teologia para leigos

5 de fevereiro de 2024

A invenção de Deus 5

 

Tel-Arad - altar do templo
que muito provavelmente foi mandado soterrar por Josias
a fim de concentrar o culto num único templo: Jerusalém

 

«No período monárquico tardio, uma teologia muito rebuscada foi desenvolvida em Judá e em Jerusalém para validar a conexão entre o herdeiro de David e o destino de todo o povo de Israel. De acordo com a História Deuteronomista, o piedoso David foi o primeiro a pôr um fim à fatal sequência «ciclo de idolatria» (da parte do povo de Israel) − «castigo divino» (da parte de Yhwh). Graças à sua piedade, fidelidade e justiça, Yhwh ajudou David a completar a tarefa inacabada de Josué - ajudou principalmente a conquistar o resto da Terra da Promessa e a estabelecer um glorioso império sobre todos os vastos territórios que tinham sido prometidos a Abraão. Tratava-se de esperanças teológicas e não de retratos históricos acurados. Elas constituíram um elemento central na poderosa visão da renascença nacional do século VII que procurou congregar pessoas dispersas cansadas de fazer guerra, para provar-lhes que haviam experimentado uma história conturbada sob a intervenção direta de Deus.

A epopeia gloriosa da monarquia unificada foi - a exemplo das Histórias dos Patriarcas, da Saga do Êxodo e da Conquista da Terra Prometida - uma brilhante composição literária que entrelaçou antigos contos lendas heroicas em uma profecia coerente e persuasiva para o povo de Israel no século VII AEC.

[… ] O ‘historiador deuteronomista’ quis deixar uma mensagem simples e poderosa:  ainda há maneira de reconquistar a glória do passado.

Assim, Josias começou a estabelecer uma monarquia unificada que ligaria Judá com os territórios do ex-Reino do Norte por meio de instituições monárquicas, forças militares e concentração da devoção exclusivamente em Jerusalém, política que foi central para a narrativa bíblica sobre David.

Na condição de monarca sentado no trono de David em Jerusalém, Josias era o único herdeiro legítimo do Império Davídico, isto é, dos territórios davídicos. Ele estava prestes a “reconquistar” os territórios do agora destruído Reino do Norte, o reino que havia nascido dos pecados de Salomão. E as palavras de 1 Reis 5,5, dizendo que “Judá e Israel viviam segurança [...] desde Dã até Bersabeia”, sumarizam aquelas esperanças de expansão territorial e busca de tempos pacíficos e prósperos, similares aos do passado mítico, quando um rei governou a partir de Jerusalém sobre todos territórios de Judá e Israel combinados.

Como vimos, a realidade histórica dos reinos de David e Salomão era bastante diferente do Conto. Ela fez parte da grande transformação demográfica que levaria ao surgimento dos reinos de Judá e Israel, numa sequência histórica drasticamente diferente daquela descrita pela Bíblia

 

Israel Finkelstein e Neil Asher Silberman, «A Bíblia desenterrada
– a nova visão arqueológica do antigo Israel
e das origens dos seus textos sagrados»,
Editora VOZES 2021, Petrópolis-BR, p. 150-153.

 

 

A ESTÁTUA DE YHWH EN JUDÁ

 

De acordo com a Bíblia Hebraica e numerosos comentaristas, uma vez que o culto de Yhwh é anicónico não pode ser representado por imagens. No entanto, no decorrer da nossa investigação, parece que, no que diz respeito ao reino do Norte (Israel), não há dúvidas de que o seu culto foi acompanhado por imagens teriomórficas e provavelmente também antropomórficas. Isso é apontado nos textos bíblicos, uma vez que, para os autores e editores que escrevem e editam os textos bíblicos sob um enviesamento "sulista" (procurando menosprezar o Israel do Norte), o culto yahwista de Israel é considerado ilegítimo e idólatra no sentido original do termo. De acordo com testemunhos bíblicos, a veneração de Yhwh em Israel foi materializada sobretudo através de estátuas bovinas. Aqueles que defendem um aniconismo Yahwista primitivo só podem aduzir o argumento de que os touros em questão serviam apenas como um pedestal para uma divindade invisível[1], o que faria com que nos encontrássemos com uma petitio principii. De fato, representações de divindades assentadas em touros ou outros animais[2] são conhecidas. Mas não há um testemunho claro de estátuas de animais servindo de pedestal para um deus invisível.[3] O touro presente nos santuários do Norte representa, sem dúvida, Yhwh, o qual, como deus do trovão ou deus-chefe do panteão, é imaginado e concebido segundo o modelo de Baal ou de “El”, divindades que podiam ser representadas sob a forma de touro. No entanto, a polémica das imagens de Yhwh no reino de Judá (Sul) também se coloca.

 

1.     AS PEDRAS ERGUIDAS: VESTÍGIO DE UM CULTO SEM IMAGENS?

Estaremos, então, obrigados a imaginar um culto anicónico original no reino de Judá? Os proponentes desta ideia propõem a tese de um "aniconismo de facto", de que testemunharia o culto das massebas, umas pedras erguidas frequentemente mencionadas nos textos bíblicos («massebôt») e amplamente catalogadas no âmbito arqueológico[4].

As “pedras em pé” estão bem atestadas no segundo milénio na Síria, especialmente em Mari, e podem ter diferentes funções. De acordo com os textos bíblicos, é possível distinguir pelo menos quatro finalidades. Em primeiro lugar, elas têm uma função funerária ligada ao culto dos mortos: de acordo com o Livro do Génesis (35,19-30), o patriarca Jacó ergue uma estela sobre o túmulo de sua esposa Raquel; no segundo livro de Samuel (18,18), Absalão, filho de Davi que não tem filhos, manda erguer uma para que o seu nome possa ser comemorado. As massebas também são usadas para comemorar um evento: no Livro do Êxodo (24,4), Moisés ergue doze estelas para representar as doze tribos, que se comprometeram na aliança estabelecida entre Yhwh e Israel no Monte Sinai. Da mesma forma, no capítulo 4 do livro de Josué, este manda erguer doze “pedras levantadas” no meio do Jordão para comemorar a passagem do rio pelas doze tribos. Em terceiro lugar, encontramos massebas no contexto da ratificação de um contrato: no livro do Génesis (31,43-45), uma “pedra ereta” testemunha o tratado entre Jacó e Labão e as fronteiras dos seus respetivos territórios. Mas o mais importante para a nossa investigação é a sua função última, a que se refere a um culto divino. Essa função está bem ilustrada no capítulo 28 do livro do Génesis, que conta como o patriarca Jacó se tornou o fundador do santuário de Betel[5]. Ele marca este acto por meio de uma massebãh que ali ergue e sobre a qual a unge com óleo: «Jacó levantou-se de manhã cedo. Pegou a pedra que lhe servira de travesseiro, levantou-a como massebãh e derramou óleo no seu cimo. Ele chamou este lugar de Beth-El [...] Ele disse: “Esta pedra, que coloquei como estela, será casa de Deus” (bêt 'élõhîm)» (28:18-19a.22).

A palavra hebraica «bêt- ‘êl» («casa de “El” ou de Deus») deu lugar, através do grego, ao termo “bétilo”, que designa as pedras usadas em um contexto cultual. A questão da função e da simbologia destes bétilos recebeu respostas diferentes. Foram usados em cultos de fertilidade, como poderia sugerir a forma fálica da maioria deles?  Representavam uma espécie de morada (temporária) para um deus? Ou representavam a própria divindade? Com base nessa ideia, tem-se afirmado que o culto às estelas teria sido anicónico[6]. Este culto teria a sua origem em povos nómadas que não teriam venerado suas divindades protetoras com a ajuda de imagens antropomórficas ou teriomórficas, ao contrário dos sedentários no Próximo Oriente antigo. No entanto, estas teorias esbarram nas seguintes observações.

