os dados arqueológicos da escavação[2],
já que se encontraram as estelas derrubadas do lado exterior do Santo dos
santos. À primeira vista parecia tratar-se dos restos de uma destruição levada
a cabo por Josias, ou eventualmente pelos assírios, contudo é mais provável que
se tratasse de uma camuflagem do santuário a fim de iludir o exército assírio
e, deste modo, evitar a sua devastação absoluta, o seu completo
desaparecimento. Durante a época da monarquia de Judá, Arad era uma guarnição
real, pelo que é lógico que tenha ali existido um santuário yahvista.
É provável que também tivesse
existido um templo na cidade de Lakis, centro de administração real de Sefelá. No ‘alto-relevo assírio’ que representa a tomada de Lakis vêem-se
alguns soldados assírios que carregam um enorme incensário (turíbulo) demasiado
grande para uso particular (uso privado), o que leva a crer que provém de um
lugar de culto.
Por fim, em Bersebá encontraram-se os restos de um impressionante altar com quatro cornos, o
qual, sem lugar para dúvidas, aponta para a existência de um santuário
yahvista.
2. A ASCENSÃO, EM JERUSALÉM, POR PARTE DE
YHWH
Como já sublinhamos atrás, nem sequer
em Jerusalém YHWH foi o ‘deus único’ a ser venerado. Segundo mostra a
investigação, YHWH coabitou no templo com uma
divindade solar, à qual provavelmente estava subordinado. Quando foi
que YHWH se converteu no deus nacional de Judá? Se olharmos para os reinos que
ficam a Este do rio Jordão – todos eles
da mesma dimensão territorial −, constatamos que em Moab[3], e quiçá
também em Amón, os membros do panteão cananeu (panteão, evidentemente, menos
grandioso do que os grandes panteões assírios) apagam-se, ficam-se na sombra do
deus dinástico, o qual cresce e ocupa cada vez mais espaço. É muito provável
que em Jerusalém tenha ocorrido um desenrolar de acontecimentos semelhante.
Ao nível do culto real, é provável que
se tenha desenvolvido muito rapidamente a superioridade de YHWH sobre a
divindade solar. Um indício deste tipo de evolução temo-lo provavelmente num
episódio do Livro de Josué. O capítulo 10 narra uma batalha dos
israelitas sob o comando de Josué contra um tal Adoni-Sédeq («Adonisédec» = «Meu
Senhor é Sédeq»[4]),
rei de Jerusalém, e uma coligação de reis dos
amorreus (Josué 10,3-5).
Segundo o relato, YHWH intervém nesta guerra lançando pedras a partir do céu (10,10-11):
«(v.12) No
dia em que o SENHOR entregou os amorreus nas mãos dos filhos de Israel, Josué […]
disse, na presença dos israelitas: «Detém-te, ó Sol
(«Semes»), sobre Guibeon; e tu, ó Lua
(«Yãreah»), sobre o vale de Aialon.» (13a) E o Sol deteve-se, e a Lua
parou até o povo se ter vingado dos seus inimigos. Não está isto escrito no
Livro do Justo?» [Josué 10,12-13a]
Este episódio pode ser interpretado de duas
maneiras: ou se trata de um texto do século VII, que insiste na superioridade
de YHWH face às divindades solar e lunar muito populares entre os assírios, ou
se trata de um texto mais antigo que reflecte a rivalidade entre YHWH, deus do exército de Israel, e as divindades tutelares de Jerusalém. É muito
difícil fazer uma escolha fiável entre estas duas hipóteses. Caso tenha
verdadeiramente existido um «Livro do Justo», seguramente conteria uma colecção
de peças poéticas entre as quais talvez figurasse a “dedicação do templo[5]” que
também falaria do Sol. Nesse caso estaríamos diante de fragmentos de uma
coleção mais antiga que procurava definir a relação entre YHWH e os outros
deuses de Jerusalém.
3. ”EL” E YHWH EM JERUSALÉM
Já vimos atrás que o episódio relatado em Génesis 14, 17-24 retrata um encontro entre Abraão e o
sacerdote de «El Elyon», em Salém, ou seja, sem sombra de dúvidas em Jerusalém.
A versão dos massoretas identifica este deus com YHWH, o que, contudo, não
parece ser o caso no texto hebraico a partir do qual se elaborou a versão
grega. É, portanto, possível que este texto muito recente conserve ainda uma
memória de uma divindade chamada «El Elyon» venerada em Jerusalém segundo o modelo da veneração de «El» em Ugarit,
e que só muito mais tarde se tenha operado a identificação de YHWH com «El».
Conservam-se, no livro dos Salmos, algumas memórias desta progressiva identificação. Por exemplo, o Salmo
82 começa com a descrição de uma
assembleia de deuses presidida por “El”: «Deus [Elohim]
preside à assembleia divina [El],
profere as suas sentenças no meio dos deuses». Quem é este «Elohim»? Tendo em atenção que estamos no contexto do «Saltério
elohista»[6], é provável que tenhamos de reconstruir o YHWH primitivo.
Sendo assim, teríamos de tomar o cenário que este Salmo nos apresenta como reflexo da ascensão de YHWH no seio da assembleia dos
deuses.
Depois dos versículos 2-5, sem que percebamos
bem a quem eles se dirigem − se aos responsáveis da terra, se a certos deuses
(o autor do Salmo censura esses deuses por desrespeitarem o Direito) − o versículo 6 dá a ideia de que todos os deuses
são filhos de Elyon: «Eu disse: "Vós sois deuses, todos vós sois filhos do
Altíssimo” [Elyon]». Voltamos, aqui, a
encontrar-nos diante da ideia de que todos os deuses do Próximo Oriente são
filhos de «El Elyon»[7]. A ser assim, YHWH também é um dos seus filhos.
Se o versículo é a voz de YHWH, temos de concluir que YHWH está acima dos
outros deuses, a quem ele anuncia a morte: «Com efeito, morrereis com a
humanidade e caireis como qualquer um dos seus príncipes». Esta afirmação
recorda particularmente um ‘paralelo mesopotâmico’: a
ascensão do deus Marduk − a
princípio era apenas o deus tutelar da cidade da Babilónia – à categoria do deus mais importante do
panteão babilónico[8].