Já em Mari, no segundo milénio antes da nossa era, bétilos e estátuas de deuses estão lado-a-lado, o que mostra que não se podem considerar antagónicos ou excludentes o aniconismo e o iconismo. Em Mari, as estelas erectas são chamadas de “sikkanum” (um termo que talvez venha de uma raiz que significa “levantar”, o equivalente do hebraico «n-s-b», do qual a palavra "massêbãh" é derivada). Os assírios designam as estelas com o termo «salmu», a qual surge no hebraico («selem») para designar uma estátua.

O culto dos bétilos, será realmente anicónico? Há uma pedra em Mari erecta e esculpida de forma a representar as características femininas e o sexo de uma mulher[7]. Vestígios de pintura foram encontrados nas massebas do santuário de Arad (no Neguev), o que poderia indicar que elas foram pintadas para representar divindades que se adoravam ao mesmo tempo. Uma confirmação desta hipótese é fornecida por uma estela de Petra, na Jordânia, que representa a divindade Dushara ou uma deusa a ela associada[8].

Voltando ao âmbito bíblico, parece bastante claro que a “massêbah” é uma forma de representar o deus Yhwh, provavelmente sobretudo fora de Jerusalém. O exemplo mais óbvio é a escavação de Arad que acabamos de mencionar. Neste santuário havia duas estelas que provavelmente representavam “Yhwh e outra divindade”, a menos que uma das estelas tivesse sido trazida para ali - para o santuário - para substituir a outra.

Os lugares privilegiados do culto das estelas erectas são os “lugares altos”, os “bamôt”. No que diz respeito aos santuários ao ar livre, os autores dos textos bíblicos referem-se frequentemente a estelas e a madeiros ou “postes sagrados” (massebôt wa'ã-sêrîm). Uma vez que estes "bamôt" são santuários Yahwistas, é plausível que as massebas neles encontrados representassem de uma forma ou de outra o deus Yhwh. No entanto, isso não é de forma alguma uma indicação a favor de um culto anicónico de Yhwh, já que mais tarde, quando a proibição da escultura de estátuas nasceu, as massebas também foram proibidas. Assim, no livro do Deuteronómio aparece o seguinte mandamento: «Não erguerás massebas; Yhwh seu Deus o odeia.» (Dt 16,22); e no Levítico são colocadas em paralelo expressões que designam esculturas e massebas: «Não fareis deuses falsos ('élílim), não erguereis esculturas (pesel) nem estelas (massêbah) y não colocareis no vosso país nenhuma pedra esculpida («'eben maikît») para vos prostrardes diante dela, porque eu sou Yhwh, teu Deus» (Levítico 26, 1). Nesta proibição, os termos «pesel» y «massêbãh» referem-se ao culto de Yhwh[9], e o mesmo deve ser verdade para a expressão, única, «'eben maskît» (um termo que poderá estar relacionado com os “sikkanum” de Mari anteriormente mencionados).

Neste texto, que provém do Código de Santidade e que foi escrito durante o século V a.e.c., a Estela é, de alguma forma, equivalente à Imagem, uma vez que os dois termos são usados em paralelo, como ocorre também num texto do livro de Miqueias: «Eliminarei do meio de ti as tuas esculturas («pêsîlekã») e estátuas («massêbôtêkã»)» (Miqueias 5,12).

Contudo, outros textos biblicamente mais recentes parecem ser mais tolerantes para com as estelas do que para com as estátuas. Por exemplo, num texto do livro de Isaías, escrito no final do período persa ou no início do período grego (entre os anos 350 e 300 a.e.c.), podemos ler a seguinte visão: "Naquele dia haverá um altar de (ou: para) Yhwh no centro do Egito e junto à fronteira uma estela («massebãh») de (ou:  para) Yhwh" (Isaías 19:19). Neste texto, a estela é, sem qualquer dúvida, interpretada como um altar possuindo, no entanto, agora apenas uma função de “memorial”, já que deixara de fazer sentido a função de “representação da divindade” (para cultuar). Seja como for, não há dúvidas que originalmente aquelas estelas que estavam associadas ao culto de Yhwh representavam e simbolizavam a sua presença[10].

 

 


Moeda (datada ca. 380 a.e.c.) que representa Yhwh.
À esquerda, onde se vê um personagem divino
sentado num trono com rodas, pode-se ler a inscrição «Yehud» (Judá) ou Yahô.
À direita, está a cabeça de um homem com um capacete coríntio,
talvez um sátrapa da Transeufratina.

 

2.      AS REPRESENTAÇÕES DE YHWH

Voltemos, atrás, às imagens que representam especificamente Yhwh. No reino de Judá (Sul), com efeito, existe um número importante de representações de divindades gravadas numa grande variedade de materiais, porém, nenhuma se identifica com Yhwh. Para já, esqueçamos, por momentos, as prováveis representações do casal Yhwh-Asherah, às quais voltaremos mais adiante e prestemos atenção às efigies dos timbres e das moedas que foram conotados com Yhwh.  Em 1906, Gustav Dalman disse ser de Yhwh a representação que encontrou num timbre hebreu pertencente a um tal Elishama’, filho de Gedalyahu[11]. Nele vemos uma divindade sentada num trono flanqueada por duas Árvores da Vida. Mais tarde foram encontrados outros timbres do mesmo tipo. Benjamin Sass, da Universidade de Tel-Aviv, insiste em que os timbres que datam do século VII a.e.c. poderiam representar Yhwh com características lunares, o que na época assíria não é nada de espantar[12]. A efígie poderia levar a pensar no deus “El”[13], contudo os nomes yahvistas das pessoas mencionadas nos timbres apontam para uma representação de Yhwh.

Uma moeda dos tempos persas (cf. figura imediatamente acima; moeda datada de cerca de 380 a.e.c.) representa uma divindade sentada numa roda alada. O facto de esta moeda vir de Judá defende uma identificação da divindade, nela representada, com Yhwh[14]. É bem possível, de fato, que estejamos lidando com uma imagem de Yhwh possuindo as características do “deus do céu”, ou seja, com convenções iconográficas provenientes tanto do Próximo Oriente quanto da Grécia[15]. Se esta interpretação for confirmada, isso significaria que nos tempos persas ainda havia alguns círculos que não tinham aceitado a proibição do judaísmo nascente quanto a representar Yhwh.

Em resumo, no território de Israel e de Judá existem representações de divindades entre as quais é possível que se encontre uma imagem de Yhwh; no entanto, na maioria dos casos, trata-se de imagens bastantes estereotipadas, que também foram apropriadas por outras divindades. Seja como for, a coletânea dos ‘textos bíblicos’ fornece indícios mais concludentes da existência de estátuas de Yhwh no reino de Judá (Reino do Sul).

 

3.      «NÃO FARÁS IMAGEM ESCULPIDA»

Evidentemente, nenhum texto bíblico nos diz que havia uma estátua de Yhwh no templo de Jerusalém ou em qualquer outro lugar do reino de Judá, ao contrário dos touros do reino de Israel, que são frequentemente criticados. Isto é explicado pela própria perspetiva de Judá e pela abordagem teológica dos editores e redactores bíblicos, que desejavam sugerir que o culto “legítimo” de Judá de Yhwh nunca envolveu representações desse deus. Num exame mais atento, no entanto, há uma série de indicações que tornam mais plausível que a proibição de representações de Yhwh foi uma inovação, e que havia uma estátua de Yhwh no templo em Jerusalém e em outros lugares. O primeiro indício diz respeito à própria proibição. Na verdade, porquê proibir algo que nunca foi praticado? A redação do Decálogo e do capítulo 4 do Deuteronómio é reveladora quanto a este ponto.

 

a.      Uma polémica contra os ídolos

A primeira parte do Decálogo - os Dez Mandamentos - que no Pentateuco existe em duas versões[16], pode ser interpretada como uma tentativa de expor os grandes princípios sobre os quais o judaísmo assentará o seu fundamento a partir da época persa. Enquanto que na investigação antiga o Decálogo era muitas vezes considerado um dos textos mais antigos da Bíblia Hebraica, investigações recentes insistem no facto de que os Dez Mandamentos, na sua forma actual, são melhor explicados como um resumo das diferentes coleções de leis do Pentateuco e, consequentemente, são o trabalho dos editores do período persa, preocupados em harmonizar as diferentes tradições jurídicas e definir os grandes princípios do judaísmo nascente. No entanto, é possível que alguns desses mandamentos sejam muito mais antigos e que tenham sofrido revisões e transformações no decorrer de sua transmissão. Os mandamentos encontrados no início do Decálogo, ao contrário dos encontrados na segunda parte, contêm justificações e explicações, o que significa que são ‘novidades teológicas’ que se tornam elementos característicos do judaísmo. Estas inovações dizem respeito: à exclusividade do culto Yahwista e à proibição de representações do divino; à teologia do nome de Yhwh, que levará à proibição de o pronunciar; o sábado, que se torna numa nova marca de identidade de um ‘judaísmo em dispersão’ (Diáspora); e a transformação da veneração do culto aos antepassados no mandamento de honrar os pais vivos. No que diz respeito à proibição de imagens, podemos ver que este mandamento não foi formulado de uma só vez, mas é o resultado da revisão de um texto mais antigo. Aqui está a versão do capítulo 20 do livro de Êxodo (v. 3-5):

3Não haverá para ti outros deuses na minha presença. 4Não farás para ti imagem esculpidapesel») nem representaçãotêmûnãh») alguma do que está em cima, nos céus, do que está em baixo, na terra, e do que está debaixo da terra, nas águas. 5Não te prostrarás diante dessas coisas e não as servirás, porque Eu, o SENHOR, teu Deus, sou um Deus zeloso, que castigo o pecado dos pais nos filhos até à terceira e à quarta geração, para aqueles que me odeiam.”

A necessidade de proibir as imagens esculpidas («pesel») e outras representações («têmûnãh»)[17], à partida, faz supor que elas existiam vulgarmente no seio dos habitantes de Judá. Essa imposição, ao que parece, ocorreu em duas ou três fases[18]. No texto do Decálogo, na sua formulação actual que é fruto do trabalho dos massoretas, a proibição das imagens parece expressar uma polémica geral contra os “ídolos”, tal como se encontra na segunda parte do livro de Isaías (cap. 40-55), que data do tempo persa (ex.: 40,18). Se virmos com atenção, podemos reconstruir uma forma antiga deste mandamento (veja a parte sublinhada do texto atrás, pertencente a Ex 20,5), que reflecte o desejo de proibir a colocação de estátuas de outras divindades no santuário de Yhwh, em frente a ele. Este desejo de excluir os outros deuses do templo de Yhwh corresponde sem dúvida à reforma religiosa do rei Josias no final do século VII, uma reforma que discutiremos em detalhes mais abaixo.

Na versão original dessa proibição, o versículo 3 do capítulo 20 de Êxodo (que corresponde a Deuteronómio 5,7) provavelmente tem como consequência directa a exortação a não se prostrar diante dessas divindades no versículo 5 (ou em Deuteronómio 5,9). O proibitivo «não farás «pesel» (primeira parte de Ex 20, 4 e Deuteronómio 5, 8; sublinhado e itálico do texto atrás) é talvez um primeiro aditamento, que aponta a partir desse momento para a proibição de fazer uma (nova) estátua de Yhwh. A extensão deste mandamento pela proibição geral de fazer qualquer imagem do que está no céu, na terra e no mar (texto em itálico - Ex 20,3) quiçá inicialmente significava que Yhwh não poderia ser representado de forma alguma. Mas como esta adição foi inserida antes de Ex 20,5 (Deuteronómio 5,9), ela foi rapidamente entendida como uma polémica contra as imagens de outras divindades. Portanto, na proibição de imagens prescrita pelo Decálogo podemos acompanhar uma evolução cujo “ponto de partida” é a vontade de retirar do templo de Yhwh as estátuas de outras divindades. Na época da escrita dos dois decálogos, essa exclusão foi radicalizada, e assim foi adicionada a proibição de representar Yhwh por imagens, uma proibição que foi finalmente lida como uma polémica contra todos os ídolos.

O capítulo 4 do Deuteronómio confirma essa hipótese. É um tratado sobre a proibição de imagens a partir da memória da revelação no Sinai apresentado como um discurso proferido por Moisés. Assim, o versículo 12 insiste no facto de que o povo não viu nenhuma forma ou figura de Yhwh durante a sua revelação: «Yhwh falou com vocês a partir do interior do fogo; uma voz falou, e vocês a ouviram, mas vocês não se aperceberam de nenhuma figura (têmûnãh), não havia nada para além da voz.» Com base nesta observação, o autor deste texto chega à conclusão de que os destinatários não devem fazer uma estátua de Yhwh: «15Cuidado, já que não vistes nenhuma forma (têmûnãh) no dia em que Yhwh vos falou no Horeb, do meio do fogo, 16anão aconteça corromperdes-vos fazendo uma imagem esculpida, uma qualquer forma de estátua («pesel têmûnat kol sãmel»)»[19]. Tudo leva a crer que só pode estar a referir-se a uma estátua de Yhwh. Uma vez que o povo não viu nenhuma forma de Yhwh, nenhuma estátua pode representar essa forma[20]. De acordo com este texto, o Exílio e a Deportação aconteceram precisamente porque o povo fez uma estátua divina para uso próprio:

25b «(…) se vos corromperdes, fabricando uma estátua, qualquer imagem[21] esculpida («pesel têmûnat kol»), fazendo o mal aos olhos de Yhwh, vosso Deus, provocando a sua ira, 26tomo hoje os céus e a terra como testemunhas contra vós de que não tardareis a desaparecer da terra, cuja posse ides tomar agora, ao passar o Jordão; os vossos dias não se prolongarão ali, mas sereis exterminados

Foi precisamente o que aconteceu: os israelitas tiveram de adorar outros deuses feitos por aqueles que os deportaram: «27 O SENHOR dispersar-vos-á entre os povos e ficareis reduzidos a poucos entre as nações, para onde o SENHOR vos conduzirá, 28se lá adorardes deuses, obra das mãos dos homens, deuses de madeira e de pedra, que não vêem, não ouvem, não comem, nem têm olfacto

Portanto, de acordo com esta releitura da história de Israel e Judá no capítulo 4 do Deuteronómio, a catástrofe da destruição de Jerusalém e do Exílio pelos babilónios no ano 587 ocorreu por causa de uma ou mais estátuas de Yhwh. Este documento, que data do início do período persa, constitui um argumento importante a favor da existência de uma estátua de Yhwh.