O Salmo 82
termina com um comentário da assembleia (v. 8): «Levanta-te, ó Elohim, para
julgar a terra, porque todas as nações te pertencem [são agora teu
património].» Se neste Salmo a expressão «Elohim» é idêntica a YHWH, então,
este último versículo está a reivindicar para YHWH todos os poderes de «El
Elyon». Enquanto que, na versão original do poema que está em Deuteronómio
32,8, YHWH recebe Israel como seu
património («nahãlãh») das mãos de «El Elyon» [“Quando o Altíssimo distribuía
os povos, quando agrupava os filhos de Adão, estabeleceu as fronteiras dos
povos segundo o número dos filhos de Israel.”], o versículo 8 do Salmo 82
afirma que toda as nações são «nahãlãh» de Elohim/YHWH.
4. ASPECTOS SOLARES DE YHWH EM JERUSALÉM
Durante esta ascensão, seguramente que YHWH
assumiu características e funções do deus solar com quem passou a habitar em
Jerusalém. A importância do culto solar em
Jerusalém pode ser explicada, entre outras, por influência egípcia.
A transmissão das características solares para YHWH surge em nomes próprios
teofóricos, na iconografia e em descrições de manifestações de YHWH.
Existe, de facto, uma certa quantidade de
nomes próprios construídos a partir da raiz «’-w-r»,
“luzir, luz”. Por exemplo, «’Ûriyy-äh» (“YHWH é a minha luz”) é o nome
de um general do rei David e de um sacerdote da época persa; «Neriyyähû»
(“YHWH é a minha lâmpada») é o nome do pai do escriba Baruc; «Yzrahyäh»
(“YHWH brilha”) é o nome de um músico da época persa. Alguns selos do século
VIII representam o deus solar sob a forma de um escaravelho alado[9]. Um selo de procedência desconhecida
(Hebron?) contém o nome de «Yw’r»:
“YHWH é [a minha] luz”. Neste selo podemos observar um escaravelho
carregando um disco solar (uma representação de YHWH?). Temos, aqui, claramente
um vínculo entre o nome do proprietário e o motivo iconográfico. Torna-se
realmente interessante um outro selo sem motivo iconográfico quanto à
procedência e que tem a seguinte inscrição: «a
Yizrayah [«YHWH brilha»], filho de
Hilqiyahu, ministro de Ezequias», ainda que a autenticidade deste
selo não tenha sido até agora confirmada. Estes exemplos demonstram que se
atribuíram traços característicos do deus solar a YHWH.
Esta evolução também se encontra em
cântaros-arca (de armazenamento) que têm impressa a inscrição «l-mlk»
(“para o rei”) seguida do nome de uma localidade (sobretudo Socho, Hebron,
Lakis, Suf, Mmst – um lugar que pode corresponder a Ramat Rahel)[10]. Os
selos «l-mlk» da época de Ezequias (procedentes de Lakis) representam o
sol, o qual mostra que se imaginava, sem qualquer prurido, o deus tutelar de
Jerusalém e de Judá sob a forma de um deus solar com uma iconografia
sobreponível à egípcia.
O Salmo 19
demonstra que se aplicam imagens do deus solar a YHWH, quando referem que ele,
do alto dos céus, vela pelo respeito da lei e da justiça:
«Deus fez, lá no alto, uma tenda para o
Sol, donde ele sai, como um esposo do seu leito, a percorrer alegremente o seu
caminho, como um herói. Sai de uma extremidade do céu e, no seu percurso,
alcança a outra extremidade. Nada escapa ao seu calor. A lei do SENHOR é
perfeita, reconforta o espírito; as ordens do SENHOR são firmes, dão sabedoria
ao homem simples.» (v. 5-8)
O versículo 12 do Salmo
84 diz que YHWH é um sol: «Porque o
SENHOR é sol e é escudo; Ele concede a graça e a glória; o SENHOR não recusa os
seus favores aos que vivem com rectidão.» E segundo o Salmo 85, 14
(«A justiça caminhará diante dele e a paz, no rasto dos seus passos»), Sedeq
caminha diante de YHWH, como a Ma’at egípcia diante do deus solar. A atribuição a
YHWH da função de um deus solar, que garante a justiça, surge igualmente no
livro que leva o nome do profeta Sofonias: «No meio dela, o SENHOR é justo;
nada faz de iníquo; todas as manhãs promulga a sua justiça, ao alvorecer Ele
não falta» (3,5).
5. A «TEOLOGIA DE SIÃO»
O livro atribuído ao profeta Jeremias contém
uma exclamação litúrgica que, sem dúvida, reflecte a teologia jerusaleminita da
época monárquica: «Trono sublime de glória desde princípio, é o nosso santuário»
(Jeremias 17,12). Esta exclamação combina o trono de YHWH com o tema da
montanha divina ou com o tema da colina primitiva («no alto dos começos»),
lugar onde se encontra o santuário. A montanha de YHWH em Jerusalém é
frequentemente denominada de «Sião».
Procurou-se explicar a etimologia deste nome de diversas maneiras.
Pensou-se numa expressão hurrita que quer dizer «água». Também se procurou uma
relação da palavra com a raiz «s-y-y»:
«estar seco, desidratado». No entanto, faz mais sentido a raiz «s-w / y-n», que, por comparação com uma
raiz árabe idêntica, poderia significar «proteger[11]», donde
a expressão «fortaleza».
Na Bíblia hebraica, o termo Sião
não é referido no Pentateuco, nem nos livros de Josué ou dos Juízes, nem no primeiro
livro de Samuel[12]. No segundo livro de Samuel e nos livros dos
Reis a expressão ainda é mais rara; por outro lado, ela é muito frequente
nos Salmos e no livro de Isaías. Nestes textos, Sião surge ao lado ou
concomitantemente com Jerusalém. Originariamente, o nome designava a colina a
nordeste da cidade (o Ofel) e só na era cristã passou a ser a colina a
sudoeste, onde hoje em dia se encontra o monte Sião atual.
A teologia jerusaleminita atesta que YHWH
reina sobre Sião, ali onde está seu santuário e onde está aquele que o
representa, o rei, sentado à sua direita, a Sul, na cidade de David. O facto
desta teologia atribuir a YHWH uma montanha isso confere-lhe a memória típica
de um lugar mítico original.
6. YHWH NUM TRONO ASSENTE SOBRE QUERUBINS
Ao invés do que ocorre no reino do Norte, o
YHWH de Jerusalém foi frequentemente narrado como estando sentado num trono
flanqueado de querubins ou rodeado de serafins. Em inúmeros textos, YHWH é
denominado «o que se senta («y-s-b») sobre os querubins»[13].