 

b.      A visão do profeta Isaías

O autor do capítulo 6 do livro atribuído ao profeta Isaías legitima a sua própria vocação servindo-se de um relato na primeira pessoa, no qual se narra uma visão de Yhwh no santuário:

«1 No ano da morte do rei Uzias, vi o Senhor sentado num trono alto e elevado; as franjas do seu manto enchiam o templo. 2 Os serafins estavam acima dele, cada um tinha seis asas; com duas asas cobriam o rosto, com duas asas cobriam os pés[22], com duas asas voavam. 3 E clamavam uns para os outros: «Santo, santo, santo é Yhwh Seba’ôt! Toda a terra está cheia da sua glória!» 4 E tremiam os gonzos das portas ao clamor da sua voz, e a Casa encheu-se de fumo. 5 Então disse: «Ai de mim, estou perdido, porque sou um homem de lábios impuros, que habita no meio de um povo de lábios impuros, e vejo (vi) com os meus olhos o Rei, Yhwh Seba’ôt!» (Isaías 6,1-5)

Esta cena foi por vezes interpretada como uma visão na qual o profeta foi arrebatado pelo espírito divino ao céu. Esta leitura de Isaías 6, que já se encontra no Targum (comentário sobre os textos bíblicos preparados pelos primeiros rabinos), certamente pretende evitar qualquer alusão a uma visão de Yhwh no templo, o que sugeriria uma representação da divindade. Talvez por esta razão os Massoretas substituíram o tetragrama Yhwh por "'adonay", "o Senhor" no versículo 1[23].


THE SUN GOD TABLET
“Tablet BM or ME 91000, published as BBSt XXXVI”, in «Wikipédia: Nabu-apla-iddina» [19-02-2024]

    O texto de Isaías 6 coloca claramente o profeta no templo de Jerusalém[24]. Tal é sugerido, em primeiro lugar, pelo uso dos termos «hahêkãl» (o “palácio”) e «habbayit» (a “Casa”), que são usados com frequência para designar o santuário. Além disso, a história pressupõe a tríplice divisão do templo de Jerusalém em "Santo dos Santos" (o trono), «sala central» e «entrada» (as soleiras das portas). Da mesma forma, a fumaça mencionada no versículo 4 só faz sentido no templo terrestre e não no céu, e o mesmo para o altar mencionado no versículo 6.

    No entanto, não há necessidade de estabelecer uma oposição entre a morada da divindade no céu e a sua morada na terra, uma vez que o santuário terreno se destina a unir o céu e a terra. Através do templo entra-se no reino do céu, uma conceção muito utilizada no antigo Oriente Próximo e em textos bíblicos, como o Salmo 11,4: “Yhwh está no seu templo sagrado; Yhwh tem o seu trono nos céus.” O templo terrestre é aqui colocado em paralelo com o local do trono celestial de Yhwh. Um exemplo iconográfico desta concepção é fornecido por uma tabuleta («The Sun God tablet») do tempo do rei babilónico Nabu-apla-iddin (885-850)[25]. Mostra o rei, acompanhado por dois sacerdotes, aproximando-se do deus sol Shamash em Sippar. O deus, que é muito maior do que os homens, está sentado em um trono cercado pelos símbolos do “exército celestial”, o sol, a lua e os planetas. A divindade está representada no seu palácio celestial, que está ligado ao templo terreno em que o rei se encontra; uma espécie de pedestal contendo um emblema do deus sol manifesta a sua presença no espaço onde o rei e os sacerdotes se encontram.

Imagine um cenário comparável para o capítulo 6 do livro de Isaías: o profeta vê a estátua de Yhwh dando-lhe acesso ao Yhwh celestial, que é tão imenso que a sua borla preenche o salão central do templo. A fumaça no versículo 4 evoca teofania[26], a manifestação de Yhwh, que, como sabemos, pode ser representada por uma fumaça vinda do altar. A exclamação do profeta: «Estou perdido, porque (...) os meus olhos viram o rei Yhwh Sébã'ôt», explica-se pelo facto de ele parecer ter tido acesso à estátua divina, um privilégio normalmente reservado a sacerdotes ou pessoas devidamente preparadas para essa função sagrada. Daí a necessidade de uma “santificação” [carvão em brasa para queimar o ‘pecado’…] do profeta, na continuação da história. A santidade de Yhwh, de facto, é tal que até mesmo os serafins devem ser velados. Estes são serpentes aladas de origem egípcia (o «uraeus» AQUI AQUI AQUI) e muito populares na Judeia durante a Idade do Ferro, como é atestado em selos que as representam. Na versão de Isaías, eles aparecem como seres híbridos que servem, tanto no Egito como no Próximo Oriente, para proteger os santuários. No texto de Isaías, eles são metade serpente e metade homem ao serviço de Yhwh, cujo trono não está aqui descrito na minúcia dos seus detalhes.

A nossa investigação antecedente, sobre a ideia de Yhwh sentado em um trono acima do “kérûbîm”, torna plausível a ideia de que se trata de um trono ladeado por querubins. O texto de Isaías 6 sugere que no "débîr" do templo em Jerusalém no "Santo dos Santos", a parte do templo onde o deus reside havia um trono com uma estátua de Yhwh, talvez à maneira de um “El” sentado em um trono e cercado por querubins e serafins.

 

c.       O trono de Yhwh

É de presumir uma situação igualmente comparável aquando da visão do profeta Miqueias[27] relatada no capítulo 22 do Primeiro Livro dos Reis. Este profeta, que anuncia aos reis de Israel e Judá a derrota na batalha contra os arameus (que estão decididos a atacar), deve justificar este oráculo de infortúnio explicando a maneira como o recebeu de Yhwh. Narra, então, uma visão comparável à do profeta Isaías: «Vi Yhwh sentado no seu trono, e todo o exército estava com ele, à sua direita e à sua esquerda» (v. 19). Tendo em conta os inúmeros paralelos literários, não é impossível que o autor desta visão se tenha inspirado directamente no capítulo 6 de Isaías ou eventualmente a tenha retomado de uma tradição jerusaleminita[28].

A visão do profeta Amós, narrada no capítulo 9 do seu livro, evoca o Senhor («’adonay») «colocado» («nissah») no ou junto ao altar: «Vi o Senhor de pé, sobre o altar. Ele disse-me: «Bate no capitel e tremerão os umbrais. Fá-los cair sobre a cabeça de todos; os que restarem hei-de matá-los à espada.» (v. 1) Será isto uma reminiscência de uma estátua de Yhwh, erguida à maneira de um Baal do trovão no santuário de Betel, e cujo carácter bélico é sublinhado pela menção da espada? Este ponto de vista é demasiado impreciso para ser certo. Nos livros proféticos das eras babilónica e persa, as visões diretas de Yhwh desaparecem gradualmente[29]. O profeta Ezequiel vê apenas o trono em movimento carregado por seres híbridos, e só pode “adivinhar” a face de Yhwh através do fogo e das nuvens (Ezequias 1)[30]:

«15Eu via os seres viventes e notava que havia uma roda na terra, ao lado de cada um dos quatro seres viventes. 16As rodas davam a impressão de ter o brilho de crisólitos; todas tinham o mesmo aspecto e pareciam trabalhadas, como se estivessem imbrincadas umas nas outras. […] 19E quando os seres viventes caminhavam, as rodas seguiam ao seu lado; quando os seres viventes se erguiam da terra, também as rodas se erguiam. 20Elas dirigiam-se para onde o espírito as impelia; e erguiam-se igualmente da terra, porque o espírito dos seres viventes se encontrava nas rodas. […] (O trono:) 22Havia uma espécie de firmamento, algo semelhante a uma abóbada brilhante como um cristal resplandecente sobre a cabeça dos seres viventes; e a abóbada estendia-se sobre as cabeças. 23As asas, voltadas umas para as outras, estendiam-se sob a abóbada; cada um tinha duas que lhe cobriam o corpo. Eu escutava o ruído das asas como o barulho das grandes torrentes, como a voz do Omnipotente, quando eles avançavam, ou como o ruído do campo de batalha; quando paravam, as asas baixavam. 25E, por cima da abóbada, que ficava sobre as suas cabeças, fazia-se um grande ruído; quando paravam, as asas baixavam. (A glória de Deus:) 26Pela parte de cima do firmamento, que ficava sobre as suas cabeças, estava uma coisa semelhante a pedra de safira, em forma de trono, e sobre esta espécie de trono, no alto, pela parte de cima, um ser com aspecto humano. 27E verifiquei que, do que parecia ser da cintura para cima, tinha como que um brilho vermelho, algo como fogo, à sua volta; e da cintura para baixo, vi como que fogo, espalhando um clarão à sua volta. 28O esplendor à sua volta parecia o arco-íris que aparece nas nuvens nos dias de chuva. Era algo que tinha o aspecto da glória de Yhwh («marê’eh dêmût kêbôd-yhwh»). Contemplei e prostrei-me com o rosto por terra. E ouvi uma voz que falava.»

Esta visão inspira-se na iconografia assírio-babilónica e persa, onde com frequência surge uma figura divina sobre um trono móvel, carregado por seres híbridos. O autor do capítulo 1 do livro de Ezequiel retoma esse motivo e sugere que o profeta viu Yhwh de uma maneira confusa, enquanto descreve a cena de tal forma que os destinatários do relato possam entender como o profeta “viu” Yhwh. É um Yhwh sentado num trono; a mobilidade do trono alude ao facto de que, de acordo com o livro de Ezequiel, Yhwh, após a captura de Jerusalém, ter deixado a cidade para acompanhar os exilados na Babilónia.

 

d.      A substituição da estátua pelo candelabro

As visões do profeta Zacarias [4,1-10], escritas durante o período persa, não mencionam mais Yhwh, mas colocam no centro uma “menorá”, um candelabro de sete braços[31]:

«Zacarias 4: Quinta visão: o candelabro de ouro e as oliveiras (Ap 11,1-14) - 1O anjo que falava comigo voltou a despertar-me como a um homem que é tirado do seu sono. 2E disse-me: «Que vês tu?» Eu respondi: «Vejo um candelabro de ouro. No alto tem um reservatório, e sete lâmpadas em cima com sete bicos para as lâmpadas. 3Junto dele há duas oliveiras, uma à sua direita e outra à sua esquerda.» 4Então eu perguntei ao anjo que falava comigo: «Que significam estas coisas, meu senhor?» 5O anjo que me falava respondeu: «Não sabes o que significam estas coisas?» E eu respondi: «Não, meu Senhor.» 6aEntão ele respondeu-me nestes termos: 7b«Estas sete lâmpadas são os olhos do SENHOR que percorrem toda a Terra.» 8Perguntei-lhe ainda: «Que significam estas duas oliveiras, à direita e à esquerda do candelabro?» 9E perguntei de novo: «Que significam estes dois ramos de oliveira que deixam correr o azeite por dois tubos de ouro?» Ele respondeu-me: «Não sabes o que significam estas coisas?» Eu disse: «Não, meu senhor.» 10Ele disse: «São os dois ungidos que assistem o Senhor de toda a terra.» («'àdôn kol-ha-'ares»).»

Com base na investigação de Herbert Niehr, podemos concluir que o candelabro substituiu a estátua de Yhwh no templo reconstruído[32]. Esta função aparece especialmente no versículo 14, onde o anjo explica que os dois “messias” simbolizados por duas oliveiras estão diante do “Senhor de toda a terra”»[33]. Se neste capítulo do livro de Zacarias nos deparamos com uma substituição, a teoria de que nas primeiras visões se alude a uma estátua de Yhwh fica assim mais reforçada.

 

e.      O rosto de Yhwh

Mais de oitenta versículos do Pentateuco mencionam o rosto de Yhwh ou de Deus. Em numerosos textos encontramos queixas pois Yhwh «esconde o seu rosto» ou petições a ele dirigidas para que não oculte o seu rosto[34]. Num sentido inverso, existem orações ou informações sobre o cumprimento de certas petições, nas quais se refere que o rosto de Yhwh brilha ou resplandece[35].

Esta expressão já a encontrámos na correspondência real de Ugarit com o significado de que o rei está disposto a conceder uma audiência ou favor[36]. Há Salmos, e outros textos, que expressam as mesmas ideias. Neles e nelas se encontram com muita frequência uma metáfora que reflecte “influências solares” na veneração a Yhwh em Jerusalém[37]. Talvez mereça a pena insistirmos um pouco mais nas conotações cultuais[38] desta expressão e procurar entender este sintagma de uma forma muito concreta, ou seja, como a possibilidade de aceder a Yhwh, o que quer dizer aceder à sua estátua. A mesma ideia poderá estar subjacente naqueles salmos que evocam os que «procuram» o rosto de Yhwh[39]. No entanto, os salmos que melhor reflectem a suposição da existência de uma representação de Yhwh no Templo são aqueles salmos que mencionam a visão do rosto de Yhwh. No Próximo Oriente antigo, a expressão «ver o rosto do rei» significava ser admitido junto do rei. No âmbito cultual, a expressão «ver o rosto de Deus» refere-se à entrada no santuário onde se encontrava a estátua divina[40]. Portanto, na Bíblia hebraica esta expressão significaria o mesmo. A expressão «ver o rosto de Deus» não proliferou significativamente apenas na Mesopotâmia; está igualmente demonstrada no Egipto, sobretudo no ritual da revelação do rosto de deus, durante o qual os oficiantes expõem a estátua: «No plano cultual, ‘ver a Deus’ significa, na maioria das vezes, que se vê, ou deseja ver, a estátua de Deus, por exemplo aquando de uma procissão»[41].