Quem são os querubins? A expressão hebraica «kêrub»
deve relacionar-se com o acádico «kuribu» («génio protector», «ser
divino») e «karibu» («saudar respeitosamente»). Esta terminologia aponta
para deuses inferiores e para algumas estátuas colocadas à entrada de um
santuário nos quais exercem funções de protecção. A iconografia assíria mostra
que se trata de seres híbridos semelhantes a esfinges, com cabeça humana e
corpo de animal, corpo que frequentemente é o de um leão. Os “génios”
assírios, como por exemplo os que se podem ver no Museu do Louvre, chamam-se Lamassu e Shedu. Sempre se julgou que estes seres
híbridos combinavam a inteligência (cabeça humana), a força (corpo de leão) e a
mobilidade (as asas). É provável que tal interpretação seja apenas um ponto de
vista demasiado moderno. No Próximo Oriente Antigo as capacidades intelectuais
e espirituais do homem localizavam-se no coração (tal como pensava Aristóteles)
e nunca na cabeça. Na iconografia neo-assíria, o querub surge com a
figura de uma criatura perigosa que ameaça a fauna e a flora. Há, portanto, que
sublinhar o aspecto temível dos seres híbridos, razão pela qual eles estavam
colocados, como se fossem guardiães, nas portas dos palácios e dos templos[14]. Caso
estes seres híbridos sejam pedestal para tronos, então, a sua função tanto pode
ser a de proteger quem se senta em cima deles ou mostrar o evidente e
impressionante poder que essa personagem possuiu ao ponto de domar tais seres
híbridos (neste caso particular, então, os querubins podem representar também
uma combinação de desordem e de caos que a divindade ou o rei
consegue combater, dominar e derrotar).
No Próximo Oriente foram encontrados tronos com querubins num marfim de Megido do século XIII a.e.c., tendo esculpido o rei da cidade; e também no sarcófago do rei fenício Ahiram, datado de entre os séculos IX e VII. Um selo fenício encontrado em Cerdeña mostra o deus Baal-Melkart num trono sobre querubins. Por cima dele está um disco solar. Uma terracota procedente de Chipre (mais ou menos do ano de 70 a.e.c.) representa uma figura feminina, quiçá uma deusa, sentada num trono erguido por querubins. O relato da construção do Templo de Jerusalém menciona a existência de um trono de querubins dentro do templo de Jerusalém (1 Reis 6):
23Na câmara sagrada colocou dois querubins de pau de oliveira, que mediam dez côvados de altura. 24Uma asa de um querubim media cinco côvados; a outra asa, cinco côvados; deste modo, da extremidade de uma asa à extremidade da outra iam dez côvados. 25O segundo querubim media também, no total, dez côvados; a dimensão e a forma dos dois querubins eram iguais. 26A altura do primeiro querubim era de dez côvados; a do segundo era igual. 27Colocou os querubins no meio da Casa, no seu interior. Os querubins tinham as asas estendidas. A asa do primeiro querubim tocava na parede, a do segundo tocava na outra parede. As duas asas dos querubins que ficavam no centro da Casa tocavam-se uma à outra. 28Revestiu também com placas de ouro os querubins.
Segundo o capítulo 6, estes querubins serviam
de protectores da arca, mas podemos interrogar-nos se, no princípio, não teriam
feito parte de um trono. Neste caso contribuíam para enaltecer a imagem régia de YHWH, tal como ela brilha
igualmente em outros títulos que lhe são atribuídos em Jerusalém.
7. YHWH «SEBÃ ‘ÔT»
Este título é
amplamente encontrado na Bíblia hebraica: 284 vezes; sobretudo no livro de
Jeremias (82 vezes), na primeira parte do livro de Isaías (56 vezes), no livro
de Zacarias (56 vezes), no de Malaquias (24 vezes), nos Salmos (15 vezes), no
de Ageu (14 vezes) e nos livros de Samuel (11 vezes). Por outro lado, não aparece nem no Pentateuco nem no livro de Ezequiel.
Uma olhadela pela estatística sugere que este novo título tem origem no Templo
de Jerusalém, já que os livros, onde se encontra com facilidade este novo
título, foram redigidos – tudo o indica – em Jerusalém ou, em alternativa,
integram tradições jerosolimitanas.
O plural «sebã’ôt» deriva do termo «sãbã’»,
«exército». Esta explicação é unanimemente aceite, com a excepção de Manfred
Görg[15], que
pensa que a origem do título se encontra no lexema egípcio «dbƺty», «o que se senta no
trono». Esta hipótese é demasiado forçada e, para além disso, não tem em conta
o contexto guerreiro em que frequentemente o título surge. Alguns consideram
problemática a tradução corrente «YHWH dos exércitos», já que no hebraico um
nome próprio não pode entrar na formação de uma construção no genitivo, pelo
que se optou por interpretar o título a partir da sua origem: «YHWH, ‘êlohe
sêbã’ôt», ou seja «YHWH (o deus dos) exércitos». Outra
hipótese interpreta o plural como parte de uma oração nominal: «YHWH é os
exércitos», ou como um plural abstracto: «YHWH o poderoso, YHWH o
todo-poderoso». Esta hipótese pode apoiar-se na tradução da Septuaginta,
que na maior parte dos casos utiliza «pantokrátor» (ainda que em outros
casos também use a transliteração «sabaoth»). Seja como for, a tradução
«YHWH dos exércitos» é perfeitamente possível. Os textos encontrados em Kuntillet
Ajrud, já mencionados atrás, mostram que são
possíveis as construções de genitivo a partir do nome próprio em estado
constructo (YHWH de Temán, YHWH da Samaria). Fica então de pé a questão, à qual
se impõe uma resposta: de que exércitos se
trata?
Se se trata dos exércitos terrestres, então o
título reflectiria o múnus, a função original, a função primitiva de
YHWH enquanto deus da guerra (tal como está em 1Samuel 17,45: «David respondeu ao filisteu: “Tu vens para
mim de espada, lança e escudo; eu, porém, vou a ti em nome do SENHOR do
universo, do Deus dos exércitos, o deus das tropas de Israel, a quem tu
desafiaste”»). Como este título surge, por vezes, associado ao santuário de Siló, pensou-se que a sua
procedência original estaria ligada a este santuário, onde se teria venerado um
YHWH guerreiro relacionado com a Arca[16]. Com
efeito, podemos imaginar que o título se referisse em primeiro lugar a um YHWH
guerreiro, tal como, em Ugarit, o título «sb’i» aplicado a Reshep
(=«Reshep o guerreiro» ou =«Reshep [senhor] do exército»). Por conseguinte, é
possível que o título tivesse sido aplicado em primeiro lugar a exércitos de clãs do «povo de YHWH» e que,
mais tarde, tivesse sido transferido para o universo
celestial, universo a partir do
qual se justificam e ganham autoridade a maioria dos títulos.
Estatisticamente falando, de facto, o título
designa com mais frequência YHWH enquanto chefe
de exércitos celestes. Mais a mais, para designar o conselho divino
emprega-se frequentemente a expressão «sãbã»[17]. Como
representação desse contexto divino temos o Salmo 89:
«8Deus é temível na assembleia dos santos, maior e mais temível que
todos os que o rodeiam. YHWH, deus dos exércitos, quem é tão poderoso como Tu?
Estás rodeado de firmeza e fidelidade. 10Tu dominas o orgulho dos
mares e amainas as suas ondas embravecidas.» (vs. 4-10). Neste salmo o título
de YHWH «Sêbã’ôt» também se relaciona com um «combate criador», ao qual
voltaremos mais tarde. Quiçá não seja necessário dirimir a questão do título.
Enquanto deus guerreiro, YHWH tem às suas ordens um exército celeste, ao mesmo tempo que comanda e conduz o exército dos que o
veneram.
Este mesmo “conselho divino” está presente
como pano de fundo da visão de um «YHWH Sêbã’ot» que tem o profeta
Isaías (6,1-8; a expressão «o nosso»,
que está presente na pergunta do v. 8, pressupõe uma assembleia):
«1No ano da morte do rei Uzias, vi
o Senhor sentado num trono alto e elevado; as franjas do seu manto enchiam o
templo. 2Os serafins[18]
estavam diante dele, cada um tinha seis asas; com duas asas cobriam o rosto,
com duas asas cobriam o corpo, com duas asas voavam. 3E clamavam uns
para os outros: «Santo, santo, santo, o SENHOR do universo! Toda a terra está
cheia da sua glória!» 4E tremiam os gonzos das portas ao clamor da
sua voz, e o templo encheu-se de fumo. 5Então disse: «Ai de mim,
estou perdido, porque sou um homem de lábios impuros, que habita no meio de um
povo de lábios impuros, e vi com os meus olhos o Rei, SENHOR do universo!» 6Um
dos serafins voou na minha direcção; trazia na mão uma brasa viva, que tinha
tomado do altar com uma tenaz. 7Tocou na minha boca e disse: «Repara
bem, isto tocou os teus lábios, foi afastada a tua culpa, e apagado o teu
pecado!» 8Então, ouvi a voz do Senhor que dizia: «Quem enviarei?
Quem será o nosso mensageiro?»
Então eu disse: «Eis-me aqui, envia-me.»
Neste cenário, «YHWH Sêbâ’ôt» é imaginado
pelo profeta como se estivesse sentado num trono, no Templo de Jerusalém. Esta
relação com o Templo será reforçada por outros textos que falam de YHWH dos
exércitos que habita na montanha
de Sião (p. ex., Isaías 8,18)
ou com o uso frequente desse título nos «Salmos
de Sião», onde se descreve YHWH habitando e protegendo a sua
montanha santa. É frequente encontrar esse título em textos que descrevem uma imagem régia de YHWH.
8. YHWH COMO REI
Existe um certo número de Salmos cujo tema é a
realeza de YHWH e que contêm a aclamação «YHWH mãlãk», «YHWH é [passou a
ser] rei»[19].
O exegeta escandinavo Sigmund Mowinckel vê nisto uma relação com a Festa do Ano Novo babilónico; os Salmos seriam um reflexo de um ritual, no
qual a cada ano novo se celebrava a ascensão da divindade tutelar à condição de
realeza[20];
contudo, nunca foi possível demonstrar que alguma vez tenha existido tal
festividade anual do Ano Novo em Israel ou em Judá. Estes «Salmos de realeza de
YHWH» estão, sem sombra de dúvida, em relação com o
mito de Baal em Ugarit, o qual sobe ao trono após a vitória sobre
Yam (o Mar) e sobre Mot (a Morte). Em Ugarit, a afirmação da realeza de Baal
reflecte a alternância das duas estações do ano (a da seca e a das chuvas).
Alguns Salmos, que com frequência foram
reescritos, conservam a memória de uma ascensão de YHWH à realeza. Na versão
primitiva do Salmo 47[21], este acontecimento é assim descrito: «2[Povos]
todos, batei palmas, aclamai a Deus [Elohim] com gritos de júbilo! 6Deus
[Elohim] subiu por entre aclamações, YHWH ao som da trombeta, Deus [Elohim] é
rei [reina sobre as nações], Deus [Elohim] está sentado num trono santo» (vs.
1, 6 e 9).
A relação entre as raízes subir, sentar-se e ser/passar a ser surge quer
nos Salmos de realeza de YHWH quer nos poemas sobre Baal; por exemplo, em «Baal
e a vitela»[22]
lemos: «Baal subiu à mon[tanha], o filho de Dagan aos [céus], Baal está sentado
no trono [da sua realeza], o filho de Dagan na sede [da sua soberania]». Após a
vitória sobre Yam, Baal acede igualmente à realeza: «Yam morreu, e Baal será
[rei]»[23] Na
Bíblia hebraica, o tema da vitória de YHWH sobre
o mar, estreitamente relacionado com a realeza do deus de Israel,
surge nos Salmos 89, 93 e sobretudo no Salmo 74:
9. O REI DAVÍDICO COMO MEDIADOR DO DEUS YHWH
Em Judá, tal como noutros lugares (nota: para
o Norte – Israel − não possuímos informação suficiente), o rei é considerado o representante de YHWH, cujo reinado
«encarna». Segundo o Salmo 2
o rei é considerado filho de YHWH: «6"Fui Eu que consagrei o
meu rei sobre o meu monte santo de Sião!" 7Vou anunciar o
decreto do SENHOR. Ele disse-me: "Tu és meu
filho, Eu hoje te gerei.”». Mais do que uma concepção «biológica»,
gerar (no Salmo) deve ser entendido como uma espécie de adopção do rei
por parte de YHWH, aquando do acto da sua subida ao trono.