    Os paralelos mesopotâmicos e egípcios tornam credível a ideia segundo a qual a expressão «ver o rosto de Yhwh» nos Salmos significava originalmente ‘contemplar a estátua de Yhwh’. Isto não quer dizer que todos os salmos que mencionam o rosto de Yhwh tenham sido compostos com base nesta perspectiva, como é o caso sobretudo dos salmos escritos nos séculos V e II a.e.c., que utilizam a expressão num sentido simbólico. No entanto, alguns salmos são melhor compreendidos num contexto da existência de uma estátua de Yhwh. No Salmo 17, um lamento individual, descreve um processo que vai de uma queixa durante a noite (v. 3: «Perscruta o meu coração, mesmo durante a noite, submete-me à prova de fogo e não encontrarás em mim iniquidade») à satisfacção ao despertar pela manhã (v. 15: «Eu, porém, pela justiça, contemplarei a tua face e, ao despertar, serei saciado com a tua imagem [«temunah»]»). Neste salmo, para designar a imagem temos a expressão «temunah» que aparece justamente no Decálogo por ocasião da proibição das representações do divino, o mesmo acontecendo no capítulo 4 do Deuteronómio (v. 16.23.25). Deste modo, a epifania de que se fala no versículo 15 do Salmo 17 acaba por se concretizar com a visão, pela manhã, da estátua de Yhwh. A mesma ideia reaparece nos versículos 2 e 3 do Salmo 63, os quais falam também de uma visão matinal: «Ó Deus, Tu és o meu Deus! Anseio por ti! A minha alma tem sede de ti; todo o meu ser anela por ti, como terra árida, exausta e sem água. Com esse fim, te vi no santuário, para contemplar a tua força e a tua glória.» Estes versículos também são uma celebração do privilégio de ter podido aceder à estátua divina. Do mesmo modo, o texto consonante do versículo 3 do Salmo 42 é facilmente traduzido assim: «Quando poderei vir e contemplar a face de Deus[42]?» Poderíamos também acrescentar aqueles textos que evocam acções de louvor diante do «rosto de Yhwh»[43]. O versículo 18 do Salmo 61 fala do rei que está «sempre» sentado diante do rosto de Deus. Este versículo exprime a relação privilegiada do rei com o seu deus tutelar simbolizada pelo seu acesso ao “Santo dos santos”.

    A tese segundo a qual o termo «panîm», «rosto», se refere em certos casos a uma estátua de Yhwh, é reforçada também pela expressão «lehem panîm» (literalmente «pão do rosto»), a qual não está presente nos Salmos, mas apenas nas regras referentes à organização do santuário[44]. Na sua origem, é provável que seriam uns quantos pães depositados diante da estátua divina que tinham como função servir-lhe de alimento[45].

    Voltando brevemente aos Salmos, pode-se notar também que alguns textos parecem refletir a procissão de uma estátua de Yhwh. No Próximo Oriente e no Egito há numerosos testemunhos de procissões de estátuas divinas durante alguns festivais ou em outras ocasiões[46]. O Salmo 24 é melhor entendido no contexto da procissão de uma estátua de culto: a ordem dirigida às portas para que se abram e deixem entrar o rei da glória, “Yhwh Sébã'ôt” (vv. 7-10[47]), reflete o regresso do deus ao seu santuário após uma procissão:

«7Ó portas, levantai os vossos umbrais! Alteai-vos, pórticos eternos, que vai entrar o rei glorioso. 8Quem é esse rei glorioso? É Yhwh poderoso e herói, Yhwh, herói na guerra. 9Ó portas, levantai os vossos umbrais! Alteai-vos, pórticos antigos, que vai entrar o rei glorioso. 10Quem é Ele, esse rei glorioso? “Yhwh Sébã'ôt” é o rei da glória.»

    O Salmo 68 evoca sem dúvida um acontecimento semelhante: «Vimos as vossas procissões, ó Deus, as procissões do meu deus, do meu rei (entrando) no santuário; à frente os cantores, os músicos no fim, no meio as raparigas a tocar tambor» (v. 25-26). Estes dois textos acrescentam um argumento que sugere a existência de uma estátua (ou várias estátuas) de Yhwh no reino de Judá durante o tempo da monarquia.



    f. A destruição do templo e a saída de Yhwh

    É certo que nenhum texto bíblico menciona, quer a destruição, quer a trasladação de uma estátua de Yhwh após o saque do templo de Jerusalém por parte dos babilónios no ano de 587. Não obstante, tal facto não pode constituir prova contra a existência de uma estátua divina já que os redactores, à época, retroprojetavam as suas ideias religiosas sobre as origens e, sendo assim, reconstruíam e reescreviam a história de Israel e de Judá em função dessas ideias. A partir da sua perspectiva – falamos do ponto de vista do Sul: Judá – eles flagelam o culto do Norte (por exemplo, no livro de Oseias anuncia-se a destruição do touro da Samaria), mas são muito discretos quanto ao culto yahvista no reino do Sul. No entanto, reparamos que, no final dos Livros dos Reis, se insiste muito nos «utensílios (kêlê) do templo» ao serviço do culto levados para a Babilónia (2 Reis 25,14-15).

    Por mera especulação, seríamos levados a pensar que esta expressão tão genérica («utensílios [kêlê] do templo») abarcaria igualmente uma ou várias estátuas cultuais, tanto mais que o texto de Isaías 52,11 descreve o regresso à Terra Prometida, por parte dos que regressam da Babilónia, carregando os «kele yhwh»: «Parti, parti, saí da Babilónia! Fugi para longe dela! Não toqueis em nada impuro! Saí dela! Purificai-vos, vós que levais os utensílios de Yhwh («kele yhwh»)!».

    Outro indício a favor da trasladação da estátua encontra-se no tópico da partida da glória de Yhwh do templo e da cidade de Jerusalém, cujo cenário é descrito no livro de Ezequiel: «A glória de Yhwh saiu do umbral do templo e colocou-se sobre os querubins. Os querubins estenderam as asas e elevaram-se da terra, à minha vista, quando saíram, e as rodas juntamente com eles.» (Ezequiel 10,18-19[48]). Esta visão retoma o tema da divindade em pé sobre um querubim. Com efeito, o versículo 4 fala de apenas um querubim («A glória de Yhwh ergueu-se acima do «kerub» sobre a entrada da Casa)[49], ao passo que o versículo 18 fala de querubins no plural e provavelmente evoca o trono flanqueado por querubins sobre o qual se senta a divindade. É impossível dedicar-nos, agora, à difícil questão da composição do capítulo 10 do livro de Ezequiel, o qual não provém de um autor apenas, e será fruto de várias mãos[50]. Por agora, basta referir que os temas iconográficos mencionados estão tradicionalmente ligados a uma estátua da divindade que se encontra em cima de querubins. A estátua, no livro de Ezequiel e em outras passagens da Bíblia hebraica, foi substituída pelo «kabod», a glória de Yhwh. Contudo, o texto ainda conserva traços que provavelmente nos conduzem à pista de uma estátua de Yhwh «deportada» pelos babilónios.



    g. Regresso ou desaparecimento da estátua de Yhwh na época persa?

    O judaísmo, tal como se irá constituir durante a segunda metade da época persa, falará da proibição de imagens como sendo um sinal distintivo, o qual, mais tarde, irá suscitar o desprezo de gregos e de romanos. No entanto, tal proibição não se impôs logo de imediato em todos os ambientes do judaísmo. A moeda datada do ano 380 a.e.c. (cf. ilustração mais atrás), a qual provavelmente contém uma efigie de Yhwh, atesta que no século IV a.e.c. era possível representar Yhwh.