O rei senta-se à direita de YHWH: «1Declaração de YHWH ao meu
senhor [o Rei]: "Senta-te à minha direita, e Eu farei dos teus inimigos um
estrado para os teus pés." 2De Sião, o SENHOR estenderá o
ceptro do teu poder. Dominarás os teus inimigos na batalha!» (Salmo 110, 1-2).
A realeza davídica, a qual, segundo o oráculo de 2Samuel 7,25-29, recebera a promessa de duração eterna, é o
sinal visível da realeza de YHWH. Segundo o Salmo 132
(vs. 13-14.17-18) YHWH escolheu em simultâneo
Sião e a dinastia davídica. Protegerá, ao mesmo tempo, Sião e
o rei davídico:
10.
YHWH MELEK E MOLOC
Quatro textos bíblicos mencionam a palavra
Molek [=Moloc], palavra relacionada com sacrifícios de criancinhas[25]
[infanticídios]. Tradicionalmente, viu-se em Molek [=Moloc] uma divindade
sanguinária ávida de holocaustos humanos. Otto Eissfeldt, por seu lado,
relacionou a expressão «molek» [moloc] com a expressão púnica «molk», que, segundo o estudioso alemão,
designa simplesmente um certo tipo de sacrifício (não forçosamente humano)[26]. Os
textos bíblicos não apoiam esta hipótese, já que pressupõem sacrifícios feitos
a uma divindade, pelo que sempre se procurou identificar Molek [=Moloc] com uma
das divindades já conhecidas. Em Ugarit existe, segundo se julga, uma divindade
chamada Maliku, porém os testemunhos sobre ela são muito escassos e não têm
relação com sacrifícios humanos. A identificação de Molek [=Moloc] com o deus
amonita Milkom [=Milcom] tampouco é plausível[27]. Jeremias 32,35 evoca Baal e Molek [=Moloc]
no mesmo contexto; contudo, parece tratar-se de duas divindades distintas.
A solução mais simples, que raramente se
equaciona, é supor que a expressão moloc, na sua origem, se pronuncia «mélek»
(«rei») e era como que um título de YHWH. Como já vimos atrás, a palavra «melék»
é empregada frequentemente na Bíblia Hebraica para caracterizar YHWH: mais de cinquenta vezes. É possível,
então, que os sacrifícios de criancinhas tenham sido oferecidos a ele enquanto
YHWH-Mélek [=Rei][28]. Para
além disto, alguns textos manifestam um contexto régio aquando da ‘passagem’
das criancinhas pelo fogo. Esta tese encontra outra confirmação na tradução
grega de molek no livro do Levítico. Nos versículos 18,21 e 20,2-5, o
tradutor não leu “molek”, mas “melek” interpretando isso como um título
para YHWH. As críticas profética e sacerdotal da época persa confirmam
igualmente o facto de que os sacrifícios de
«Molek» [Moloc] eram oferecidos a YHWH: «Não entregarás nenhum dos
teus filhos para serem sacrificados a Moloc [Melek], a fim de não profanares o
nome do teu Deus.» (Levítico 18,21). Nesta proibição, «molek» surge lado-a-lado
com o nome do deus de Israel. O texto de Jeremias 7,31-34 segue esta pista: «Levantaram o ‘lugar alto’
de Tafet[29],
no vale de Ben-Hinom, para lá oferecerem em sacrifício os seus filhos e as suas
filhas, coisa que não mandei nem me passou pela cabeça». O autor desta passagem
afirma que YHWH nunca ordenou sacrifícios de crianças, pelo que, para os seus
adversários, não havia a mais pequena dúvida que esses sacrifícios tinham
existido e foram exigidos por YHWH.
Os sacrifícios explicam-se a partir do relato
de um dos livros dos Reis, que descreve um sacrifício humano por parte do rei moabita Mesa: «Vendo o rei de Moab que não
podia resistir àquele ataque […] tomou consigo o seu filho primogénito, que
deveria suceder-lhe no trono, ofereceu-o em holocausto sobre a muralha. Isto
provocou grande indignação em Israel, que se retirou dali e voltou para a sua
terra.» (2 Reis 3,26-27). Num contexto de crise militar, Mesa não encontra
outra solução que não seja oferecer o seu filho mais querido: seu filho, seu
sucessor ao trono. O texto não diz a que divindade estava destinado este
holocausto: se a Camós ou se a YHWH. Este brevíssimo relato, que conseguiu
escapar por entre os pingos da chuva da censura dos redactores bíblicos[30],
permite explicar o sacrifício da entrega ao fogo de crianças
enquanto sacrifício de último recurso em tempos de crise grave. Ao contrário
das oferendas de primogénitos, cuja prática era (teoricamente)
regular, os sacrifícios que recorriam à «passagem pelo fogo» constituíam, por
conseguinte, rituais destinados a invocar a intervenção da divindade por
ocasião de situações de perigo extremo.
Ao dedicá-los a YHWH-Melek
enaltecia-se a sua soberania e espectava-se a sua intervenção salvadora em
situações de crise. Na época persa, os sacrifícios humanos passam
a ser tabu e, então, tudo se fez para que nunca fossem relacionados com o culto
a YHWH. Foi por isso que, mais tarde, também os massoretas alteraram Melek
[=Rei] e passaram a escrever Molek [=Moloc].
11.
YHWH E A MORTE
Em Ugarit, o
Mar e a Morte eram os grandes inimigos de Baal. Na Bíblia
encontramos textos que pressupõem uma situação similar referente a YHWH. Vimos
textos que aludem a um combate de YHWH contra o Mar. A Morte era igualmente
considerada um inimigo de YHWH, o qual, nos
textos antigos, não possui controlo sobre o reino da Morte, reino
onde vegetam os defuntos, um lugar denominado «Sheol». A etimologia
da expressão sheol não é clara. No primeiro milénio a.e.c. e fora dos
textos bíblicos, está registada num único texto apenas, originário de
Elefantina[31].