    Para além disto, existem textos proféticos que parecem expressar a esperança no regresso da imagem de Yhwh[51], à semelhança de alguns textos assírios, persas e ptolemaicos que descrevem o retorno de estátuas de culto “deportadas” aos seus locais de origem. Em Jr 31,21, o texto consonantal do oráculo divino deve ser lido da seguinte forma: «Cuidai do caminho, do caminho por onde eu irei»[52]. No contexto da tradição do Próximo Oriente quanto ao retorno das estátuas de culto, este versículo pode evocar o regresso de Yhwh (sob a forma de uma representação) conjuntamente com os exilados, como alguns versículos de Deuteroisaías o dão a entender: «Com os seus próprios olhos, eles veem Yhwh regressar a Sião» (Is 52:8)[53]. É claro que esses textos podem simplesmente expressar o desejo de que Yhwh esteja presente novamente na Judeia, mas não é de excluir que tenha havido algum apelo para tornar essa presença novamente visível com a ajuda de uma imagem. De acordo com Christoph Uehlinger, a oportunidade de erguer uma nova estátua de Yhwh ainda estava sendo debatida nos tempos persas[54]. A elite intelectual do judaísmo nascente optou, no entanto, por um aniconismo radical. A origem da renúncia a uma estátua pode ser encontrada na ideia de que, após a destruição do templo, não se sabia mais como representar Yhwh. Podemos comparar esta situação com a evocada por uma tábua do rei babilónico Nabu-apla-iddin. Ele narra que uma vez o templo de Shamash tinha sido destruído pelos Suteos (=Sutis), uma tribo conhecida a partir dos textos de Mari [“Sutis, Suteos ou Suteanos. Os Sutis eram um povo nómada do norte e leste da Babilónia. Presumivelmente é um nome coletivo, que provavelmente, mais tarde, se tornou um verdadeiro etnónimo. Um antigo texto babilónico menciona a terra dos Suti («Su-ti-um»). Os assírios estão em constante conflito com os Suti desde o reinado de Arik-den-ili. Eles são mencionados juntamente com o Ahlamu e o Iauri. Os Sutis também são mencionados em uma carta de Amarna do rei assírio Asshur-uballit I, segundo a qual capturaram os embaixadores egípcios e comprometeram a segurança do tráfego entre a Assíria e a Síria. Eles são conhecidos como nómadas do deserto; provavelmente eram os habitantes das estepes no norte de Jesireh. As Cartas de Amarna relatam os suteanos nos ministérios egípcios.”]:

"Os altos-relevos tinham sido destruídos [...], a sua forma e as suas representações tinham desaparecido; ninguém os viu. Simbar-shipak, rei da Babilónia, perguntou sobre a sua forma, mas não viu o seu rosto, porque não conseguiu encontrar a sua imagem ("salam") ou as suas representações. Portanto, ele pôs um disco de sol brilhando diante de Shamash[55]."

    Ao contrário deste exemplo assírio, em Judá já não existia rei e, por conseguinte, esta situação fez com que se renunciasse a uma estátua de Yhwh. Tal rotura com a era monárquica é sublinhada neste texto, que fala da Arca perdida: «Eles não dirão mais: “Arca da aliança de Yhwh”. Não chegará mais ao coração, não será mais lembrado, não será mais cuidado; não será mais refeito. Nesse tempo, chamarão à cidade de Jerusalém de trono de Yhwh, e todos os povos convergirão para ela...» (Jeremias 3,16-17). Este oráculo substitui a Arca (enquanto trono de Yhwh[56]) pela cidade de Jerusalém, cidade que se torna a «sede» do deus de Israel, o centro do mundo.

    Antes da proibição das imagens ser imposta, outros substitutos para a estátua de Yhwh foram encontrados, como foi o caso da “Glória” de Yhwh e do Candelabro. Mas, tal como veremos em breve, a substituição pelo pergaminho da Torá foi a mais importante, pois, ao registar por escrito a relação entre Yhwh e Israel, tornou “visível” a palavra do deus, que doravante seria invisível[57].



Thomas Römer, «La invención de Dios», Sígueme 2022, p. 163-184.



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[1] R. S. Hendel, «Aniconism and anthropomorphism in ancient Israel», in K. van der Toorn (dir.), «The Image and the Book. Iconic Cults, Aniconism, and the Rise of the Book Religion in Israel and the Ancient Near East», Louvain 1997, 216-219; A. Lemaire, «Naissance du monothéisme. Point de vue d’un historien», Paris 2003, 86-87.

[2] Cf. também supra [p. 120 página da edição da Sígueme] o desenho, proveniente do norte da Síria, representando um deus do trovão sobre um touro.

[3] S. Schroer, «In Israel gabe es Bilder. Nachrichten von darstellender Kunst im Alten Testament», Fribourg-Göttingen, 101, n. 147.

[4] T. N. D. Mettinger, «No Graven Image? Israelite Aniconism in its Ancient Near Eastern Context», Stockholm 1992; também «Israelite aniconismo: developments and origins», in K. van der Toorn (dir.), The Image and the Book, 173-204.

[5] O mesmo acontecimento é recordado em Génesis 35,13.

[6] Por exemplo, Mettinger em trabalhos publicados e já referidos nas páginas anteriores.

[7] Cf. J.-C. Margueron, «Mari, métropole de l’Euphrate au troisième et au début du deuxième millénaire av. J.-C.», Paris 2004, 56, prancha 36.

[8] Para observar uma representação, pode consultar-se:

https://es.wikipedia.org/wiki/religión_nabatea (última consulta: 30.9.2022).

[9] J. Milgrom, «Leviticus 23-27», New York 2001, 2280-2282.

[10] Aconteceu o mesmo com outros deuses, tal como comprovam 2 Reis 3,2 e 2 Reis 10,26-27 que mencionam uma estela de Baal.

[11] G. Dalman, «Ein neugefundenes Jahwebild»: Palästina Jahrbuch 2 (1906) 44-50.

[12] B. Sass, «The pre-exilic Hebrew seals: iconism vs aniconism», 232-234.

[14] D. V. Edelman, «Tracking observance of aniconic tradition through numismatics», in Id. (dir.), «The Triumph of Elohim. From Yhavisms to Judaisms», Kampen-Grand rapids 1995, 185-225, sobretudo 187-196. Cf. Yaʻaḳo Meshorer, «Ancient Jewish Coinage» (2 vol.), Dix Hills, NY 1982, § 1.25.

[15] E. Blum, «Der ‘Schiqquz Schomen’ und die Jehud-Dracme BMC Palestine S. 181, Nr. 29»: Biblische Notizen 90 (1997) 23-24.

[17] Esta rara palavra «têmûnãh»), que se encontra em aposição na versão do Deuteronómio (5,8) e em conjunção no Êxodo (20,4), não surge no Pentateuco a não ser nos textos tardios de Números 12,8 e Deuteronómio 4 (v. 1.15.16.23.25). Fora do Pentateuco só está identificada em Salmo 17,15 e no livro de Jó 4,16.

[18] Cf. F. García Lopez, «Le Décalogue», Paris 1992, 31-32 [em português: «O Decálogo», Cadernos Bíblicos N.58, Difusora Bíblica, Franciscanos]; C. Uehlinger, «Bilderverbot», in “Die Religion in Geschichte und Gegenwart I” (41998), col. 1574-1577, sobretudo 1574-1575; mas também «Exodus, Stierbild und biblisches Kultverbot. Religionsgeschichtliche Voraussetzungen eines biblischtheologischen Spezifikums», in R. Kessler – A. Ruwe (dirs.) «Freheit und Recht. Festschrift für Frank Crüsemann zum 65. Geburtstag», Güterloh 2003, 42-77, sobretudo 69-71; H. Niehr, «Götterbilder und Bilderverbot», in M. Oeming – K. Schmid (dirs.), “Der eine Gott und die Götter. Polytheismus und Monotheismus im antiken Israel”, Zurich 2003, 227-247.