Costuma ser relacionado com a raiz «sã’al» («perguntar») e crê-se que
seja o lugar onde acontece o interrogatório aos mortos. Outra possibilidade
seria uma raiz semítica que expressa a ideia de ‘deserto’. Na Bíblia, a
expressão «se’õl» surge como nome próprio (nunca leva artigo);
eventualmente poderia designar uma divindade ou ser uma personificação dos
‘infernos’. A vida no sheol era concebida a partir do modelo da estadia
do cadáver sepultado ou colocado no panteão familiar; seria um lugar frio,
húmido e escuro. A descida do morto ao sheol significava, antes de mais,
a sua total separação (afastamento) de YHWH. O autor do Salmo 30
lança mão da ideia de que YHWH não pode intervir no reino dos mortos para
implorar a cura, e insiste que, uma vez morto, será incapaz de louvar a Deus,
sendo a doença entendida como a antessala da morte. O autor do Salmo 6
recorre a um argumento parecido: «No sepulcro, ninguém se lembrará de ti; na
mansão dos mortos, quem te louvará?» (v. 6).
Segundo estes textos, o Sheol parece ser uma
realidade autónoma: não é obra de YHWH e escapa ao seu poder. Uma passagem do
capítulo 28 do livro de Isaías evoca representantes da aristocracia de
Jerusalém que estão tentados a aliar-se com o Sheol, divindade que eles
consideram mais poderosa que o deus de Israel[32]: «Fizemos
um pacto com a Morte, uma aliança com o Abismo e, por isso, estamos protegidos:
o flagelo passará sem nos atingir» (v. 15).
Textos mais recentes, que talvez reflictam as
transformações religiosas ocorridas durante os séculos VIII ou VII, diz-se que
YHWH é tão poderoso como a Morte e reflectem a expectativa de que ele possa
fazer “subir” os mortos do reino do Sheol: «Deus resgatará a minha alma («nepês»)
das mãos de Sheol» (Salmo 49, 16).
O grafito de Khirbet el-Qom, que foi datado
dos finais do século VIII, contém um desejo de bênção por parte de YHWH e por
parte também da sua Asherá: «Bendito seja Uriyahu por parte de YHWH; dos
seus inimigos – por Asherá – foi salvo». Esta bênção, situada à entrada de
uma sepultura, indica que é possível que YHWH abençoe tanto na morte como na
vida. De igual modo, os amuletos de prata das tumbas de Ketef Hinon[33],
inumados com os defuntos, provavelmente estariam destinados a protegê-los no
reino da Morte. Ora, sendo assim, com estes amuletos evoca-se a bênção de YHWH
sobre os mortos, bênção que se trasladou aos vivos na bênção sacerdotal de Números 6, 24-26: «Que YHWH te bendiga e te guarde, que YHWH
faça brilhar o seu rosto [sobre] ti e te encha de paz».
Em resumo
Constatamos que no reino de Judá (Reino do Sul), durante os séculos IX e VIII, YHWH passou a ser o rei principal, o deus da dinastia davídica e o deus nacional de Judá. YHWH absorveu as funções de deus solar e acumulou as funções de dois tipos de deuses: “El” e Baal. O templo de Jerusalém era o centro da realeza de YHWH, ainda que existissem outros santuários yahvistas, e isto para além dos «bãmôt» [«altos lugares»] situados sobretudo nas zonas campestres. Pelos finais do século VIII, YHWH afirma igualmente a sua superioridade sobre os deuses dos infernos. Também se ofereceram a YHWH sacrifícios humanos em momentos de fracasso ou de fragilidade militar.
YHWH, em Jerusalém, teria sido adorado de um
modo visível ou invisível? Estaria, YHWH, totalmente só no templo de Jerusalém?
Thomas Römer, «La invención de Dios», Sígueme
2022, pp. 143-161.
©
«Neste pequeno artigo, concentro-me
no desenvolvimento de uma noção de Providência divina que não se sobreponha à
liberdade pessoal e contrarie o que considero serem duas idolatrias
contemporâneas em expansão: a absolutização
da 'causalidade/juízo' em questões morais e a 'absolutização da acção humana' na formação da
experiência humana. Eu defendo que Deus age no mundo, em cada ser humano
através do seu Espírito, de modo que é sempre possível a cada um de nós
realizar um ato de amor livre. (…)
«Reconhecer que o arbítrio humano tem
limites e que não podemos moldar-nos ao nosso gosto parece ser uma
condição prévia para experimentar a acção providente de Deus. (…)
«A liberdade pessoal implica assumir
a responsabilidade pelos próprios atos. A modernidade ligava a dignidade do ser
humano à sua racionalidade e à sua capacidade de autodeterminação. Há alguns
anos, surpreendeu-me ao saber que a principal razão para solicitar o suicídio
assistido na maioria, se não em
todos os países que o
permitem, não é ser diagnosticado com uma doença incurável ou sentir uma dor
física excruciante, mas a
perceção subjetiva de indignidade associada a uma vida sem autonomia.
(…)
«Todos são convidados pela providência de Deus
a escolher o amor, mas o modo como o amor é possível a cada pessoa depende
das circunstâncias da sua educação e de inúmeros fatores históricos de que só
Deus – nem mesmo a pessoa envolvida, quanto mais qualquer outra pessoa – tem
conhecimento. (…)
«À pergunta clássica da teodiceia sobre se um
Deus misericordioso pode coexistir com um mundo injusto, o sujeito moderno
autónomo respondeu "não" e tentou construir uma alternativa criada
pelo homem que não cumpriu as suas promessas. A pós-modernidade desiludida
abriu caminho para o regresso de uma espiritualidade elementar que equipara a
sabedoria a uma aceitação e justificação da ordem existente das coisas, (...)
«Um mundo naturalizado, um mundo desprovido de
espírito, seria um mundo acorrentado. Não haveria espaço para a liberdade nele.
(…)
«Hoje há uma nova tentativa radical de superar
as limitações da nossa condição humana através da inovação tecnológica.
Chama-se “transumanismo”. De acordo com seus proponentes, nós
(humanidade) já alcançamos as capacidades técnicas necessárias para ir além
do "meramente humano" para algo melhor caracterizado pela combinação
de humano e máquina. Embora ter um desfibrilador cardíaco, um simples ‘pace-maker’
ou qualquer outro dispositivo que possa salvar a sua vida ou restaurar a função
perdida pareça estar para lá de qualquer dúvida ou discussão moral, profundas
questões éticas e existenciais surgem quando o objetivo da biotecnologia
deixa de ser curar ou salvar vidas e se torna um meio para "melhorá-las".
Há um grande salto qualitativo se compararmos a substituição de algumas
das funções mecânicas do corpo, por exemplo, por uma prótese de joelho, com
a implantação de um chip no cérebro que permite o acesso a uma memória que já
não é a sua memória natural ligada às suas experiências emocionais. Porque
é que nos lembramos de algumas coisas e esquecermos outras? Isso tem a ver com
o que as coisas ressoam ou impactam o mundo interior de cada pessoa mais
intensamente. Se a nossa memória está artificialmente separada da nossa
experiência emocional, o que acontece à integridade da pessoa?
«Creio que o "transumanismo" é uma
ideologia que exagera os desafios colocados pela investigação biomédica
contemporânea, transformando-a assim num ídolo contemporâneo incompatível
com a Providência divina. A tentativa de deixar para trás "o humano"
como categoria insuficiente colide com a doutrina da encarnação: Deus tornou-se
humano, não transumano. Jesus era um ser humano perfeito e Maria
também. A teologia católica não reconhece neles nenhum defeito: eram plena e
belamente humanos. Neles o propósito da vida humana foi cumprido no mais alto
grau. Por isso, ambos foram para o céu com o mesmo corpo que tinham na terra:
não havia necessidade de transformar os seus corpos terrenos em corpos
espirituais (1 Cor 15, 44), porque já estavam e estavam sempre livres do
Espírito. No entanto, há uma diferença fundamental entre eles: em Jesus (que era Deus encarnado) a perfeição
era intrínseca, em Maria (que era humana) a perfeição era um dom da Providência
divina. Creio que todos os seres humanos são chamados, como Maria, a uma
perfeição que não pode ser alcançada tecnicamente, mas apenas recebida com
alegria como dom.» (Irª Teresa Forcades osb, excertos retirados do Artigo que
publicou na Revista Concilium 401 [2023/3] 93-102, ISSN:
0210-1041).
https://www.lavanguardia.com/20150610/54432200226/el-convento-de-sant-benet-se-queda-sin-forcades-y-cambia-de-abadesa.html
https://pt.wikipedia.org/wiki/Teresa_Forcades
https://www.lavanguardia.com/vida/20120618/54313301701/pensamiento-forcades.html
AS “HISTÓRIAS” EM QUE NINGUÉM ACREDITA
Vejamos,
pois:
− “Jesus era
Deus e Maria era humana” … “eram, ambos, seres humanos perfeitos” … “ainda que
Jesus fosse feito de uma perfeição intrínseca e Maria não”!!!
− “Jesus e
Maria subiram ao Céu nos seus corpos terrenos”!!! Hoje em dia, será que ainda
existem pessoas que acreditam nisto … e acreditam que há um Deus lá em cima, num local
que se denomina Céu, e um Inferno algures?
− Os
implantes intracranianos (Neurocirurgia para o Parkinson e para Doenças de
Adição) apagam a memória natural e fazem destes pacientes-intervencionados uns
robôs, uns autómatos, uns lobotomizados?!!
− Será
verdade que: “cada pessoa depende das circunstâncias da sua educação e de
inúmeros fatores históricos de que só Deus – nem mesmo a pessoa envolvida,
quanto mais qualquer outra pessoa – tem conhecimento”?!!
− A
Providência Divina não tem nada a ver com «a perceção subjetiva de indignidade associada a uma vida [humana]
sem autonomia»?!!
− Querer «moldar-nos ao nosso gosto» é incompatível com a Providência
divina?!!
Etc.
Estas e outras tantas são as “histórias” em que só muito pouca gente (não
instruída) ainda acredita. Quando, em tempos de ‘mutação civilizacional
radical’ ‒ como são e serão os séculos XXI e
XXII ‒ se procura um protagonismo pessoal (cientificamente
desonesto; cf. a ausência de referências bibliográficas médico-cirúrgicas que
suportem as suas afirmações em Neurociências) acabam todos esses protagonistas
por se servirem sempre da mesma fórmula mágica: o sempre e eterno Platonismo à
mistura, em partes iguais, com a Gnose médio-oriental, os quais, fruto do seu
desprezo pela materialidade da vida humana, acaba, por exemplo, na indiferença
estática ‒ quando não pactuando ‒ diante de realidades bem materiais (tais como a barbárie
político-militar, como é o que se passa em certas Igrejas Ortodoxas).
É por isso
que o catolicismo vaticano muito em breve terá a dimensão de uma seita… caso
não reveja radicalmente os pressupostos que o afastam ‒ há 2 000 anos ‒ do
exemplo de vida de Jesus de Nazaré que nunca estudou filosofia grega nem teologia.
É bem
verdade quando se diz que as Religiões são criações humanas. Diante do Indizível
e do Desespero, os humanos inventam «histórias» com deuses todo-poderosos dentro
e, de seguida, constroem «escadas» (hierarcas) que nos permitam ancorar e
fortalecer a NOSSA CASA quebradiça e finita à Morada Celestial dos NOSSOS
DEUSES infinitos e todo-poderosos…
As Religiões
Hierarquizadas (ex. o Judaísmo, o Islão, o Catolicismo, etc.) são invenções
humanas. É por isso que, com o início da vida pública de Jesus, dá-se um
acontecimento radical: com Jesus cava-se «um grande abismo» (Lucas 16,26) entre a
sua visão humanista da felicidade e o «regulamento religioso» (escrupuloso,
dependente do dinheiro e dos rituais do Templo) que os sacerdotes da Religião
Judaica impunham.
Com Jesus de
Nazaré «rasga-se de alto a baixo» com o passado ‘religioso’ do seu Povo (Mateus
27,50-51) e, de aí em diante, opera-se um corte
abismal com as todas as religiões Sacerdotalizadas, o que ainda hoje é decisivo
para os acordos de paz e para o diálogo entre as Religiões, bem como para a
conversão final da Igreja Romana ao seu
inspirador ‒ Jesus de Nazaré ‒ que nunca foi sacerdote, nunca ordenou
sacerdotes, nunca fundou uma Religião ou Igreja, nem do alto da cruz implorou
que o fizessem por ele e em seu nome.
FIM
[1] O texto de 1 Samuel 9,19-25 menciona uma refeição na «bãmãh» de Ramá.
[2] Z. Herzog, «The date of the temple at Arad:
Reassessment of the stratigraphy and the implications for the history of
religion in Judah», em A. Mazar (dir.), “Studies in the Archeology of the
Iron Age in Israel and Jordan”, Sheffield 2001, 156-178.
[3] Na estela de Mesa, trata-se do deus tutelar Camós e
da sua ‘partner’.
[4] Trata-se de uma divindade
associada ao sol.