[19] Segue-se (v. 16b-18) um acrescento, o qual, tal como no Decálogo (na segunda parte de Êxodo 20,4), pretende transformar a interdição do v. 16 numa proibição geral de qualquer tipo de representação: «16ba imagem de um homem ou de uma mulher, 17a imagem de qualquer animal da terra ou de qualquer ave que voe no céu, 18a imagem de qualquer bicho que se arraste pelo solo ou de qualquer peixe que viva nas águas que estão abaixo da terra». Cf. Dietrich Knapp, «Deuteronomium 4. Literarische Analyse und theologische Interpretation», Göttingen 1987, 36-37; M. Köckert, «Vom…

[20] Já agora, diga-se que o comentário de Números 12,6-8 diz que Moisés foi o único que viu a «têmûnãh» («forma») de Yhwh de modo a poder diferenciá-lo de profetas e de todos os restantes seres humanos.

[21] A expressão «qualquer imagem» significa a proibição de todo o tipo de representação, o que inclui massebas, hastes, etc. Trata-se, pois, de qualquer tipo de representação simbólica de Yhwh dentro do santuário. Cf. M. Köckert, «Vom Kultbild Jahwes zum Bilderverbot» [=“Da imagem de culto a Yhwh à proibição das imagens»], 389.

[22] Eufemismo para designar as partes genitais.

[23] A versão original "Yhwh" é atestada em vários manuscritos, cf. H. Wildberg, "Jesaja 1-12", Neu kirchen-Vluyn 1972, 231.

[24] Cf. O. Keel, «Jahwe-Visionen und Siegelkunst. Eine neue Deutung der Majestätsschilderungen in Jes 6, Ez 1 und Sach 4», Sttutgart 1977, 46-52.

[26] Para uma teofania comparável, cf. Êxodo 19:18  e 20:18.

[27] Não confundir com o que deu nome ao livro de Miqueias. No relato do Primeiro Livro dos Reis, o profeta é chamado «filho de Yimlá».

[28] Miqueias é um profeta do Norte, porém os livros dos Reis foram redigidos por escribas de Judá (Sul). Como Miqueias pretende que a palavra a anunciar seja considerada de Yhwh e «verdadeira», ela deve ser legitimada por uma visão «ortodoxa» e não pelo culto a Yhwh no Norte, que os escribas deuteronomistas consideram ilegítimo.

[29] O núcleo do livro de Amós provavelmente remonta ao século VII a.e.c.. O livro contém material mais antigo do que os livros dos profetas das épocas babilónica e persa.

[30] Sobre esta visão, cf. C. Uehlinger – S. Truffaut, «Ezekiel I, Babylonian cosmological scholarship and iconography: attemps at futher refinement: Theologische Zeitschrift (2001) 140-171.

[31] F. Smyth-Florentin, «L’espace d’un chalendrier: Zacharie 1, 8-6,15», in O. Abel – F. Smith-Florentin (dirs.), “Le Livre de traverse. De l’exégèse biblique à l’anthropologie”, Paris 1992, 281-289.

[32] H. Niehr, «In search of YHWH’cult statue in the First Temple», in K. van der Toorn (dir.), “The Image and the Book”, 90.

[33] Cf. também o versículo 10, no qual as duas lamparinas do candelabro representam os olhos de Yhwh.

[34] Salmo 10,11; 13,2; 22,25; 27,9; 30,8; 31,21; 44,25; 69,18; 88,15; 102,3; 104,29; 143,7.

[35] Salmo 4,7; 31,17; 44,4; 67,2; 84,4.8 e 20; 89,16; 119,135.

[36] KTU 2.13 e 2.16.

[37] Cf. F.-L. Hossfeld – E. Zenger, «Psalmen 51-100», Freiburg-Basel-Wien 2000, 67, onde se comenta o Salmo 67,3.

[38] F.-L. Hossfeld – E. Zenger, «Die Psalm 1-50», Wüzburg 1993, 198.

[39] Salmo 24,6; 27,8; 105,5.

40 F. Nötscher, «Das Angesicht Gottes schauen» nach biblischer und babylonischer Auffassung», Darmstadt 1969 [1924]. Curiosamente, Nötscher emite o parecer de que nos Salmos não se alude a uma estátua, já que a presença de Yhwh é apenas uma presença invisível (p. 89).

[41] Y. Volokhine, «Le Visage dans la pensée et la religion de l’Égipte ancienne», Genève 2000, 536.

[42] F.-L. Hossfeld – E. Zenger, «Die Psalm 1-50», 267-268, e alguns manuscritos hebraicos. Os massoretas vocalizaram o verbo «ver» no modo verbal hebraico que está na forma passiva («quando poderei ser visto pelo rosto de Deus?») o que não faz sentido, ao mesmo tempo que as traduções gregas e siríacas o suprimiram. Estas manobras mostram que a alusão a uma estátua era demasiado evidente.

[43] Salmo 16,11; 68,4; 95,2; 98,6.

[44] Êxodo 25,30; 35,13; 39,36; 40,23; 1 Samuel 29,8; 1 Reis 7,48 (par. 2 Crónicas 4,19); Jeremias 52,33.

[46] E. Matushima, «Divine statues in Ancient Mesopotamia: their fashioning and clothing and interaction with the society», in Id.  (dir.), “Official Cult and Popular Religion in the Ancient Near East», Heidelberg 1993, 209-219; A. Berlejung, «Die Theologie der Bilder: Herstellung und Einweihung von Kultbilden in Mesopotamien und die alttestamentliche Bilderpolemik», Fribourg-Göttingen 1998.

[47] Estes versículos formam o núcleo, a parte originária do Salmo. Cf. F.-L. Hossfeld – E. Zenger, «Die Psalm 1-50», 157.

[48] Cf. o versículo 4 («Então a glória de Yhwh elevou-se sobre os querubins, em direcção à entrada do templo; o templo ficou cheio com a nuvem e o átrio repleto do esplendor da glória de Yhwh»); e também 11,22-24.

[49] A versão grega escreve no plural; trata-se, provavelmente, de uma tentativa de harmonização do texto.

[50] Uma das hipóteses é a de K.-F. Pohlmann, «Das Buch des Propheten Hesekiel (Ezechiel), Kapitel 1-19», Göttingen 1996, 149-156.

[51] B. Becking, «Between Fear and Freedom. Essays on the Interpretation of Jeremiah XXX-XXXI», Leyde 2004; ld., «The return of the deity from exile: iconic or aniconic», in Y. Amit et al., «Essays in «Ancient Israel in its Near Eastern Context: A Tribute to Nadav Na'aman», Winona Lake 2006, 53-62.

[52] A vocalização massorética (o “qêrê”) aplica o verbo a Israel, que neste poema é comparado a uma mulher. Apesar de esta forma possuir algum sentido, podemos, no entanto, estar perante uma ‘correção (emenda) dogmática’!

[53] Cf. também Is 45,2; Is 52,12, etc.

[54] Christoph Uehlinger, «Exodus, Stierbild und biblisches Kultverbot», 70-71.

[55] Traduzido por A. Berlejung, "Die Theologie der Bilder", 141-145. Evidentemente, Nabu-apla-iddin recebe a revelação da estátua de Shamash e está em posição de executá-la.

[56] Em alguns textos bíblicos, a própria arca desempenhará a função de estátua de culto, por exemplo em 1 Samuel 4: "O povo enviou para Siló a arca da aliança do Senhor dos mundos, que fica sobre querubins".

[57] K. van der Toorn, «The Iconic Book. Analogies between the babylonien cult of images and the veneration of the Torah», in Id. (dir.), «The Image and the Book»; T. Podella, «Bild und Text. Mediale und historische Prespektiven auf das alttestamentliche Bilderverbot»: Scandinavian Journal of the Old Testament 15 (2001) 205-256.