[5] Uma versão grega menciona (3 Reinos 8, 53) um «livro
do canto», o qual provavelmente refere o mesmo ‘rolo’.
[6] Importa lembrar que, no «saltério elohista», alguns
redactores substituíram a maioria das referências a YHWH por «Elohim».
[7] A mesma ideia surge na versão original do livro do Deuteronómio 32,8: «Quando o Altíssimo [Elyon] distribuía os
povos, quando agrupava os filhos de Adão, estabeleceu as fronteiras dos povos
…».
[8] Esta afirmação surge na Epopeia «Enuma Elish», a qual
relata a criação do mundo aquando da vitória de Marduk sobre o monstro marinho Tiamat. Cf. J. Bottéro –
S. N. Kramer, «Lorsque les dieux faisaient l’homme. Mythologie
mésopotamienne», NRF, Paris 1989, 642-643: «Os
grandes deuses exaltaram unanimemente os destinos de Marduk e prostraram-se
diante dele […]. Outorgaram-lhe o poder de exercer a realeza sobre os deuses e
confirmaram-no no poder absoluto sobre os deuses do céu e da terra»;
cf. também: Francesc Ramis Darder, «Mesopotamia y el Antiguo Testamento», EVD 2019; Jean Lévêque, «Sabidurías de Mesopotâmia», Documentos en torno de la Bíblia N. 26, Verbo
Divino, 1996; «Enuma elish – el poema babilónio de la creación», Edición de Rafael Jiménez Zamudio, CÁTEDRA – Letras
Universales 12020 (Grupo Anaia, S. A., Calle Juan Ignacio Luca de
Tena, 15 – 28027 Madrid), ISBN978-84-376-4089-1.
[9] O. Keel, «Die Geschichte Jerusalems und die
Entstehung des Monotheismus», 292-293; N. Avigad – B. Sass, «Corpus of
West Semitic Stamp Seals», Jerusalem 1997, 1175.
10 O. Lipschits –
D. Vanderhooft, «The Yehud Stamp Impressions: A Corpus of Inscribed
Impressions from the Persian and Hellenistic Periods in Judah», Winona Lake
2011.
[11] Acontece que esta raiz não existe no hebraico.
[12] Aparentemente, isto faz sentido já que segundo a
narrativa bíblica Jerusalém não se integrou em Judá a não ser na época de
David. Contudo, Génesis 14 menciona «Shalem» e Josué
10 narra uma batalha de Josué contra
um rei de Jerusalém.
[13] 1Samuel 4,4; 6,2 (=1 Crónicas 13,16); 2 Reis 19,15
(=Isaías 37,16); Salmo 80, 2; 99, 1.
[14] Na história da expulsão do jardim em Génesis 3,
YHWH coloca os querubins à entrada do jardim, a fim de impedir os humanos de
voltarem a entrar.
[15] M. Görg, «sb’wt ein Gottestitel»: Biblische
Notizen 30 (1985) 15-18.
[16] Em 1 Samuel surge a expressão «arca da aliança de
YHWH sèbã’ôt».
[17] 1 Reis 22, 19-23: «Por sua vez, Miqueias replicou: «Ouve a palavra do SENHOR. Eu vi o
SENHOR sentado no seu trono, rodeado de todo o exército celeste à sua direita e
à sua esquerda»: v. 19; Salmo 103, 19-22; 148, 1-5; Daniel 8, 10-13.
[19] Salmo 93,1; 96,10; 97,1; 99,1. Existem outros Salmos
que descrevem YHWH como o grande rei sentado no seu conselho celestial.
[20] S. Movinckel, «Psalmenstudien», Kristiana
1922.
[21] Este Salmo faz parte do saltério elohista, no qual a
maioria das referências a YHWH foram substituídas por «Elohim» (Deus).
[22] KTU 1.10 III 12-15.
[23] «Baal e Yam», KTU 1.2 IV 30-35.
[24] Ao contrário do que escreveu o texto massorético,
convém mais o singular e não o plural ‘dragões’ por causa do
paralelismo com o versículo 14, mas também porque
o termo «tannîn» é frequentemente considerado um nome próprio.
26 O. Eissfeldt,
«Molok als Opferbegriff im Punischen und Hebräischen und das Ende des Gottes
Moloch», Halle 1935.
[27] Poderia basear-se eventualmente no versículo 1 Reis 11,7,
[7«Por essa altura, ergueu Salomão um ‘lugar alto’ a Camós,
deus de Moab e a Moloc, ídolo dos amonitas, sobre o monte que fica mesmo em
frente de Jerusalém»] só que a menção de Molek [=Moloc]
neste texto é devida a um erro do escriba…
[28] J. Lust, «Moses and ARXΩN», in
E. Lipinsk (dir.), «Studia Phoenici IX. Phoencia and the Bible», Louvain 1991,
193-208.
[29] Tófet é uma vocalização pejorativa a partir de
«boshet» (a «vergonha»); a pronúncia original era Tafet.
[30] Não há dúvida que os redactores retocaram a frase
«Houve uma grande indignação em Israel» omitindo
o nome da divindade, provavelmente Camós.
[31] «Tes os ne descendront pas dans se’õl», CIS
II, 145; cf. N. J. Tromp, «Primitive Conceptions of Death and the Nether World in
the Old Testament», Biblica Et
Orientalia, Roma 1969, 21-23.
[32] Thomas Römer,
«Jugement et salut en Ésaïe 28»: Positions luthériennes 43 (1995) 55-62.
[33] Segundo o escavador Gabriel Barkay, estes amuletos
datariam do século VII («The challenges of Ketef Hinnom. Using advanced
technologies to reclaim the earliest biblical texts and their context»: Near Eastern Archeology [2003] 162-171), porém
esta datação não é unanimemente aceite: Angelika Berlejung («Ein Programm
fürs Leben. Theologisches Wort und anthropologischer Ort der Silberamulette von
Ketef Hinnom»: Zeitschrift für die Alttestamentliche Wissenschaft 120 [2008]
204-230) pensa que são do século V; Nadav Na’aman («A new appraisal of the silver
amulets from Ketef Hinnom»: Israel Exploration Journal 61 [2011] 184-195) também
concorda com Angelika Berlejung. A datação da época helenística por parte
de Ferdinand Dexinger («Die Funde von Gehinnom»: Bibbel und Liturgie 59 [1986]
259-261) parece pouco plausível.